Estratégias para manter a atenção das crianças nas aulas: especialistas falam
Manter a atenção nas aulas exige acolhimento, pausas e atividades dinâmicas. Um ambiente favorável e a parceria com famílias também são essenciais
Prender a atenção das crianças nas aulas é um fator crucial para o aprendizado, mas mantê-la vem sendo um desafio crescente para os educadores.
Com o aumento dos estímulos digitais e fatores externos, a necessidade de desenvolver estratégias pedagógicas que incentivem o foco e a concentração nas crianças se torna cada vez mais urgente.
Para compreender melhor essa questão e propor soluções eficazes, conversamos com Brígida Brito, psicóloga, e Malu Mesquita, orientadora educacional do Colégio Saber Viver, localizado no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife.
Fatores emocionais e a importância de um ambiente acolhedor
Brígida Brito, psicóloga do Colégio Saber Viver, destaca que o emocional das crianças desempenha um papel fundamental na capacidade de foco. “Os fatores emocionais estão diretamente ligados à expressão do comportamento da criança, principalmente na fase da infância, onde ela ainda está em aprendizagem sobre o controle dessas emoções. Portanto, às vezes a criança não consegue controlar um comportamento que acaba comprometendo o foco e a atenção durante a aprendizagem”, explica.
Além disso, ela salienta que as crianças estão compreendendo o mundo em sua volta de uma forma muito maior e mais profunda. Nesse sentido, é fundamental que o professor esteja atento aos sinais de estresse e ofereça momentos de acolhimento ou pausa quando necessário.
Malu Mesquita, orientadora educacional da instituição, complementa ao enfatizar a previsão sobre o que será aprendido e a criação de uma rotina clara são importantes para que as crianças se sintam mais engajadas e seguras.
Tecnologia e foco: o impacto das telas
O uso excessivo de dispositivos eletrônicos é outro fator que influencia negativamente a atenção das crianças. Brígida explica que a exposição prolongada às telas pode alterar a percepção de tempo e dificultar a transição para o ambiente controlado e mais lento da sala de aula.
"A criança ainda está se desenvolvendo, e a tecnologia traz um poder ilimitado de acesso e uma alta velocidade de estímulos. No entanto, a maneira como tudo acontece dentro de uma tela não é a mesma que acontece no mundo real. É muito difícil para ela fazer um desligamento daquele fluxo de movimento mais intenso e dinâmico para focar, sentar numa sala de aula, e entregar um tempo maior de foco", pontua a psicóloga.
Nesse contexto, Malu Mesquita sugere que a solução pode estar na diversificação dos ambientes e nas metodologias aplicadas em sala de aula. Ela recomenda a utilização de espaços diferenciados, como bibliotecas, laboratórios e áreas ao ar livre, para tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes.
Estratégias para manter a atenção
De acordo com a Malu Mesquita, alguns dos principais sinais que indicam falta de foco e atenção dos alunos incluem: irritabilidade demonstrada por falas fora do contexto, conversar, pedir para sair de sala mais de uma vez no decorrer da aula, produção de ruídos e risadas, demonstração de apatia e indisciplina.
Segundo a orientadora, o professor deve estar atento ao comportamento dos alunos, adaptando o ritmo da aula conforme necessário. “As crianças emitem sinais valiosos para o professor, que poderá escolher manter ou mudar o estímulo oferecido, dar pausas, proporcionar movimentar o corpo, trazer algo que as façam sorrir, trazendo leveza. É preciso criar um ambiente genuíno de aprendizagem e, consequentemente, de atividades pedagógicas para aplicação do conhecimento”, afirma Malu.
Estratégias envolvendo tecnologia e brincadeiras dinâmicas, de acordo com Brígida Brito, também podem ser utilizadas. “Hoje em dia os avanços tecnológicos exigem mais dinamismo e movimento, então deve-se investir em conteúdos mais curtos, alternando com outras atividades. A parte lúdica tem que ter um espaço muito importante porque a criança tem necessidade de entender a vida pelo campo do imaginário e da brincadeira”, afirma a psicóloga.
A importância da parceria com as famílias
Malu Mesquita também destaca a importância da parceria entre escola e família. “É fundamental que os pais conversem com suas crianças, validando os esforços da escola e promovendo o desenvolvimento da capacidade de concentração”, afirma.
Estímulos como jogos de tabuleiro, xadrez e quebra-cabeças podem ajudar a melhorar o foco e a concentração em casa. Para ela, a consistência nas orientações dadas pelos pais e professores é essencial para o progresso das crianças, e essa parceria deve ser construída com diálogo e apoio mútuo.
Brígida complementa que a família deve sempre proteger a criança de assuntos que não são pertinentes à infância na internet. Além disso, a psicóloga afirma que manter uma rotina de horários para a criança de estudo e tempo de lazer é estruturante para que ela entenda o quanto ela consegue e precisa entregar em cada momento, e fornece estabilidade emocional para o aprendizado.