Burnout gerado pela pressão por resultados tem crescido no ambiente escolar, alerta educadora

Considerada uma epidemia silenciosa, a síndrome de burnout afetou 63% da população global em 2023, conforme matéria da revista Forbes deste ano

Publicado em 22/11/2024 às 11:21 | Atualizado em 22/11/2024 às 14:15
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Cerca de um terço dos professores da educação básica é afetado pela síndrome de burnout. Entre os principais fatores que contribuem para o aumento do estresse na profissão, estão os baixos salários, a violência nas escolas e a pressão por resultados.

Esses dados fazem parte de um levantamento realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado em 2023, que abrangeu instituições de ensino públicas e privadas. A pesquisa, portanto, revela uma realidade alarmante que afeta diretamente a comunidade educacional.

Em paralelo, a escola também precisa estar atenta à promoção da saúde mental entre crianças e adolescentes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que uma em cada seis pessoas entre 10 e 19 anos sofre de algum problema de saúde mental, sendo a depressão uma das principais causas de doenças e incapacidade nesse grupo. A OMS ainda aponta que os transtornos mentais já são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões entre adolescentes.

A síndrome de burnout, que afetou 63% da população global em 2023, reflete uma questão profunda, que também impacta o ambiente escolar. 

“Vivemos hoje um cenário completamente diferente do que há 20 anos, com a pandemia impulsionando ainda mais essa realidade. Estamos em uma sociedade adoecida e nunca estivemos tão próximos desse drama. Ele está no vizinho, no amigo do vizinho, no trabalho de alguém conhecido, na escola de um amigo do seu filho. E isso também chegou às escolas, colocando à prova os sistemas educacionais que precisam urgentemente enfrentar esse desafio”, alertou a educadora Paula Carneiro Leão, sócia da Escola Vila Aprendiz, em Recife.

Uso excessivo de telas

Outro fator de risco crescente é o uso excessivo de telas, que tem sido identificado como um dos principais contribuintes para o esgotamento no ambiente escolar. Esse fenômeno afeta professores, gestores, funcionários e alunos, resultando em exaustão mental e física.

“Não podemos ignorar a responsabilidade das telas em nossas vidas. Hoje, vemos idosos sendo afetados pelo uso do celular tanto quanto as crianças. Esse público, embora fora do mercado de trabalho, também está sendo seriamente impactado pela internet e pelos celulares”, destacou Paula. “O volume massivo de informações e conteúdos que recebemos a todo momento provoca aceleração e gera uma enorme ansiedade”, advertiu a educadora.

No contexto escolar, essas demandas estão se intensificando, e é urgente olhar para as questões que afetam as pessoas em sua essência. É comum que pais e educadores se perguntem sobre o aumento das doenças emocionais na adolescência, sem compreender que a pressão por resultados — que funcionava nas gerações anteriores — pode ser ainda mais prejudicial à saúde mental dos estudantes de hoje.

 

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Paula Carneiro Leão, educadora e sócia da Escola Vila Aprendiz - Divulgação

Mudança cultural

Neste “novo” contexto, a escola precisa enfrentar o desafio de lidar com as demandas oriundas de uma mudança cultural significativa, que tem gerado questões reais e concretas, as quais explicam os índices alarmantes de burnout.

Esse entendimento precisa, com urgência, ser a base para a construção de ambientes que promovam positivamente a saúde mental de alunos e professores, garantindo segurança emocional para todos os membros que formam o ecossistema escolar.

É fundamental cuidar do sistema educacional para priorizar a saúde mental das pessoas, criando espaços de descompressão emocional e física. Para a educadora Paula Leão, as escolas devem adotar uma cultura que ajude a prevenir o crescimento do estresse emocional, reduzindo a pressão por resultados e focando no que realmente importa.

A cultura de pressão por resultados acaba refletindo na dinâmica das organizações para as quais os alunos seriam direcionados. De acordo com a sócia da Escola Vila Aprendiz, "a escola do século XXI precisa desconstruir essa cultura tóxica de contabilizar rankings de aprovação e passar a valorizar as habilidades dos alunos". Nesse sentido, o verdadeiro sucesso profissional não depende apenas de altos resultados em testes isolados.

 

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