Prazer, meu nome é Giraldi

Publicado em 20/09/2014 às 8:00
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Em 1997, o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo, à época considerada uma das mais violentas e a mais assassina do Brasil, desenvolveu um método cujo objetivo era preservar a integridade física do cidadão e garantir ao agente da lei técnicas seguras de abordagem para ambos os lados. Os procedimentos ganharam o nome de Treinamento Defensivo na Preservação da Vida. Ou apenas Método Giraldi, em referência a quem o definiu. As técnicas se mostraram, além de prudentes, eficientes. Cinco anos depois da concepção do modelo, elas foram adotadas pela PM paulista. Espalharam-se Brasil afora depois. “A polícia não tem inimigos. Quem tem inimigos é a sociedade. A polícia foi criada para protegê-la”, costuma repetir o coronel da reserva. Os dois soldados da PM pernambucana indiciados pela Polícia Civil e denunciados à Justiça, na ação que culminou na morte de um vendedor de carro, são tão jovens quanto a vítima, de 26 anos. Um dos policiais tem dois anos a mais apenas. Pela solidez da apuração que balizou o Ministério Público estadual, os policiais terão dificuldades em provar o contrário do que está dito no inquérito, sustentado por perícias e depoimento de duas testemunhas oculares. Os policiais denunciados estão complicados por um dos dois motivos: ou nunca ouviram falar do coronel Giraldi e seus ensinamentos ou desprezaram o que aprenderam no curso de formação ao qual foram submetidos. Caso contrário, teriam procedido com o mínimo de prudência e perícia. Atiraram primeiro, perguntaram depois. As quatro etapas “Tire o dedo do gatilho, bata o cão (peça da pistola que deflagra a espoleta), trave a arma e a coloque no coldre”, são essas as técnicas para o policial não disparar a arma por engano. A justificativa de tiro acidental é uma das mais recorrentes, segundo Giraldi. E a mea-culpa? Diante das provas, o mínimo que o Estado deveria fazer era admitir as falhas dos PMs capacitados e colocados nas ruas por ele e enviar à família de Adriano Ramos um pedido de desculpas. Já os parentes da vítima deveriam era processar o Estado pelo excesso fatal dos agentes. Inquérito desmonta farsa 2R130414427 Uma das evidências da investigação policial que apurou a morte de Adriano Ramos sugere que os PMs chegaram a atirar contra uma das viaturas, com o objetivo de simular uma troca de tiros e, assim, descredenciar a vítima e ter um álibi para o desfecho trágico e vergonhoso da ação. Os soldados revistaram o Gol dirigido pelo jovem e, como não encontraram arma ou qualquer outro objeto suspeito ou ilícito, a farsa começou a ser desmontada. Pela forma como o inquérito foi redigido, percebe-se que o delegado Ivaldo Pereira não se deixou levar ou foi induzido pelo teatro dissimulado dos denunciados. Como se diz no jargão policial: a casa caiu! A proliferação de besteiras na internet... ...saltou aos olhos no caso do assassinato de Adriano Ramos. Alguns comentários postados nivelaram o erro do jovem em não ter parado o carro à reação insana e injustificável dos soldados, depois da perseguição, em uma perigosa confusão de papéis.    

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