COLUNA GRANDE RECIFE

Poder público não pode ser desmoralizado pelas torcidas organizadas

Apesar da decisão que prevê extinção, grupos continuam a tocar o terror no Grande Recife

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 07/03/2020 às 15:11 | Atualizado em 07/03/2020 às 16:04
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Torcidas promovem arruaça no Grande Recife - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Torcidas promovem arruaça no Grande Recife - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Por Felipe Vieira, da coluna Grande Recife

 

A cena assusta. Dezenas de pessoas marchando em pleno asfalto da Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife. Impedindo o tráfego em uma pista de um dos mais movimentados corredores de transporte público da cidade. Com medo, pedestres se afastam, entram nas lojas. Temendo arrastões, comerciantes fecham seus estabelecimentos.

Nas imediações da Ilha do Retiro, troca de pedradas e pauladas. Tiros disparados pelo helicóptero da Polícia Militar. Mais vias públicas tomadas. Quer circular? Se vire porque há gente brigando nelas.

Em plena estação do metrô em Camaragibe, Grande Recife, fogos, tiros e gente assutada. É apenas mais um dia de clássico no futebol pernambucano. E isso foi o pré-jogo. Sabe-se lá o que vem depois. O segundo confronto de dois times grandes da capital depois que a Justiça decretou a extinção (?) da torcidas organizadas.

Vivemos em uma democracia. As pessoas têm o inviolável direito de se reunirem para irem, juntas, a um jogo de futebol. A qualquer lugar, registre-se. O que é inaceitável, sob qualquer aspecto, é saírem em bando fechando uma das pistas de uma das principais vias do Recife, corredor essencial para o transporte público da cidade. Ademais, colocando medo em comerciantes e pedestres que estavam no local. Ou de saírem soltando fogos e dando tiros em uma estação de metrô.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Torcidas promovem arruaça no Grande Recife - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Quando isso acontece, temos um claro recado desses grupos à sociedade: que eles não estão nem aí para a lei. Pelo contrário: entendem que a decisão judicial foi como a picada de um mosquito em um elefante. Nem cócegas fez.

O que nos leva à pergunta fatal: será que o poder público acredita que apenas a caneta do Judiciário vai operar a mágica de conter o vandalismo de grande parte das torcidas organizadas (sim, há grupos pequenos e não violentos que apenas torcem e não promovem arruaças)?

Não vai. A decisão da Justiça é o começo. Se o poder público não for até o fim, será desmoralizado. E a esmagadora maioria da população (branca, preta, rica, pobre, hétero, gay, cristã, umbandista, ateia...) que quer apenas paz para tocar a vida vai levar mais uma paulada no lombo.

O uso da lei com rigor não tem, ao contrário do que prega certa vertente do pensamento progressista, nada de autoritarismo ou de "fascismo". É apenas a garantia de que o espaço público e os direitos da retumbante maioria da população serão respeitados.

Transigir com atitudes como a da torcida que se achou no direito de dominar o espaço público e amedrontar a população é dar sinal verde à barbárie.

Ou se vai até o fim para desmobilizar esses grupos, aplicando a lei aos arruaceiros, mostrando, didaticamente, que a sociedade não tolera certas condutas, ou será a vitória deles. De goleada.

É possível virar o jogo. Mas tem que ser logo e sem medo. Identificando, proibindo de entrar nos estádios, enquadrando nos crimes que eventualmente estejam cometendo. E deixando claro à população que fulano, sicrano e beltrano foram punidos por infringir a lei.

Só assim se desencoraja o surgimento de novos vândalos. Não tem outro jeito.

Lourenço Gadelha
Torcidas promovem arruaça antes de jogo entre Sport e Santa Cruz - FOTO:Lourenço Gadelha

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