Um dos menores municípios da Região Metropolitana do Recife (RMR) é o mais dependente do Bolsa Família – programa de transferência de renda do governo federal que voltou ao centro do debate após a polêmica envolvendo o presidente Jair Bolsonaro (sem partida) e a inclusão de mais pessoas do Sul-Sudeste no programa, em detrimento ao Nordeste.

Araçoiaba tem nada menos que 47,5% de seus 20,5 mil habitantes dentro da faixa de assistência do benefício – dados do mês de fevereiro deste ano.

Um mergulho nos indicativos sociais e econômicos do município mostra porque existe uma dependência tão grande. Quando o assunto é renda média mensal, Araçoiaba, com seus 1,6 salários mínimos de rendimento médio per capita, fica em 4.434º lugar entre os 5.570 municípios brasileiros.

Outro aspecto negativo é com relação ao acesso a saneamento básico. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município apresenta apenas 9.3% de domicílios com esgotamento sanitário adequado. Como reflexo, um lugar nada honroso no ranking de menor índice de atendimentos médicos por diarreia: fica em 128º lugar entre os 184 municípios (mais o distrito de Fernando de Noronha) de Pernambuco.

O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) representa praticamente a metade (43,3%) da receita. O que leva ao entrave para a geração de divisas em uma cidade que, de acordo com o IBGE, em 2017, tinha apenas 7% da população ocupada.

POUCA IDADE

Araçoiaba é um município novo. Fará 25 anos em julho deste ano. Até 1995 era distrito do município de Igarassu (que, atualmente, tem 31,4% da população dependente do Bolsa Família). Talvez esteja aí uma das causas de ainda não ter decolado em indicadores com o mínimo de dignidade.

Não há indústrias por lá. O comércio é de pequeno porte. O empreendimento de maior vulto da história do município será o complexo com sete presídios que está sendo construído na área rural da cidade. São cinco prisões para detentos do sexo masculino – 1.940 vagas no total – e duas para o público feminino, com 407 vagas.

A tendência é haver um certo aumento populacional, uma vez que famílias de presidiários tendem a querer morar mais perto de onde seus entes cumprem pena. O município precisa de ajuda para que a ocupação não seja feita de forma desordenada.

Para além de Araçoiaba, os dados relativos ao Bolsa Família trazem outras curiosidades sobre a Região Metropolitana do Recife. Em segundo lugar com maior percentual de população dependente do programa está o município de Ipojuca, que não pode jamais ser chamado de “pobre” – tem indústrias e um dos mais badalados litorais do Brasil. São 37,2% da população na faixa de abrangência do benefício.

O município com o menor percentual de pessoas dependentes do programa é o Recife, com 12,5% da população. Depois vêm Camaragibe, com 17,5%, e Olinda, com 18,3%. Araçoiaba também teve o maior valor médio para o benefício no mês de fevereiro: R$ 238,7, seguida da Ilha de Itamaracá, com R$ 211,67.

A média de dependência do Bolsa Família para a RMR é de 28,1%. Significa que, de uma população total de 4 milhões, 317,4 mil famílias sobrevivem graças ao benefício. Indicadores que devem ser bem melhores no Sul e Sudeste do País. Que o governo passe por cima da politicagem e perceba, finalmente, quem realmente precisa.