COLUNA GRANDE RECIFE

Veja as obras paradas que ainda precisam sair do papel no Grande Recife

Gestores se acostumaram a apresentar grandes projetos e deixá-los pelo caminho

JC
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JC
Publicado em 05/09/2020 às 9:00 | Atualizado em 05/09/2020 às 10:54
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Obras inacabadas do canal do Fragoso em Olinda - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

"No papel cabe tudo", é uma velha máxima para ilustrar que nossa imaginação pode desafiar a teimosa realidade e operar milagres. Em um programa de computador, então, o céu é o limite. Gestores públicos costumam ir "ao infinito e além" ao conceber projetos e apresentá-los à população.

Animações gráficas de cidades inteligentes, parques, sistemas viários que fariam inveja a países desenvolvidos, tudo sugere que aquele cenário de sonho vai se realizar bem ali onde hoje só existem lixo, buracos e desordem urbana.Mas a realidade não costuma ligar para isso.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Obras inacabadas do canal do Fragoso em Olinda - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

A história recente do Grande Recife mostra que muitos projetos tidos como revolucionários em programas de computador ficaram pelo meio do caminho. A Via Metropolitana Norte, por exemplo. Consistia em 6,1 quilômetros ligando o Terminal Integrado da PE-15, em Olinda, à Ponte do Janga, em Paulista. Havia um vácuo de integração entre a área norte da RMR e a estrutura viária que abastece o Centro e a área sul.

Um dos objetivos também era aliviar o tradicionalmente complicado tráfego de Olinda e Paulista. Para isso foi iniciado um complicado processo de drenagem e desapropriações nas margens do Canal do Fragoso, que se arrastou por anos.O projeto previa uma ciclovia, acessibilidade para cadeirantes, jardins, faixa exclusiva para coletivos.

A parte mais ousada era a construção de um sistema de quatro alças e um viaduto sobre o Terminal da PE-15. A obra foi anunciada em 2013 pelo então governador Eduardo Campos a um custo de R$ 123 milhões. Sete anos, várias paralisações dos serviços e advertências do Tribunal de Contas do Estado (TCE) depois, apenas a drenagem e alargamento do Canal do Fragoso foram feitos.

ARCO

Que dizer do Arco Metropolitano, a promessa de ligação direta entre o polo de desenvolvimento de Goiana e o Porto de Suape sem passar pela BR-101? O projeto original, através de uma parceria público-privada (PPP) custaria vultosos R$ 1,7 bilhão, reduzidos depois a R$ 1,3 bilhão. Estica daqui, puxa dali e o traçado original foi considerado inviável, sendo reduzido a um miniarco que contornaria apenas o município de Abreu e Lima. Estágio atual: está sendo elaborado (mais um) estudo de viabilidade sobre a obra.

Alex Oliveira/JC Imagem
Trânsito congestionado na BR 101, sentido Prazeres - Alex Oliveira/JC Imagem

Também tem a ponte que ligaria os bairros de Monteiro (Zona Norte) e Iputinga (Zona Leste). O projeto inicial, apresentado em 2013,previa um novo sistema viário para os dois lados. A última promessa da Prefeitura do Recife, feita este ano, era de que as obras seriam reiniciadas, com uma nova configuração.

Achou que faltaria a navegabilidade do Rio Capibaribe? De jeito algum. O projeto Rios da Gente foi lançado pelo governo do Estado também em 2013, época em que Pernambuco crescia mais que a média do Brasil. No papel, seis estações modernas ao longo do Capibaribe ligando a área central até a BR-101. Sete anos depois, só carcaças e R$ 15 milhões em dinheiro público que escorreram pelo ralo.

 

Dois grandes projetos do tipo foram apresentados recentemente, mais uma vez em belas projeções gráficas. Pela Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, o Parque da Cidade, com 87 mil metros quadrados, áreas de lazer, quadras, tudo encravado no bairro de Prazeres, entre as movimentadas Estrada da Batalha e BR-101. Na quarta-feira foi a vez da Prefeitura do Recife mostrar um ousado projeto de urbanização da área do antigo Aeroclube do Pina, na Zona Sul. Habitacional com 600 unidades, parque, creche, UPA, uma revolução. Não dá para esquecer o fato de que as duas gestões apresentaram os projetos às portas de uma campanha eleitoral.

O caso do Recife é bem mais sério, pois a obra foi uma promessa da primeira campanha do prefeito Geraldo Julio (PSB) e foi anunciada apenas agora, a quatro meses de ele deixar o cargo. Mas, pensando apenas em termos de execução das obras, quais são as garantias de que o mundo maravilhoso da animação gráfica vai se materializar? A sinalização não é nada positiva: a urbanização do Aeroclube foi anunciada apenas com data de conclusão para os habitacionais (2021).

Intempéries, crises econômicas, mudanças de ventos na política e problemas com licitações são elementos que podem atrapalhar obras. Mas o que a história recente parece mostrar é que, não se sabe por cálculo político ou mesmo por falta de planejamento, muitos gestores estão dando o passo maior que as pernas. Se a rota pudesse ser corrigida sem muitos custos, tudo bem. O problema é que muito dinheiro público e oportunidades para mudar as vidas das pessoas são desperdiçados no caminho. E isso não dá pra corrigir, nem no melhor programa de animação gráfica.

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Obras inacabadas do canal do Fragoso em Olinda - FOTO:FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Trânsito congestionado na BR 101, sentido Prazeres - FOTO:Alex Oliveira/JC Imagem

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