COLUNA GRANDE RECIFE

O futuro das cidades do Grande Recife anda fora da campanha

Candidatos ainda não fizeram discussões sobre como serão as cidades a longo prazo

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 11/10/2020 às 0:00
ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM
Na Região Metropolitana a temperatura deve variar entre 19°C e 29°C - FOTO: ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM

A galeria entupida, a creche sem vagas, o buraco no meio da rua, a coleta de lixo deficiente, todos são problemas pontuais que, espalhados pelas cidades, tornam um inferno a vida de milhares de pessoas. É com promessas de soluções para esses problemas que os candidatos a prefeito e vereador chegam todos os anos. Com certa razão, afinal de contas, são entraves reais à dignidade de muita gente. Mas pouco se tem falado no futuro a longo prazo das nossas cidades. E acredite: trata-se de uma discussão que, feita hoje, pode ajudar a minimizar esses mesmos problemas amanhã.

Desnecessário dizer que, entre problemas pontuais e a velha lógica imediatista de uma eleição, o planejamento para as cidades do futuro não está na pauta dos candidatos. “Estão devendo essa discussão. As grandes cidades do mundo estão numa corrida por visibilidade para atrair empresas de ponta para que elas gerem empregos com bons salários e que esses salários se revertam em impostos que possam ser aplicados, inclusive, para diminuir as desigualdades”, explica a jornalista e pesquisadora em Cidades Inteligentes pelo Institut de Formació Contínua IL3 da Universidade de Barcelona, Beatriz Ivo.

“O caminho para que uma cidade ganhe relevância é ela ter uma consistência econômica. Uma cidade não podedepender só de investimentos públicos, principalmente quando esse dinheiro não existe, como é o caso agora, pela crise fiscal provocada pela pandemia. Pra ser atrativa para empresas que possam gerar empregos a cidade tem que ser mais ousada. O que a gente observa nas cidades do mundo é que ela sestão investindo em inovação urbana e tecnologia, que acrescenta soluções que podem trazer economia para os cofres públicos. Sem investimento em energia renovável, teletrabalho, wi-fi, teleeducação e segurança, dificilmente ela cria o ambiente de atração para grandes empresas”, comenta ela, da capital da Catalunha.

Segundo Beatriz, os candidatos seguem olhando exclusivamente para dentro das cidades, perdendo de vista as oportunidades que se abrem quando a discussão sobre o futuro passa pela metrópole. “Do ponto de vista da gestão pública, as cidades são arcabouços de serviços, que na maioria, são prestados por empresas privadas. Por exemplo, o lixo: há uma licitação e uma empresa dá conta. Iluminação a mesma coisa, recapeamento de ruas idem. Se a gente notar que a cidade é um mercado para as empresas privadas, a Região Metropolitana do Recife tem uma grande oportunidade: é deixar de lado a briga partidária e ver que os problemas são comuns em todas as cidades e que se forem criados padrões de serviços com normas e expectativas de qualidade parecidas, as empresas privadas podem criar uma demanda comum e isso barateia o preço. Soluções metropolitanas podem ser atrativas para o mercado, se as cidades se unirem. Se cada um for para um lado, dificilmente vão atrair uma empresa que traga inovação”. 

Para a pesquisadora, ainda falta incluir o Porto Digital na discussão. “Temos esse bolsão de conhecimento, que é Porto Digital, que deveria estar mais presente no dia a dia da cidade. Os candidatos precisam chamar o Porto Digital para essa discussão, trata-se de um grande diferencial  para o Estado, com suas startups ,seu diálogo com a academia e com o serviço público”.

 

 

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