Até meados de dezembro o historiador Leonardo Dantas vai entregar 60 tópicos que servirão de inspiração para os artistas populares construírem poemas e entalhes em madeira para impressão de desenhos que vão ilustrar os novos quiosques da Avenida Boa Viagem. A arte vai estampar os novos equipamentos, que vão ser requalificados a partir de uma iniciativa público-privada, coordenada pela Associação dos Barraqueiros de Coco do Recife (ABCR).
A reforma será 100% financiada por empresas prospectadas no mercado pela própria ABCR.
O projeto de requalificação dos 60 quiosques das orlas do Pina e de Boa Viagem vai além da construção moderna e segura, assinado pelo experiente arquiteto recifense Bruno Ferraz. Ao lado da questão física - funcional e imponente -, há um componente cultural inspirado nos 500 anos do Recife, comemorados em 2037. Nessa frente, que envolve a tríade “história, cordel e xilogravura”, o professor Leonardo Dantas e Silva, de 74 anos, iniciou as pesquisas relativas aos acontecimentos consagrados da capital, que se confundem com os momentos célebres de Pernambuco.
O historiador Leonardo Dantas segue catalogando que servirão de referência para os quiosques. Ao equipamento 60, no entanto, vai ser reservada uma abordagem especial. Ele vai representar os 500 anos do Recife. Vale a ressalva, Recife é a capital mais antiga do Brasil e completará cinco séculos no dia 12 de março de 2037.
Desde que começou a se dedicar ao universo dos livros, Leonardo publicou 55 títulos, quase todos relativos à capital e ao estado do Nordeste, conhecido como “Leão do Norte”, pela bravura de um povo que enfrentou, como nenhum outro, lutas que realçavam a liberdade social e política.
Não é difícil, então, descobrir que, entre tantos relatos importantes - até mesmo para a história brasileira -, Dantas citou como vitais ao projeto: a chegada de Duarte Coelho ao Recife, em 1535; a Invasão Holandesa, em 1630; a Revolução Pernambucana de 1817; e a Confederação do Equador, em 1824. Entre outros grandes assuntos, além daqueles que entende por “menores” em importância histórica, mas essenciais para serem repassados às pessoas e aos amantes do conhecimento, como a inauguração do primeiro Observatório das Américas, em 1639.
“Tenho até dezembro para concluir essa fase. Já estou catalogando as passagens históricas. É um processo simples. Além da pesquisa, escrevo até 30 linhas sobre o assunto. Assim que finalizo, entrego o texto para os cordelistas e xilógrafos, que vão transformar a história na arte deles, com poemas e desenhos feitos a partir de xilogravuras”, explicou Leonardo Dantas. “Isto feito, vamos estampá-los no azulejo dos quiosques. Acredito que vai ficar um trabalho muito bonito”, comentou o historiador.
Além de cortejar o visitante do Pina e de Boa Viagem a conhecer um pouco da história do Recife, Leonardo entende que as passagens históricas vão se transformar numa nova referência para as pessoas na orla. Atualmente, os quiosques são conhecidos pelo número ou por algum ponto de referência.
Com novo projeto, o fato histórico da cidade – ou mesmo a data referendada dele - vai servir como localização para os banhistas e frequentadores do calçadão. De uma forma indireta, Dantas crê, ainda, que os temas abordados nos 60 estabelecimentos estimule as pessoas a se aprofundarem mais sobre a cidade.
CORDEL E XIOGRAVURA
A linha do tempo do Recife até os dias atuais, selecionada por Leonardo Dantas, vai encontrar abrigo entre artistas pernambucanos de cordel e da xilogravura. O contexto histórico de cinco séculos será transformado em arte. No caso dos poemas populares, a incumbência é da Associação dos Cordelistas de Pernambuco (Acordel), presidida por Felipe Júnior. Cabe à entidade a distribuição das notas de Leonardo Dantas para serem transformadas em literatura de cordel pelos associados da entidade.
“Estamos na expectativa, ansiosos para começarmos o trabalho. Trata-se de uma grande parceria que foi montada pela ABCR. Requalificar os quiosques dando uma roupagem que é a cara do Recife, da nossa arte, através do cordel e da xilogravura. A nossa parceria é orientar e selecionar os cordelistas. São 60 contextos celebrando os 500 anos. E cada um constrói uma poesia. Uma grande linha de tempo na qual vão ser celebrados os 500 anos da cidade”,comentou Felipe Júnior.
Sobrinho do mestre J. Borges, o xilógrafo Severino Borges vai contar a história no entalhe das madeiras das quais sairão as gravuras referentes às datas ilustres do Recife selecionadas por Dantas. “É algo novo no nosso trabalho e, por isso, fico muito feliz de poder expandir conhecimento e visitar novos caminhos a partir da xilogravura. Tenho certeza que vão ganhar os moradores do estado e os visitantes, que vão poder ver uma orla repaginada, repleta de história para ser lida”, comentou Borges.
A última reforma dos 60 quiosques das praias do Pina e de Boa Viagem aconteceu em 2009, portanto, os equipamentos estão há 11 anos sem receber melhorias. O Projeto Orla Viva, elaborado pela Associação dos Barraqueiros de Coco do Recife (ABCR), trata-se de uma iniciativa público-privada. Com a liberação das obras, passa-se para a fase de captação de investidores, que vão financiar os 100% dos custos do projeto, fruto do esforço dos próprios quiosqueiros junto ao trade.
No último dia 24 de setembro, a ABCR e a PCR assinaram um Termo de Autorização de Uso de Bem Público, com duração de dez anos. O documento, “selado” durante a assembléia extraordinária convocada pela Associação, é a extensão do “Acordo de Cooperação”, celebrado no final de julho deste ano, com o objetivo de requalificar os quiosques da orla recifense.
No último dia 2 de outubro, a ABCR entregou ao secretário de mobilidade do Recife, João Braga, o projeto arquitetônico e cultural, em reunião na PCR, que causou impacto positivo nos técnicos municipais. Com a promessa de transformar os equipamentos da orla em pontos de encontro e diversão, além de local de exaltação à cultura do Estado, com o envolvimento da história, do cordel e da xilogravura. Com poucos caminhos burocráticos a cumprir, falta pouco para o projeto sair do papel.
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