COLUNA GRANDE RECIFE

Votar é importante. E pegar no pé dos eleitos depois, também

Fiscalizar os mandatos de prefeitos e vereadores é uma prática que precisa ser melhorada

Felipe Vieira
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Felipe Vieira
Publicado em 15/11/2020 às 7:00
ELZA FIÚZA/ABR
Tempo é curto para se viabilizar - FOTO: ELZA FIÚZA/ABR

 

Hoje é o dia de encarar a urna e apertar o botãozinho verde. Um teste a mais em um ano que colocou o mundo inteiro à prova. Teste importante e que vai decidir os destinos de 5,5 mil municípios no País.

Mas tão importante quanto votar é acompanhar o desempenho dos eleitos. E esse é um exercício de toda a sociedade, tenha você votado ou não em quem ficou com as cadeiras na prefeitura e na Câmara de Vereadores de sua cidade. Afinal, os governantes e legisladores de turno o serão para a coletividade, não apenas para seus eleitores.

Temos o péssimo hábito de não cobrar os políticos como deveríamos. Não falo, claro, exclusivamente de pressão física, protestos, etc. Mas daquele acompanhamento constante, pela imprensa e pelos mecanismos de controle que estão à disposição dos cidadãos.

Não acompanhamos mesmo. Primeiro faça um exercício de memória. Já parou para pensar qual foi a atuação legislativa do vereador em que você votou na eleição passada? Que projetos sugeriu, como votou em temas de interesse da cidade, se esteve presente em sua área de atuação? Esse deveria ser o primeiro critério para um possível novo voto - ou para esquecê-lo de vez. Mas o fato é que muitas pessoas sequer lembram de quem votaram para vereador...

A atuação dos prefeitos é de um escrutínio até mais fácil. Está refletida no dia a dia do município: na limpeza urbana (foto do meio), na manutenção, nas escolas do ensino fundamental (foto abaixo), creches , unidades de saúde, a lista é extensa. Mas mesmo assim o hábito da fiscalização e da cobrança só fica mais aguçado no período eleitoral. E é justamente nessa época que aquela obra travada sai do papel, que o meio-fio recebe aquela demão de cal...um ciclo que se perpetua.

Guardadas as devidas exceções que apenas comprovam a regra, muitos políticos aparentam ter uma clara zona de conforto, como se não sentissem as reclamações de seus maiores clientes: a população. A culpa pode ser, em grande parte, dos que agem assim. Mas também tem a parte de parcela da população, e é essa que precisa ser feita de uma forma melhor para estimular gestores e legisladores a realizarem melhores mandatos.

Existe uma palavrinha em inglês, bacana e de difícil pronúncia, muito usada para definir o que falta na relação políticos/eleitores: accountability. A tradução mais próxima é algo como "responsabilização" ou senso de transparência no cumprimento do dever. O que eles fazem deve ser cristalino para a população, que, por sua vez, deve cobrar de forma constante o cumprimento de metas e promessas de campanha. Nos dias de hoje, com a internet e os mecanismos de controle (como as redes sociais, ouvidorias, portais da transparência e a Lei de Acesso à Informação, por exemplo), a coisa é bem mais fácil. Está ao alcance de cada um.

Não é preciso explicar para você que a lógica eleitoral no Brasil por muitas vezes opera por meios pouco republicanos, o que tem efeito mais notável entre as camadas socialmente mais vulneráveis e menos escolarizadas da população. Não é todo mundo está vidrado no guia eleitoral, com adesivo no peito e esperando avidamente pelo dia cravar o botão verde com o candidato que escolheu após observar atitudes e afinidades — muitas pessoas ainda votam espremidas pelo rolo compressor das campanhas, por indicação do líder comunitário "x", que está com o vereador "y" que, por sua vez, está com o prefeito "z". Tem aqueles que, inclusive, vão à seção eleitoral sem saber quem vão escolher e acabam decidindo após catar no chão, entre a imundície que muitos candidatos sempre promovem no dia do pleito, um santinho. Acontece, caso contrário eles não jogariam os papéis no chão.

É compreensível que grande parte da população cuja maior preocupação é sobreviver em meio às adversidades não ligue para o que se desenrola nos gabinetes das prefeituras e das câmaras. Que muitas pessoas deem seu voto pela obrigação da lei e que praticamente esqueçam quem escolheram. Mas é preciso, de alguma forma, instituir a cultura da cobrança. Somos, via de regra, como aquele consumidor que levou um produto com defeito e, por achar que defeitos são normais, não vamos atrás de nossos direitos.

Também é importante não demonizar. Por maior que seja o descrédito da política no Brasil, o clima de "nenhum presta" só favorece a chegada de arrivistas e autoritários.Não dá para, ao contrário do que pregam alguns, "não ter" políticos: o que é preciso é escolher os bons e chutar para longe, pela urna, os ruins. Bom voto. E não esqueça de pegar no pé dos eleitos.

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