Tiro ao alvo

Em 2021, 94% dos tiroteios no Grande Recife terminaram com vítimas

Relatório Anual do Instituto Fogo Cruzado mostra que houve em média 5 tiroteios por dia

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Jamildo Melo

Publicado em 24/01/2022 às 9:23 | Atualizado em 24/01/2022 às 12:31
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De acordo com a ONG carioca, o ano de 2021 trouxe uma mudança positiva para a área da saúde em Pernambuco: com o avanço da vacinação contra a Covid-19, atividades comerciais foram retomadas e a população voltou às ruas depois de um 2020 de reclusão. Mas o campo da segurança pública segue sem encontrar um antídoto para a violência.

Velhas práticas resultam nos mesmos índices: houve 1.725 tiroteios ao longo de 2021 na Região Metropolitana do Recife - em média, cinco por dia -, segundo dados do Relatório Anual do Instituto Fogo Cruzado.

Esse número indica que não houve queda no número de tiroteios em comparação com 2020, com 1.708 registros.  2020 e 2021, quando houve significativa redução no número de pessoas circulando pelas cidades, foram anos mais violentos que os anteriores.

Em 94% dos tiroteios ocorridos em 2021 houve mortos e/ou feridos, o que mostra que a violência na região tem alvos bem definidos.

“As balas aqui são mais precisas e eficientes, com máximo aproveitamento, e com mínimo de recurso. Gastam-se bem menos balas para matar o mesmo número de pessoas ou mais, dando a impressão de que são crimes premeditados”, explica a coordenadora executiva do Gajop e gestora local do Fogo Cruzado em Pernambuco, Edna Jatobá.

No total, 1.867 pessoas foram baleadas na Região Metropolitana do Recife: 1.264 morreram e 603 ficaram feridas.

Em média, houve cinco baleados por dia.

O número de mortos aumentou 7% e o de feridos caiu 17% em comparação com 2020, quando 1.910 pessoas foram baleadas, sendo 1.185 mortas e 725 feridas.

Crianças e adolescentes também foram vítimas

As balas que atravessam a região não escolhem a idade dos alvos. Relatório produzido em 2021 pela Rede de Observatórios de Segurança considerou Pernambuco o pior lugar do Brasil para ser criança ou adolescente. As violências contra jovens surgem de diferentes maneiras: no assédio, nas agressões psicológicas ou pelas armas. Ao todo, oito crianças e 108 adolescentes foram baleados na Região Metropolitana do Estado, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. Em 9 de agosto, o corpo de Alef, de 12 anos, foi encontrado com mais de 20 marcas de tiros em Maranguape II, bairro de Paulista.

Assim como tiroteios, o número de crianças e adolescentes baleados não vem diminuindo: nos últimos 3 anos, houve 10, 11 e oito crianças baleadas, em 2019, 2020 e 2021, respectivamente, e 109, 93 e 108 adolescentes baleados nos anos 2019, 2020 e 2021, respectivamente.

Trabalhadores viram alvo

O número de motoristas de aplicativo baleados no Grande Recife aumentou 43% em 2021 em relação ao ano anterior. Em 2021, 10 motoristas de aplicativo, 14 vendedores ambulantes e 20 mototaxistas foram baleados na Região Metropolitana do Recife. Um aumento de 43%, 40% e 18% entre os baleados, respectivamente.

O aumento da violência armada contra trabalhadores informais se destaca ao mesmo tempo em que este tipo de emprego bate recorde no país. No fim do segundo trimestre de 2021, os profissionais informais - sem carteira assinada - já eram quase metade do total de trabalhadores do país, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio).

Violência dentro de casa

Em média, duas pessoas são baleadas a cada três dias na Região Metropolitana do Recife: em 2021, 247 pessoas foram baleadas na Região Metropolitana do Recife dentro de casa - 192 não resistiram e morreram.

Os tiros disparados em residências na Região Metropolitana do Recife em 2021 tiveram, quase sempre, alvos determinados: somente quatro das vítimas de 2021 foram atingidas por balas perdidas em casa. A maioria foi vítima de homicídios e tentativas de homicídio.

Armas em presídios

Em 2021, houve quatro tiroteios dentro de presídios do Grande Recife - todos eles no Complexo Prisional do Curado, no Recife. Ao todo, oito pessoas foram baleadas, e quatro delas morreram. Para Edna Jatobá, “na teoria, este é um dado que não deveria existir, pois escancara a falta de investimento em segurança dentro dos presídios em Pernambuco. Mais do que pensar que são criminosos sendo baleados dentro de presídios, é preciso pensar como há armas circulando livremente dentro de presídios".

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