ENTREVISTA

Eleitores fazem cálculo estratégico entre economia e corrupção, avalia cientista política

Em entrevista, a pesquisadora e professora Nara Pavão avalia o comportamento do eleitorado diante da eleição deste ano. Na pauta, a percepção sobre corrupção, economia, interesse pela disputa e viabilidade das candidaturas nacionais e estaduais

Augusto Tenório
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Augusto Tenório
Publicado em 06/02/2022 às 11:30 | Atualizado em 07/02/2022 às 8:08
Foto: TV Jornal
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Cientista política, pesquisadora e professora adjunta da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Nara Pavão concedeu entrevista ao blog de Jamildo Melo, com participação de Igor Maciel, da coluna Cena Política. Na pauta, a eleição deste ano e os nuances do eleitor diante da urna.

Nara, referência em estudos sobre opinião pública, corrupção e comportamento eleitoral, responde questionamentos acerca de como o eleitorado chega à eleição deste ano. A pesquisadora considera que o eleitor trabalha de acordo com uma espécie de "cálculo estratégico", num sistema de trocas e concessões.

"Essa troca é sempre implícita, não é explícita. Isso acontece sempre, principalmente com a economia. Por isso temos o chamado 'voto econômico'. Quando o eleitor pensa na corrupção, pensa também se o político está entregando desenvolvimento econômico, gerando emprego… Se estiver, o eleitor provavelmente vai relevar esse tipo de corrupção", comenta.

A professora, PhD em Ciência Política pela Universidade de Notre Dame (EUA), também relaciona o comportamento do eleitorado com a viabilidade das candidaturas de Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL), Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT) e analisa o cenário eleitoral desenhado em Pernambuco. Confira:

É correto dizer que esta eleição será pautada pela fome e o emprego, e não pela corrupção?

A corrupção vai ter um peso muito pequeno nestas eleições, já é um tema bastante saturado e o eleitor já está cansado dele, ficou muito genérico. Como a gente teve a Lava Jato, muitos políticos foram acusados de corrupção, o próprio Bolsonaro, que se elegeu em 2018 com a bandeira anticorrupção, também foi alvo de acusações de corrupção ao longo do seu governo.

Isso faz com que as pessoas percebam a corrupção como um critério inútil de escolha, ela não ajuda as pessoas a tomar uma decisão. Então é esperado que a corrupção tenha um peso muito pequeno na escolha do eleitor, porque existem outras questões mais importantes, como a economia.

Estamos num cenário econômico desfavorável, acirrado pela pandemia, que também é outro fator que vai importar bastante, a questão da gestão do governo em relação à pandemia, que está ligada também à economia. A pandemia afeta as pessoas através da economia, então é correto dizer que as questões econômicas terão um peso muito grande na escolha do voto.

Recentemente Ciro Nogueira comentou que Bolsonaro ainda está viável, porque a economia vai definir a eleição. Segundo o Ipespe, 65% da população acredita que a economia está no caminho errado. Dessa forma, se o cenário continuar como está, a campanha de Bolsonaro será viável?

A campanha de Bolsonaro vai ser sempre viável, ele é um candidato muito viável. Não pela economia, porque a gestão dele tem sido muito avaliada negativamente. Mas ele é viável porque é um incumbente, está no poder e tem a máquina política, então vai ser uma campanha forte, efetiva.

Também porque ele é um político popular, tem uma parcela da população que é muito fiel, entre 20% e 30%, o que garante a ele lugar num possível segundo turno. Ele é viável e um candidato forte, por uma questão mais identitária, pois é alguém que inspira identidade, é popular e carismático para uma parcela específica da população.

Muitas vezes se associa o voto em Lula como se fosse a escolha pela saudade dos “tempos prósperos”. Ao mesmo tempo, o petista tem 47% de intenção de voto na população entre 16 e 24 anos, que era muito jovem no seu governo. São informações conflitantes?

É um pouco curioso esse dado. Lula saiu do governo com aprovação recorde, mundialmente falando. As pessoas avaliam e lembram do governo dele positivamente, acho que cada vez mais, porque vai se contrastando com a situação de crise econômica, ressaltando pontos positivos da sua gestão.

Talvez essa avaliação positiva entre os mais jovens esteja relacionada a uma avaliação negativa em relação a Bolsonaro, ou mesmo preocupações econômicas em relação à instabilidade e falta de perspectiva futura.

Você tem um estudo sobre como o eleitorado percebe diferentes tipos de práticas condenáveis. O eleitor enxerga de forma diferente uma rachadinha e um desvio milionário da Saúde ou, no geral, tudo é “corrupção” e ponto?

É equivocada a expectativa de achar que a corrupção é sempre rejeitada. O correto é dizer que ela é entendida por todos como algo negativo, pois não é algo controverso. Nossa rejeição à corrupção vai depender de quem é o acusado. Se as acusações pesam sobre um político pelo qual tem se tem apreço, naturalmente pode se relevar as acusações. Depende do partidarismo, da popularidade ou do tipo de corrupção.

Pesquisas, não só a minha, indicam que é equivocada a percepção de que os eleitores rejeitam todo e qualquer tipo de corrupção. Eles fazem um cálculo que leva em consideração a gravidade percebida do tipo de corrupção: se ela beneficia um setor da população ou não…

Na pesquisa feita na Argentina, contrapomos o enriquecimento ilícito, que só beneficia o político, à compra de votos, que beneficia o eleitor pobre e o partido político. Encontramos evidências de que os eleitores rejeitam mais o enriquecimento ilícito que a compra de votos.

Isso mostra que, sim, os eleitores estão o tempo todo fazendo um cálculo, levando em conta as características da corrupção antes de rejeitá-las.

Então o famoso “rouba mas faz” ainda deve estar presente nas eleições deste ano?

Sempre está, essa ideia reflete o cálculo estratégico feito por todos os eleitores antes da eleição. Quando vota-se, não se leva em conta apenas um fator específico, mas várias coisas: a ideologia, a performance etc. Como não podemos levar tudo em consideração, são feitas trocas e concessões. Pode ser um político corrupto mas que compartilha a mesma ideologia, por exemplo.

Essa troca é sempre implícita, não é explícita. Isso acontece sempre, principalmente com a economia. Por isso temos o chamado ‘voto econômico’. Quando o eleitor pensa na corrupção, pensa se o político está entregando desenvolvimento econômico, gerando emprego… Se estiver, o eleitor provavelmente vai relevar esse tipo de corrupção.

Lula e o PT foram muito associados à corrupção. O petista, apesar desse estigma, tende a se beneficiar nesse cálculo?

Ele tende a se beneficiar. Estamos vivendo um momento de instabilidade econômica e seu governo é associado à prosperidade econômica. Mas também porque, apesar de ele ter o estigma da corrupção, a Lava Jato perdeu muita credibilidade. Isso faz com que esse estigma seja mais fraco agora do que há dois anos.

RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA
EM SEGUNDO Com Lula pré-candidato, PT levará R$ 594 milhões - RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA

Isso é refletido, por exemplo, no número de partidários do PT. No auge da Lava Jato, o partidarismo, a identificação com o PT, chegou a 5%, tendo antes estado na casa dos 30%. Hoje em dia já voltou para a casa dos 20% ou 30%, pois perdeu-se esse estigma.

Existem também acusações para "além" da corrupção, como é o caso de Bolsonaro, acusado de genocídio. Esse tipo de acusação, apesar de grave, é vista dessa forma pelo eleitor? Ele levaria isso em conta com maior peso no momento do voto?

Sim, esse tipo de acusação funciona como as acusações de comportamento corrupto. É como uma outra dimensão a partir da qual as pessoas avaliam os candidatos. Essas acusações só vão importar, e só vão mudar a opinião, pra quem já tem uma indisposição em relação a ele. Elas não possuem efeito algum entre o eleitorado que é simpático a Bolsonaro. Como as acusações de corrupção, elas são sempre filtradas por predisposições políticas. Elas não tendem a ter um impacto muito decisivo

Segundo a pesquisa PoderData, Lula é favorito entre as mulheres, vencendo Bolsonaro por 44% a 22% da intenção de voto. Por que nas mulheres há essa diferença tão grande?

Lula é muito associado à políticas sociais e as mulheres valorizam muito isso no geral, pois são mais afetadas por isso. Essa popularidade se explica por isso, pela questão do Bolsa Família, que entrega dinheiro para as mulheres, então essa associação é forte.

Giorgia Prates/Brasil de Fato
Quem já era beneficiário do Bolsa Família já recebe o Auxílio Brasil desde 17 de novembro - Giorgia Prates/Brasil de Fato

Explica-se também pela rejeição a Bolsonaro entre as mulheres, ele não é um candidato com pauta forte de política social. O presidente aposta numa pauta mais ideológica e agressiva em relação às políticas sociais e segurança pública.

Mesmo com o Auxílio Brasil, esse cenário não tende a mudar, correto?

Não acho que mude, porque a marca forte ainda é o Bolsa Família. Apesar do nome ter mudado, como estratégia de marketing do governo, as pessoas ainda possuem uma memória forte do programa Bolsa família.

Estamos com uma campanha presidencial que começou cedo. Na última pesquisa Ipespe, indica-se 65% do eleitorado muito interessado ou com algum interesse na eleição. Mas 33% está pouco ou nada interessado. O eleitorado tende a se interessar mais com a proximidade do pleito ou esse desinteresse acontece porque o cenário parece estar definido?

Em geral, a campanha motiva o eleitor, pois existe abundância de informações, propaganda eleitoral e mobilização dos candidatos para o ‘show’ da campanha política. As pessoas ainda não estão pensando tanto na campanha.

Esse número de pessoas interessadas, inclusive, é altíssimo! Em geral, as pessoas não estão interessadas em Política, mas em outras coisas, porque não é um tema central na vida das pessoas. A ideia é que isso cresça conforme a campanha for se desenvolvendo.

Em 2018, realizaram-se eleições num cenário de crise e escândalos de corrupção. Após a eleição de Bolsonaro, muitos cravaram o eleitor brasileiro como majoritariamente misógino, racista e homofóbica. É possível dizer que o eleitor se identifica com essas pautas quando ele vota num candidato que tem esse tipo de comportamento?

Uma parte do eleitorado de Bolsonaro se identifica, sim, com essas pautas. Mas isso não se aplica a todo mundo que votou nele. Podemos dividir seu eleitorado entre quem votou porque se identificou com ele e com tudo o que ele representa, sua visão de mundo, ideologia e propostas etc. Outra parte votou por rejeição às outras opções, principalmente o PT.

Essa parte é a que não abandonou o barco, pois realmente se identifica com ele a ponto de relevar a performance do Governo e as acusações contra o presidente.

Bolsonaro tem dificuldades de subir nas pesquisas. A tendência, conforme aproxima-se a eleição, deve ser a radicalização do discurso para mobilizar o eleitorado ou abrandar a fala para chamar mais votos?

Acho que Bolsonaro tem um cálculo estratégico a ser feito, mas ainda não definido. Ele não consegue mais subir porque tem a maior taxa de rejeição entre os candidatos, então não tem muito para onde subir. O eleitorado que votou nele sem identificação já pulou fora do barco.

JEFERSON NASCIMENTO/JC IMAGEM
SUPREMO STF foi o centro do ataques da população, ontem, no Agreste - JEFERSON NASCIMENTO/JC IMAGEM

A radicalização do discurso poderia gerar uma maior mobilização dessa base fiel. Isso é bom para a campanha, pois barulho faz bem. Mas, ao mesmo tempo, isso tem um custo junto às instituições. O STF e o TSE vão estar numa configuração negativa para Bolsonaro, então ele vai precisar de um cálculo estratégico.

Enquanto isso, a campanha de Sergio Moro, muito focada na anticorrupção, é viável?

Sou cética com relação ao potencial de crescimento de Sergio Moro, pois é uma agenda muito fraca para 2022. Sua agenda é a de 2018, se ele fosse candidato nessa eleição, teria muita chance. Ele ainda estava muito popular. A Lava Jato construiu toda essa campanha anticorrupção que deixou o eleitorado muito sujeito a esse tipo de mobilização.

Em 2022 o tema da corrupção está saturado. Ele se atém a esse tema porque é a sua principal bandeira. Ele é conhecido como líder da Lava Jato, então tem de bater nessa tecla, apesar de ela não render crescimento.

EDUARDO MATYSIAK / AFP
Moro é pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos - EDUARDO MATYSIAK / AFP

Sergio Moro tem uma taxa de rejeição alta e é bastante conhecido, sem espaço para reconstruir imagem junto à população. Se reconstrói imagem quando não se é conhecido, como foi Bolsonaro em 2018, que conseguiu se apresentar como outsider por não ser conhecido. Dessa forma, Moro tem pouco potencial de crescimento.

Ciro Gomes também segue a mesma linha?

Também é um candidato muito conhecido, que não decolou nas outras eleições. Ele não decolou em eleições abertas a outsiders, como não é o caso desta eleição. Apesar de uma parcela de mais ou menos 30% dizer querer uma terceira via, não conseguem concordar sobre quem seria esse candidato.

Chegamos a uma eleição com partidos tradicionais desgastados. Com exceção do PT, que lidera, temos um candidato do PL em segundo lugar e, em terceiro, um do Podemos. O MDB e o PSDB estão com dificuldade de emplacar seus candidatos. Qual a saída para os partidos tradicionais ganhar um novo gás? É o momento de esperança numa campanha nacional ou de alçar voos menores?

As duas coisas: vão tentar a corrida nacional, porque precisam, é uma vitrine boa lançar uma candidatura nacional. O PSDB e o MDB estão costurando a federação, enquanto o União Brasil tenta entender também a melhor configuração.

Governo do Estado de SP e Waldemir Barreto/Agência Senado
Doria e Simone Tebet - Governo do Estado de SP e Waldemir Barreto/Agência Senado

Enxergo o PSDB e o MDB como os grandes perdedores da Lava Jato. A diferença em relação ao PT, com quem eles formam o grupo dos três grandes partidos históricos do Brasil, é que os petistas possuem partidarismo, raízes na sociedade. Os outros nunca tiveram partidarismo alto.

Quando a Lava Jato chega não tem muito o que sustente esses partidos, eles não possuem um mártir, como no PT. Os grandes derrotados foram os partidos sem base de sustentação para conseguir passar pelo desgaste. Eles ainda não estão com estratégia com relação à federação.

A federação seria um caminho para o PSDB e o MDB se manterem relevantes?

Sim, mesmo que não ganhem a eleição, a ideia é se projetar como partidos viáveis. Mesmo um candidato derrotado, com percentual de votos relevante, sinaliza o partido como viável. É importante também para eleger base.

Igor Maciel: Qual a relação entre o “rouba mas faz” e o retorno de Lula ao patamar de favorito eleitoral após ser condenado e preso por corrupção?

O rouba mas faz é muito presente no imaginário brasileiro, mas não é peculiaridade nacional. É uma lógica identificada na literatura internacional como sendo uma lógica que opera em vários países, a partir da qual o eleitor opera. (...) Ao mesmo tempo existe um outro fator, além da troca, que é o enfraquecimento das acusações. Elas eram muito mais fortes em 2018 do que agora.

Diante dessa desmoralização da Lava Jato, o eleitor começa a duvidar mais da Justiça com relação a acusações?

Isso gerou um ceticismo e uma confiança reduzida nas instituições de controle e judiciais. A Lava Jato foi a maior campanha anticorrupção do mundo, sem precedentes, maior que as mãos limpas na Itália. Ela tomou uma proporção muito grande, mas teve um backlash [intensa e sustentada rejeição pública a uma decisão judicial] muito forte, a ponto de o STF se posicionar contra ela ao final do processo. Ao enfraquecer, ela leva consigo as instituições que possibilitaram que ela ocorresse.

Igor Maciel: O fato de a corrupção estar em queda no interesse público tem relação com a necessidade de ver Lula como única chance de tirar Bolsonaro do Poder?

É possível que se dê um peso reduzido à corrupção porque enxergam como uma necessidade para conseguir justificar o voto em Lula, mas não acho que seja a principal explicação para a queda da relevância do tema.

Os temas não são estáticos, mudam ao longo do tempo, pois as considerações são sazonais. A corrupção é uma delas: o eleitor nunca se preocupou muito com a corrupção, antes de 2014 a preocupação com o tema estava em 3% a 5%. Ela foi inflada por causa da Lava Jato, gerando uma norma social de que a corrupção é inaceitável, mas essa não é a regra do eleitor brasileiro ou de qualquer eleitor no mundo.

Em geral, não se dá um grande peso à corrupção. As pessoas entendem como um fenômeno negativo, mas não pesam muito. Há também a sobreposição de outros temas: a crise econômica faz a Economia relevante e a pandemia faz a Saúde voltar com muita força.

Igor Maciel: Qual a relação da crise econômica com essa mudança na prioridade que se dava ao combate à corrupção até 2018? Um exemplo é Sergio Moro que até abril de 2020 pontuava com 18% em pesquisas. Hoje caiu para 8%. Nesse período o que aconteceu foi, exatamente, a crise econômica provocada pela pandemia

Acho que o que aconteceu não foi a crise econômica, mas sim a Vaza Jato e tudo o que aconteceu a partir de 2020.

A saída dele do Governo Bolsonaro, da forma como aconteceu, influencia?

A entrada de Moro no Governo foi muito ruim, porque ele veste a camisa do político, um título muito rejeitado por ele durante a Lava Jato para vender uma imagem de credibilidade. Isso muda totalmente quando ele deixa o cargo de juiz e passa a integrar o governo, se desgastando bastante.

Em 2020 ele começa a se desgastar mais, com a Vaza Jato. Integrando o governo ele se desgasta com setores não bolsonaristas da população e, ao sair, começa a ser visto como traidor por bolsonaristas.

Estrategicamente, para Bolsonaro, chamar Moro para o Governo foi muito interessante…

Muito! Foi uma jogada de mestre, pois Bolsonaro precisava sinalizar, de maneira crível, a luta anticorrupção prometida durante a campanha, bandeira usada para se opor ao PT. Ele não tinha uma sinalização forte de que sustentaria essa bandeira.

Ele chama Moro exatamente para isso, mas também não faz mais nada. Então o ex-juiz vira um figurante, sem poder para implementar sua agenda.

Em Pernambuco, o PSB enfrenta dificuldades para definir o candidato ao Governo. Isso está atrelado a um desgaste após 16 anos no poder ou somente a uma dificuldade de encontrar um candidato natural?

A renovação de quadros partidários é sempre muito difícil, num contexto no qual os partidos são relativamente fracos no Brasil. O PSB até tem uma inserção nacional, mas ele é muito mais forte no estado que nacionalmente.

Então ele tem sim uma dificuldade, existem brigas e fragilidades internas que dificultam a renovação política. Além disso, há o desgaste, de não ter candidatos viáveis para apresentar. É uma combinação de fatores.

Na pesquisa Vox Populi, diz que Lula tem uma influência muito forte, com 35% do eleitorado dizendo votar com certeza, 26% alegando que poderia votar e 19% afirmando não votar no seu indicado. O apoio do petista seria necessário para o PSB viabilizar seu candidato, diante dessa falta de nomes?

Diria que é importantíssimo, mas não essencial. O PSB é muito forte, tem uma marca, o prefeito e o governo. Ele conseguiria, sim, promover um candidato viável, mas a ajuda de Lula ajuda bastante, porque de fato Pernambuco é um estado onde o lulismo é muito forte. Dessa forma, é muito importante o endosso de Lula.

O contrário acontece com Bolsonaro. Em Pernambuco, 56% do público diz que não votaria no candidato apoiado pelo presidente. Podemos dizer que seu candidato teria a candidatura inviabilizada?

Provavelmente o candidato não vai querer o endosso de Bolsonaro, pois deve estar melhor sem o explícito endosso do presidente. Não devemos ver tanto a imagem de Bolsonaro, pelo menos na disputa ao Governo. Talvez alguma disputa ao senado obrigue isso, mas ao Governo não é vantagem.

A oposição coloca um palanque com Raquel Lyra (PSDB), outro com Miguel Coelho (DEM)... O PSB não tem mais Eduardo Campos, Paulo Câmara não deve ser candidato a cargo eletivo, assim como Geraldo Júlio. Diante da falta de quadros naturais no PSB, não seria o momento de a oposição se unir?

Acho que é viável, porque os candidatos não estão pensando, necessariamente, em ganhar esta eleição. Eles querem se apresentar como candidatos viáveis, quem participa de uma eleição está viabilizando candidaturas futuras.

Apesar de Eduardo Campos não poder participar da campanha, seu legado ainda é muito forte no estado. João Campos, seu filho, se elegeu muito pelo reconhecimento do pai. Paulo Câmara se elegeu pela conexão com Eduardo Campos. Esse legado, assim como o de Miguel Arraes, ainda é forte e consegue viabilizar candidatos.

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