Nacionalização da campanha

PSB vibra com denuncias da Folha de São Paulo contra Codevasf. Esperam que escândalo atinja Miguel Coelho

Nos bastidores, denúncias de irregularidades na estatal alimentam campanha ao governo do Estado

Jamildo Melo
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Jamildo Melo
Publicado em 18/04/2022 às 15:18
WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO
CÁLCULO Desafio de FBC seria não atrapalhar os projetos dos filhos, Miguel Coelho e Fernando Filho - FOTO: WALDEMIR BARRETO/AGÊNCIA SENADO
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A mensagem circulou mais cedo, entre os socialistas no Estado. "Bom dia! Já viram o ex-prefeito de Petrolina e o pai dele brilhando na manchete da Folha de São Paulo?". Miguel Coelho é candidato pela oposição. Desde o começo da peleja, os socialistas ja haviam planejado associar o jovem candidato com a imagem do pai.

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Jornal de São Paulo cita problemas na Codevasf, reduto dos Coelhos - Reprodução

Veja resumo abaixo

Licitações de pavimentação afrouxadas pela estatal federal Codevasf para escoar emendas parlamentares no governo Bolsonaro já resultam em obras precárias, paralisadas e superfaturadas.

A Codevasf, entregue por Bolsonaro a partidos do centrão em troca de apoio político, cresceu em contratos no atual governo e expandiu seu foco e sua área de atuação —tudo isso sem planejamento e com controle precário de gastos.

Ao mesmo tempo, a estatal se transformou num dos principais instrumentos para escoar a verba recorde das emendas, distribuídas a deputados e senadores com base em critérios políticos e que dão sustentação ao governo no Congresso.

Esse fluxo de verbas e obras ocorre por meio de uma manobra licitatória que deixa em segundo plano o planejamento, a qualidade e a fiscalização, abrindo margem para serviços precários, desvios, superfaturamentos e corrupção.

Pernambuco e Alagoas


Algumas das vias examinadas estão em Barra de São Miguel, município no litoral alagoano que tem como prefeito Benedito de Lira (PP-AL), pai do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

Como a Folha mostrou em dezembro passado, Barra de São Miguel foi beneficiada com a destinação de R$ 4,7 milhões em 2021 e de R$ 5,8 milhões em 2020 por meio das chamadas emendas de relator.

Com apenas 8.400 habitantes, é o município alagoano que mais recebeu recursos deste tipo de emenda proporcionalmente à sua população.

Em Pernambuco, no primeiro ano do governo Bolsonaro, em 2019, uma concorrência de pavimentação destoou do padrão em razão de a pregoeira (autoridade responsável pela disputa online) ter desclassificado 18 das 19 licitantes.

A única que sobrou no páreo, a Liga Engenharia Ltda, venceu com proposta mais cara para os cofres da Codevasf. Uma das desclassificadas recorreu ao TCU, que julgou as eliminações como irregulares.

Após o caso chegar ao tribunal de contas, a empreiteira deu um desconto no preço que levou a uma economia de R$ 1,3 milhão para a estatal.

A Liga Engenharia tem como um de seus sócios Pedro Garcez de Souza, que é cunhado de um sobrinho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ex-líder do governo no Senado.

 

Em um relatório da CGU relativo a contratos de pavimentação em Pernambuco, os fiscais afirmaram que causava estranheza o fato de a Liga Engenharia somente participar de licitações promovidas pela Codevasf.

"Tal preferência exclusiva pode indicar falha nos controles internos das licitações", segundo o levantamento da controladoria, em um capítulo em que relata a "ausência de procedimentos formais para coibir e identificar práticas ilegais entre as empresas participantes de pregões eletrônicos."

A Folha esteve em Petrolina (713 km de Recife) no fim do ano passado e encontrou uma pavimentação precária decorrente de um contrato da Codevasf abastecido com verbas destinadas pelo senador Bezerra Coelho, que ganhou até apelidos.

A obra federal é chamada de farofa ou sonrisal, em referência ao esfarelamento dos trechos pavimentados, que derrete com o forte calor, gruda nos calçados dos moradores e, quando se quebra em pedaços, começa a esfarelar.

Após a publicação da reportagem, o então prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União-PE), filho do senador, reconheceu a má qualidade da pavimentação e culpou a empreiteira do Maranhão pela precariedade do serviço. Agora Miguel Coelho é pré-candidato ao governo pernambucano.

Outro lado

Quanto à concorrência vencida pela empresa Liga Engenharia, a Codevasf declarou que a empreiteira foi contratada após processo licitatório regular e a unidade técnica do TCU concluiu que não houve superfaturamento.

"Relações sociais ou familiares existentes entre sócios de empresas participantes de pregões e terceiros são desconhecidas e não integram o rol de critérios de classificação ou desclassificação", afirma.

Um acervo técnico apresentado pela Liga Engenharia mostrou a prestação de serviços para órgãos públicos no estado da Bahia, completou a estatal sobre o assunto.

Em relação ao asfalto "farofa" em Petrolina, a Codevasf relatou que uma inspeção verificou que o problema se deve à presença de um lençol freático raso, identificado após o período de chuvas.

"Seu rebaixamento forçado comprometeria estruturalmente as edificações da área. A Codevasf tem avaliado alternativas, como um programa de macrodrenagem da quadra em que a rua está localizada."

Procuradas pela reportagem da Folha por email e telefone, as empreiteiras Liga Engenharia e Enciza não se manifestaram.

 

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