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Marianne Peretti, luz no meu caminho

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Jamildo Melo

Publicado em 02/05/2022 às 10:45 | Atualizado em 02/05/2022 às 10:57
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Por Márcia Chamixaes
Arquiteta e designer de iluminação

Minha primeira viagem a Brasília foi ainda como estudante nos primeiros anos da Escola de Arquitetura da UFPE. No roteiro, visita às principais obras de Oscar Niemeyer, com destaque para a Catedral de Brasília e o Panteão da Liberdade - Memorial Tancredo Neves.

A visita à Catedral foi um deslumbramento. Aquela luz filtrada, vinda dos vitrais da icônica artista franco-brasileira Marianne Peretti, fazia com que o céu azul do Brasil fosse a visão do paraíso, harmônico e belo. Uma luz ao mesmo tempo acolhedora e libertadora. Saí de lá renovada.

O Panteão estava ainda em obras. Era o ano de 1985 e a memória não me permite relembrar com detalhes como eu e mais duas colegas da Arquitetura conseguimos entrar, mas o fato é que estudante obstinado consegue tudo mesmo! Fomos surpreendidas com a presença de Marianne, que estava no alto da laje orientando a instalação da estrutura de ferro do vitral do edifício. Fiquei inicialmente paralisada mas tratei logo de me aproximar da artista que, aos 20 anos, já admirava muito.

Não havia celulares, e graças a Deus consegui guardar para sempre o que presenciei, desde a cor do céu dourado do cerrado até a sensação de que eu estava participando de um momento histórico não só para a arquitetura brasileira mas também para as mudanças no modo de vida da nossa sociedade. Marianne naquele momento simbolizava para mim um futuro de beleza, leveza e liberdade. Uma mulher muito à frente de seu tempo.

Ali mesmo nos despedimos e somente dez anos depois, já arquiteta formada, nos reencontramos quando fui indicada para auxiliá-la com a iluminação de uma exposição no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco - MAC. Foi grande e rápido o entrosamento entre nós, e a partir daquele evento fui convidada outras vezes para compor sua equipe. Com ela aprendi tudo sobre iluminação de vitrais, luz natural para o dia e luz artificial com precisão para a noite. Pouca intensidade, um segredo para manter a fidelidade das cores. "Este não é o tom do meu lilás, então tente novamente", me dizia.

Como artista profissional, Marianne era firme e incansável em seus resultados, sem abrir mão da delicadeza da arte, exemplo que me inspira até hoje. Seu trabalho possibilitava a convivência da luz e da sombra sempre de forma equilibrada, criando espaços para experiências únicas aos seus usuários.

Marianne era generosa e amiga, bem humorada, incentivadora e acolhedora, uma luz para quem a conheceu de perto. Para mim foi um grande privilégio tê-la conhecido e compartilhado da sua amizade.

Adeus, querida Marianne! Muito grata por seus ensinamentos! Sua luz traduzida na beleza das obras vai continuar iluminando o caminho de muitas gerações, levando harmonia, leveza e liberdade ao coração de quem as aprecia.

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