Opinião

Joe Biden está de olho no golpe. Por Ricardo Leitão

Ataques de Bolsonaro à democracia ajudam na proliferação de rumores de um novo golpe militar no Brasil

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Jamildo Melo

Publicado em 11/05/2022 às 15:06 | Atualizado em 11/05/2022 às 16:03
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Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog

William Burns, o poderoso diretor geral da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), esteve no Brasil em julho de 2021 para uma reunião, no Palácio do Planalto, com Jair Bolsonaro, o ex-general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e o então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Burns, a mais alta autoridade dos Estados Unidos a se reunir em Brasília com o desgoverno Bolsonaro, foi claro e objetivo: Sua Excelência deveria parar de lançar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, o que estava preocupando o presidente Joe Biden.

Em seguida, Burns jantou, na casa do embaixador dos EUA, Todd Chapman, onde estavam presentes o ex-general Heleno e o então ministro da Casa Civil, o ex-general Luiz Eduardo Ramos. O tom foi o mesmo da audiência anterior com Bolsonaro: as eleições são um assunto com o qual as autoridades não deveriam mexer.

Os encontros com assessores de alto coturno do governo Biden não cessaram. Em 5 de agosto de 2021, Bolsonaro recebeu a visita da Jake Sulivan, acompanhado de Juan Gonzalez e Ricardo Zuniga, dirigentes do Conselho de Segurança Nacional para o Hemisfério Sul. Segundo fontes do Planalto, Bolsonaro disse aos enviados de Biden que a derrota de Donald Trump foi uma fraude e o mesmo risco corria o Brasil, com a votação pela urna eletrônica, em 2 de outubro.

Até hoje Trump – líder espiritual de Bolsonaro – não reconheceu a vitória de Biden, no que é seguido por milhões dos que nele acreditam. Alega, sem provas, que a fraude aconteceu na votação pelos Correios, uma tradição nas eleições norte-americanas. No Brasil, não há votação pelos Correios, mas há votação pela urna eletrônica desde 1996. Coincidentemente, o equipamento sofre permanentes ataques de Sua Excelência, acusado de ser permeável a fraudes ao longo do processo eleitoral. Caso seja derrotado, Bolsonaro vai “denunciar o roubo” e tentar impedir a posse do oponente vitorioso, como fez Trump?

William Burns foi despachado ao Brasil para levar resposta a essa pregunta a Biden. Em Brasília, cada vez mais cresce o sentimento de que essa seria a alternativa da direita, caso fique inviável um golpe de Estado antes das eleições. Para tanto, seria necessário que Bolsonaro fosse derrotado por uma pequena margem de votos – o que comprovaria sua força eleitoral – e que o vencedor fosse Luiz Inácio Lula da Silva – que continua a sofrer forte oposição nas Forças Armadas.

Tudo isso já está acontecendo, não se trata de um delírio com o golpismo. Bolsonaro faz ataques à democracia e à urna eletrônica desde o início de seu desgoverno, mesmo tendo sido eleito por votação eletrônica em 2018. Exigiu que o voto passasse a ser impresso (mudança negada pela Câmara dos Deputados) e, recentemente, que houvesse uma apuração paralela pelas Forças Armadas, proposta considerada inconstitucional e rechaçada pelo Tribunal Superior Eleitoral, com o apoio do Supremo Tribunal Federal, duas instituições sempre afrontadas por Sua Excelência.

O caminho de Jair Bolsonaro é o da radicalização, da negação e da prática golpista. Trata-se do único candidato à Presidência da República que defende que o povo se arme para defendê-lo e que transformou o Palácio do Planalto em um polo irradiador de ódio e negacionismo. Seu desgoverno é o maior mal que já desabou sobre o Brasil desde a redemocratização, em 1985. Sua permanência no poder será um suicídio coletivo.

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