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'O homem certo, no lugar certo, na hora certa', por Ricardo Leitão

Em artigo, Ricardo Leitão afirma: "é dever de todos os democratas apoiar Edson Fachin"

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Augusto Tenório

Publicado em 17/05/2022 às 14:10
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Luís Edson Fachin, 64 anos, gaúcho de Rondinha, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não altera a voz nem em debates jurídicos mais acalorados. Filho de um agricultor e de uma professora, viveu infância e adolescência de privações, necessitando vender laranjas nas ruas para ajudar nas despesas da família.

Passado meio século desses tempos difíceis, Fachin é agora o homem certo, no lugar certo, à frente do TSE. Há semanas sofre pressões da extrema direita bolsonarista e das Forças Armadas, acusado injustamente de favorecer os adversários de Jair Bolsonaro. Em tom sereno, mas duro, deu a resposta: "Quem trata de eleições são forças desarmadas. E, portanto, as eleições dizem respeito à população civil, que de maneira livre e consciente escolhe seus representantes. Logo, diálogo sim, colaboração sim, mas na Justiça Eleitoral quem dá a palavra final é a Justiça Eleitoral. A Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais estará aberta a se dobrar a quem quer que seja, tomar as rédeas do processo eleitoral".

O presidente do TSE agradeceu o apoio das Forças Armadas, notadamente no transporte das urnas eletrônicas para locais remotos na Amazônia. No momento Fachin encerrava os testes que confirmaram a inviolabilidade das urnas, permanentemente atacadas - como permeáveis a fraudes - por Bolsonaro e seus súditos. A campanha negacionista é alimentada diariamente pelo ódio das redes sociais, aprofundando dúvidas quanto à evolução do processo eleitoral. Para Jair Bolsonaro, levantar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas - usadas no Brasil desde 1996, sem problemas - “é assegurar a lisura das eleições”. Evidentemente, uma mentira. Fragilizar a urna, instrumento da expressão democrática, é fragilizar a própria democracia e abrir espaço para um golpe de Estado, alternativa do bolsonarismo face a constatação da derrota eleitoral.

Ao contrário de Fachin, Bolsonaro é o homem errado, no lugar errado, na hora errada. Não há perspectiva de que o Brasil escape do buraco em que foi afundado caso Sua Excelência permaneça no poder. Esse é o pior governo que já dirigiu o País, e vai deixar, como legado, uma ruína que engolfará gerações. A cinco meses das urnas de 2 de outubro, sequer temos certeza se haverá eleições; caso haja, se o vencedor será proclamado e, se proclamado, assumirá a cadeira no Palácio do Planalto. Desde 1985, iniciado o processo de redemocratização, nunca os brasileiros se viram em tamanho caos político.

Caos não surge, se cria e se agrava. Nisso Bolsonaro é mestre, até sugerindo uma guerra civil, como fez em 11 de maio, em seu pronunciamento semanal nas redes sociais: “Somente os ditadores temem o povo armado. Eu quero que todo cidadão de bem possua sua arma para resistir à comunização. Não queremos outras cores diferentes do verde-amarelo na nossa bandeira.”

Qual a possibilidade de dialogar, em padrões minimamente civilizados, com candidato à Presidência da República que defende que seus seguidores se armem para que seu desgoverno continue e lidera uma seita de fanáticos capazes de assassinar seus adversários?

É dever de todos os democratas apoiar Edson Fachin; o Tribunal Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal; a Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB) e todas as instituições que lutam, com o que dispõem, para assegurar as eleições, em um dos momentos mais decisivos da República. Jair Bolsonaro não representa nada além do pior passado: o que golpeou a democracia, prendeu, censurou, torturou, exilou e assassinou; o que fechou o Congresso e cassou parlamentares; o que por 21 anos marcou uma geração com sombra, dor e tristeza.

Renova-se o dever de perguntar como esse homem, de uma ignorância fulgurante, acusado de planejar um atentado terrorista no Rio de Janeiro, conseguiu em 2018 cravar suas garras nos costados do Brasil. Não faltam e não faltarão hipóteses e teses para explicar o que parecia impossível. Mas ele está aí e vai tentar ficar: admitindo disputar o voto da urna eletrônica, que tenta implodir, ou pela força de um golpe de Estado, caminho de sua preferência pessoal e, se necessário, por meio de uma guerra civil.

Nunca duvidem de um homem que boicotou a vacinação de crianças contra a pandemia. Ele vai tentar ficar, atirando com o que dispuser. Toda atenção será pouca. Jair Messias Bolsonaro é o maior perigo com que se defronta o Brasil.

Por Ricardo Leitão

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