É a economia, estúpido! Por Ricardo Leitão
Dirigentes de vários países, para conter a elevação dos preços dos combustíveis em seus países, adotaram medidas emergenciais, como subsidiar a gasolina e o óleo diesel. No Brasil, Jair Bolsonaro trocou o ministro de Minas e Energia e, pela terceira vez, o presidente da Petrobras.
Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog
Commodities são mercadorias cujos preços, cotados principalmente em dólar, variam de acordo com fatores internacionais, às vezes mais influentes do que a tradicional lei da oferta e da procura. O petróleo é uma commodity. Nas últimas semanas, seu preço subiu em decorrência da invasão da Ucrânia pela Rússia. Dirigentes de vários países, para conter a elevação dos preços dos combustíveis em seus países, adotaram medidas emergenciais, como subsidiar a gasolina e o óleo diesel.
No Brasil, Jair Bolsonaro trocou o ministro de Minas e Energia e, pela terceira vez, o presidente da Petrobras. Só faltou publicar um decreto no Diário Oficial da União determinando que os preços dos combustíveis serão definidos, a cada mês, por plebiscito nacional. O resultado da votação seria em seguida chancelado por maioria de dois terços do Congresso.
Sua Excelência talvez saiba o que é uma commodity e que o petróleo seja essa coisa estranha. No entanto, sabe muito mais que a escalada dos preços dos combustíveis está alimentando a voracidade da inflação no Brasil, o que atinge todos os segmentos da população e ameaça gravemente a sua reeleição. O problema é que, a exemplo de outras crises. Bolsonaro não sabe o que fazer.
Especialistas e economistas destacam que não adianta trocar o ministro de Minas e Energia nem o presidente da Petrobras. A empresa, a maior estatal brasileira, atua no mercado externo como importadora e exportadora e, se não acompanhar a evolução dos preços, pode enfrentar desequilíbrios financeiros. Todos os ex-presidentes da estatal demitidos alertaram Sua Excelência quanto ao risco. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) divulgou comunicado afirmando que o Brasil pode enfrentar desabastecimento de óleo diesel no segundo semestre, em função da escassez do produto no mercado internacional. O aumento do preço daí resultante deflagraria aqui uma greve de caminhoneiros, comprometendo o abastecimento e acelerando a inflação.
Talvez Fabrício Queiroz, o veterano consultor financeiro do clã Bolsonaro desde os tempos das “rachadinhas”, possa aconselhar Sua Excelência a respeito das nuvens escuras no horizonte. Porém, talvez nem ele, com tantos serviços prestados. Nada faz o presidente recuar de sua determinação de se manter no poder (“Daqui só quem me tira é Deus”).
Seu maior desafio é que a crise dos combustíveis aprofunda e espalha os danos da inflação, corroendo sua popularidade a cinco meses da eleição. É certo que Sua Excelência mantém, em qualquer cenário, uma base de 30% de intenções de votos e daí não cai – mas também não sobe. Candidato da direita, ele precisa atrair votos no centro, o mesmo movimento que faz Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de uma base de esquerda. A dificuldade maior, contudo, é de Bolsonaro, à frente do pior governo da história do Brasil, que agora luta para não ser derrotado no primeiro tempo.
A possibilidade, embora remota, existe, como antes existiu a mesma chance para Sua Excelência, nos tempos melhores que antecederam a tragédia da pandemia. Bolsonaro vai buscar o que perdeu, sem dúvida. Para se livrar de desgastes pessoais, trocará o presidente da Petrobras quantas vezes for necessário, culpando-o pelos aumentos dos preços dos combustíveis; vai também culpar os governadores e o Congresso; a Imprensa e o Supremo Tribunal Federal, acusando-os de perseguição. Escaparão da ira apenas Fabrício Queiroz e Vladimir Putin, seu novo parceiro internacional, carrasco da Ucrânia.
A probabilidade de esse novo piti presidencial não dar em nada é enorme. A inflação que, anualizada, já supera os 12%, não vai ceder e continuará devorando votos até o dia das eleições. Nenhuma das grandes crises que marcam o desgoverno será solucionada. No plano mundial, Bolsonaro se tornou um pária, visto e tratado como um exótico líder tropical de extrema direita, incapaz de expor e defender qualquer argumento consistente.
No entanto, sua obsessão por continuar no poder – entre outras razões, para não ser preso – continua viva, como o plano do bolsonarismo de um golpe de Estado permanece vivo. Jair Bolsonaro nunca teve, não tem e nunca terá compromisso com a democracia. Ele representa o pior passado do Brasil, que há muito tempo precisa ser vencido, morto e definitivamente sepultado.