Opinião

É a economia, estúpido! Por Ricardo Leitão

Dirigentes de vários países, para conter a elevação dos preços dos combustíveis em seus países, adotaram medidas emergenciais, como subsidiar a gasolina e o óleo diesel. No Brasil, Jair Bolsonaro trocou o ministro de Minas e Energia e, pela terceira vez, o presidente da Petrobras.

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Jamildo Melo

Publicado em 29/05/2022 às 11:27 | Atualizado em 29/05/2022 às 11:57
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Por Ricardo Leitão, em artigo enviado ao blog

Commodities são mercadorias cujos preços, cotados principalmente em dólar, variam de acordo com fatores internacionais, às vezes mais influentes do que a tradicional lei da oferta e da procura. O petróleo é uma commodity. Nas últimas semanas, seu preço subiu em decorrência da invasão da Ucrânia pela Rússia. Dirigentes de vários países, para conter a elevação dos preços dos combustíveis em seus países, adotaram medidas emergenciais, como subsidiar a gasolina e o óleo diesel.

No Brasil, Jair Bolsonaro trocou o ministro de Minas e Energia e, pela terceira vez, o presidente da Petrobras. Só faltou publicar um decreto no Diário Oficial da União determinando que os preços dos combustíveis serão definidos, a cada mês, por plebiscito nacional. O resultado da votação seria em seguida chancelado por maioria de dois terços do Congresso.

Sua Excelência talvez saiba o que é uma commodity e que o petróleo seja essa coisa estranha. No entanto, sabe muito mais que a escalada dos preços dos combustíveis está alimentando a voracidade da inflação no Brasil, o que atinge todos os segmentos da população e ameaça gravemente a sua reeleição. O problema é que, a exemplo de outras crises. Bolsonaro não sabe o que fazer.

Especialistas e economistas destacam que não adianta trocar o ministro de Minas e Energia nem o presidente da Petrobras. A empresa, a maior estatal brasileira, atua no mercado externo como importadora e exportadora e, se não acompanhar a evolução dos preços, pode enfrentar desequilíbrios financeiros. Todos os ex-presidentes da estatal demitidos alertaram Sua Excelência quanto ao risco. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) divulgou comunicado afirmando que o Brasil pode enfrentar desabastecimento de óleo diesel no segundo semestre, em função da escassez do produto no mercado internacional. O aumento do preço daí resultante deflagraria aqui uma greve de caminhoneiros, comprometendo o abastecimento e acelerando a inflação.

Talvez Fabrício Queiroz, o veterano consultor financeiro do clã Bolsonaro desde os tempos das “rachadinhas”, possa aconselhar Sua Excelência a respeito das nuvens escuras no horizonte. Porém, talvez nem ele, com tantos serviços prestados. Nada faz o presidente recuar de sua determinação de se manter no poder (“Daqui só quem me tira é Deus”).

Seu maior desafio é que a crise dos combustíveis aprofunda e espalha os danos da inflação, corroendo sua popularidade a cinco meses da eleição. É certo que Sua Excelência mantém, em qualquer cenário, uma base de 30% de intenções de votos e daí não cai – mas também não sobe. Candidato da direita, ele precisa atrair votos no centro, o mesmo movimento que faz Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de uma base de esquerda. A dificuldade maior, contudo, é de Bolsonaro, à frente do pior governo da história do Brasil, que agora luta para não ser derrotado no primeiro tempo.

A possibilidade, embora remota, existe, como antes existiu a mesma chance para Sua Excelência, nos tempos melhores que antecederam a tragédia da pandemia. Bolsonaro vai buscar o que perdeu, sem dúvida. Para se livrar de desgastes pessoais, trocará o presidente da Petrobras quantas vezes for necessário, culpando-o pelos aumentos dos preços dos combustíveis; vai também culpar os governadores e o Congresso; a Imprensa e o Supremo Tribunal Federal, acusando-os de perseguição. Escaparão da ira apenas Fabrício Queiroz e Vladimir Putin, seu novo parceiro internacional, carrasco da Ucrânia.

A probabilidade de esse novo piti presidencial não dar em nada é enorme. A inflação que, anualizada, já supera os 12%, não vai ceder e continuará devorando votos até o dia das eleições. Nenhuma das grandes crises que marcam o desgoverno será solucionada. No plano mundial, Bolsonaro se tornou um pária, visto e tratado como um exótico líder tropical de extrema direita, incapaz de expor e defender qualquer argumento consistente.

No entanto, sua obsessão por continuar no poder – entre outras razões, para não ser preso – continua viva, como o plano do bolsonarismo de um golpe de Estado permanece vivo. Jair Bolsonaro nunca teve, não tem e nunca terá compromisso com a democracia. Ele representa o pior passado do Brasil, que há muito tempo precisa ser vencido, morto e definitivamente sepultado.

 

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