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Bravatas levaram PCO a crescer digitalmente, mas por causa delas perderá seu único palanque: as redes

O PCO, partido comunista que defende Monark e Roberto Jefferson, terá redes sociais bloqueadas após determinação de Alexandre de Moraes

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Augusto Tenório

Publicado em 20/06/2022 às 18:54 | Atualizado em 20/06/2022 às 19:02
Análise
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Defender Monark, um sujeito a favor da criação de um partido nazista no Brasil, e celebrar o avanço do grupo fundamentalista religioso Talibã, enquanto promove ideais revolucionários de esquerda e ataques ao STF. Essa contradição ideológica e discursiva atraiu holofotes ao Partido da Causa Operária (PCO), que está prestes a perder as redes sociais por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Criada em 1996 por dissidentes do PT e posicionada de maneira acuada no espectro político-ideológico, a legenda tenta dar sinais de vida com disparates digitais. A cada confusão viral envolvendo a política, o PCO tem a capacidade de se tornar assunto pelos seus posicionamentos, angariando novos inscritos e até alguns filiados, que foram de 3.723 em dezembro de 2018 para quase 5 mil em maio deste ano.

Quando Roberto Jefferson foi detido pela Polícia Federal no inquérito das milícias digitais, em agosto do ano passado, o PCO pediu sua liberdade, o tratando como 'preso político'. Pouco após a queda de Cabul para as forças do Talibã, o partido considerou a retirada das tropas dos EUA como sinal da crise do “imperialismo estadunidense” e ainda colocou o avanço do grupo extremista como uma “enorme vitória sobre os piores inimigos dos oprimidos de todo o planeta”. Quem discorda é “a favor do colonialismo”.

No Instagram, o perfil do partido fez publicação pela dissolução do Supremo Tribunal Federal e a eleição de juízes com mandato. O número de curtidas foi mais de cinco vezes maior que as publicações anteriores e, nos comentários, foi possível notar apoio de perfis de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). No Twitter, chamaram o ministro Alexandre de Moraes de “skinhead de toga” após o caso de Sérgio Reis.

Esses posicionamentos, sejam eles parte de uma estratégia digital ou somente costuras de um retalho ideológico, rapidamente viralizaram e levaram o PCO aos assuntos mais comentados na rede social. A sigla chamou atenção até do presidente da República, que defendeu o partido.

“Cada vez mais nos tolhem, derrubam páginas, desmonetizam, ameaçam. [As redes] estão sendo ameaçadas de banimento pelo ministro Alexandre de Moraes se não fecharem a página do PCO. O que é PCO, meu Deus do céu? É ultrarradical de esquerda. Deixa a página deles aberta. Porque chamaram lá o ministro Moraes de ‘skinhead de toga’. Olha o que me chamam o tempo todo nas redes sociais", disse Bolsonaro.

Posicionamentos viabilizaram a existência digital do PCO até agora

Com posicionamentos radicais, os perfis da sigla ficam em alta na taxa de interações nas redes sociais e seu alcance é ampliado. O presidente do partido, Rui Costa Pimenta, parece seguir a mesma receita de engajamento e começou a falar de forma mais constante sobre esses assuntos em seu perfil no Twitter e no canal CausaOperariaTV, do YouTube.

Na rede de compartilhamento de vídeos do Google, a conta tem mais de 110 mil inscritos. Nos últimos três meses, segundo dados da SocialBlade, o CausaOperariaTV ganhou 4,4 vezes mais inscritos que a média de janeiro e fevereiro.

O faturamento com o canal, ainda de acordo com a plataforma, pode estar entre U$ 216 e U$ 3.5 mil por mês. Nos últimos trinta dias, seus vídeos somaram quase 865 mil visualizações. No mundo offline, o PCO produz o Jornal Causa Operária, vendido por R$ 3.

Mas, para além do cultivo de seguidores, curtidas e comentários nas redes sociais para espalhar seus ideais, a extrema esquerda brasileira só tem força na teoria da extrema direita e nos engenhos retóricos de seus representantes.

Afinal, apesar de espalhafatoso no universo digital, o PCO é uma sigla considerada nanica, com apenas 4.993 filiados, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, e zero políticos eleitos, seja em âmbito nacional, estadual ou municipal.

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