It's Time: Renato Saraiva calça as luvas na briga pelo comando da OAB em Pernambuco

O advogado e empreendedor educacional Renato Saraiva, 55 anos de idade, sempre gostou de lutas. Entre 2009 e 2015, anos depois de ter fundado um pioneiro e ultra bem sucedido curso de educação à distância no Brasil, teve a ideia de promover seus cursos associando-os ao MMA (Artes Maciais Mistas). Não demorou muito, patrocinou e virou amigo pessoal de nomes internacionais do esporte como José Aldo e Júnior Cigano. A ideia era simples. Se os lutadores ganhassem a contenda, os alunos poderiam ter 40 ou 50% de desconto no curso online.

Sucesso absoluto, com a chamada Promoção Nocaute, até que certa feita o lutador Renan Barão, o lutador patrocinado da vez, na batalha para bater o peso, caiu da banheira, bateu a cabeça e saiu do card principal do evento de MMA. Bateu o desespero. "Eu precisava fazer dinheiro e precisava que ele lutasse. Foi ai que eu tive a ideia de lançar a promoção Baixe a Guarda, com desconto para todo mundo. Nunca vedemos tanto", diverte-se hoje.

Como era amigo e patrocinador dos lutadores, Renato Saraiva também ganhava ingressos para ir a Las Vegas e sentar na primeira fila. Foi então que ele teve outra ideia demolidora. Na hora da subida ao ringue, já com as luvas calçadas e o protetor bucal, os lutadores passavam por uma checagem final, bem em frete às câmaras de TV, para o mundo ver.

"Eram outros tempos... o Whatsapp foi criado no ano em que nos nascemos. O Instagram só veio em 2010. Intuitivamente, eu então decidir abrir uma bandeira do Brasil colada à bandeira do CERS (Centro Educacional Renato Saraiva) bem atrás dos lutadores. A direção do MMA acabou proibindo nosso senso de oportunidade depois, mas a gente já estava conhecido em todo Brasil", relembra hoje.

Passados mais de 13 anos, o advogado radicado em Pernambuco há vinte anos se prepara para uma nova batalha e quer desfraldar novas bandeiras em uma eventual luta pelo comando da prestigiosa presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pernambuco.

Educação como porta de entrada

Com sua experiência de conciliador no Ministério Público do Trabalho (MPT), empreendedor e inovador no ambiente virtual de educação à distância, pretende apresentar-se nas eleições do ano que vem como uma alternativa à polarização das eleições passadas, sem estar distante da base dos advogados. "A OAB não pode ser elitizada como está hoje", diz.

Sariva fala com a autoridade de ter sido ele mesmo um garoto pobre, nascido na favela de Vigário Geral, na baixada fluminense. Graças aos livros e à educação, o CERS é considerado atualmente um dos maiores cursos preparatórios para concurso do Brasil, na modalidade EAD.

Como palestrante, Renato Saraiva conquistou o título internacional de empreendedor Endeavor, com atuação nacional.

"Pernambuco precisa de uma educação voltada para negócios (business). As pessoas não são ensinadas a aprender. Elas são ensinadas a depender", avalia criticamente a educação nos dias de hoje. Os sete livros escritos já atingiram a marca de 2 milhões de exemplares vendidos.

Medo de entrar em um novo ringue o empreendedor já deu provas que nunca teve. "Com um bom salário no MPT, Renato poderia ter se acomodado. No entanto, ele quiz proporcionar a outras pessoas ensino de qualidade, para que elas também pudessem ter as oportundades que ele teve", diz o amigo e aliado Inácio Feitosa. "Foi uma loucura. Quando todo mundo queria entrar, eu escolhi sair", relembra Renato Saraiva.

"Renato promoveu uma revolução na educação ao sair do modelo presencial em 2009 e ir para o mundo online. Se estiver no destino dele ser presidente da OAB, ele vai fazer uma nova revolução na ordem", afirma o aliado Inácio Feitosa.

Foco nos jovens advogados

O advogado Renato saraiva afirma que sua intenção é dar atenção aos jovens advogados. "Na OAB de hoje, os maiores prejudicados são os jovens advogados. A criação da figura do advogado associado é apenas uma forma de fugir ao piso salarial da categoria. É uma grande contradição", critica, encarnando a figura do procurador do trabalho no MPT. No escritório que leva seu nome, os sócios são parceiros, como ele define, dividindo a estrutura e o custo operacional, além da net work que possam gerar.

Fim da eleição indireta

O advogado defende ainda o fim da eleição indireta para os conselheiros nacionais da OAB. "Se a eleição fosse direta, as pessoas que estão lá hoje não estariam lá. Eles não representam a advocacia. Tem custo disputar uma eleição da OAB e é alto. Assim, muitas vezes os grandes escritórios acabam patrocinando as chapas", explica.

"Queremos implantar uma cultura de igualdade de oportunidades, em que todos sejam lembrados, seja o advogado grande, o médio e o pequeno. Hoje não é isto", afirma, citando ainda a necessidade de transparência. "Afinal, são R$ 30 milhões por ano em arrecadação. Os recursos poderiam ser melhor utilizados, com uma OAB para todos, mas hoje não é assim".

Com 55 anos, Saraiva mostra a maturidade de quem aprendeu com os erros no passado.

Em uma das situações, ele conta que chegou a vestir uma camisa de força, para ilustrar uma promoção dos cursos chamada "Deu a louca no CERS". Ele aparecia no vídeo pedindo 'me larguem', enquanto repetia "40% de desconto". Sem que ele soubesse, para dar mais verosimilhança à peça, auxiliares seus espalharam que ele estava mal de saúde. "Foi o maior fracasso da minha vida. Houve muita crítica e a propaganda ficou apenas uma hora no ar. Era um tempo de marketing raiz, hoje eu não faria", explica.

Sem unir a todos

Embora seja defensor da filosofia Vamos Juntos, em seus empreendimentos, Saraiva não conseguiu juntar os cacos na OAB.

"Hoje, não existe alternância de poder, com um mesmo grupo na OAB há 16 anos. Não existe democracia onde não existe alternância de poder. Por isto não houve acordo possível. O ideal era uma chapa única, que pensasse exclusivamente na categoria, mas dificilmente estas pessoas querem abrir mão de privilégios. Como sou neutro, não represento um grande escritório de advocacia, e tem uma grande parte da atual situação que gosta de mim", avalia suas chances.

As rusgas da última eleição ainda estão presentes. O resultado do pleito foi parar na Justiça do Estado. O caso está sendo objeto de um processo que está nas mãos do juiz federal Hélio Sílvio Ourém Campos. A situação entrou com um processo de exceção de suspeição contra o magistrado, que tem 30 anos de atuação na Justiça local. O desfecho pode ocorrer em meio ao processo eleitoral do ano que vem.

Na eleição passada, mesmo sem ser candidato, ele conta que foi vítima de ataques abaixo da linha da cintura. "Diziam que eu iria ser dono da Esa/PE, que ia levar ela para o CERS. Nunca ganhei um real da OAB. Nem aceitaria. A minha grande frustração foi não termos uma terceira via, porque a eleição foi muito polarizada. Tenho que olhar agora para a frente, não podemos ter nenhum clima de beligerância na ordem, até porque não sou polícia, sou advogado", afirma o advogado, em tom de conciliação.

Receio com eleições

"Eleição (e seu clima de disputa) é um ambiente fértil para o diabo. As pessoas revelam o que tem de pior. Não vou fazer isto. Não me tornei cristão para fazer isto", avisa.

No começo da carreira profissional, em 1986, Saraiva foi sargento da Aeronaútica, depois de ter passado em 11º lugar em um concurso nacional. "Sou jurista e professor, além de ex-procurador do Trabalho. Já tive um milhão de alunos, no maior curso preparatório para a OAB no País. E é assim que me defino", declara, classificando-se como uma pessoa de centro e moderado, nem esquerda nem direita.

Com vinte anos morando na cidade, o advogado ilustre virou até cidadão do Recife, pelas mãos do ex-vereador do PSDB André Régis. "Acredito que essa homenagem veio como uma consequência da minha isenção como procurador do trabalho. Como não era de Pernambuco, tinha um grau de independência maior. Não era esquerda nem direita, nem Santa, nem Naútico nem Sport"

Pai de quatro filhos, todos varões, há um ano Renato Saraiva tornou-se cristão por escolha pessoal, como membro da igreja Verbo da Vida, na Zona Norte. Começou ai uma luta pessoal, depois de tanto tempo dedicado ao trabalho.

"Hoje muita coisa que eu não dava valor tem mais valor, e outras coisas que eu não dava tanto valor ganharam mais espaço na minha vida", explica. "Busco ter mais empatia com as pessoas, honrar as pessoas que estão no meu caminho, ser mais grato, valorizar a minha crença, buscar ser mais feliz... não que os problemas tenham diminuído, mas a forma de encará-los é nova", explica o advogado. Renato, vindo do latim Renatus, significa renascido.

Como em 2021 tinha apenas seis anos de atuação como advogado do batente, um jovem advogado por assim dizer, Renato Saraiva achou por pode disputar a presidência na última eleição.

As próximas eleições para a OAB estão marcadas para daqui a um ano. O dia do confronto é 15 de novembro de 2024: que vencerá a disputa? Quem vai baixara guarda? Quem vai vencer por pontos ou por nocaute? Só o tempo poderá decretar o vencedor do próximo round na OAB de Pernambuco.