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Em áudios, Mauro Cid sugere pressão da Polícia Federal na delação; Moraes pede novo depoimento

Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirmou em áudio que PF "não quer saber a verdade"

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Rodrigo Fernandes

Publicado em 22/03/2024 às 9:03
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Áudios do tenente-coronel Mauro Cid, revelados pela Veja, sugerem que ele teria sido pressionado pela Polícia Federal durante os depoimentos da sua delação premiada nas investigações sobre o suposto golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.

Nas mensagens, Cid diz que a Polícia Federal "não quer saber a verdade", e, sim, "confirmar a narrativa deles". As declarações não deixam claro com quem o militar está falando.

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"Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu?", afirma Cid, que cita o ministro Alexandre de Moraes em outro trecho da gravação.

"A lei já acabou há muito tempo. A lei é eles, eles são a lei, o Alexandre Moraes é a lei. Ele prende quando ele quiser, como ele quiser; com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação", diz.

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"Eles são a lei agora. [...] Toda vez eles falavam: 'Ó, mas a sua colaboração está muito boa. (...) 'Você vai ser indiciado por nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa, e mais um termo lá. Só nessa brincadeira são 30 anos [de prisão] para você'", relata Cid.

Defesa não nega áudios

Ao UOL, os advogados de Mauro Cid negaram que ele tenha questionado a conduta da Polícia Federal, mas também não negaram a veracidade dos áudios. Eles afirmaram se tratar de um desabafo em gravações "clandestinas". Veja a nota abaixo.

"Referidos áudios divulgados pela revista Veja, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada".

Cid terá que explicar

Segundo Andreia Sadi, da Globonews, a Polícia Federal sugeriu que Mauro Cid preste novo depoimento ao juiz instrutor do caso para esclarecer os áudios. A oitiva deve acontecer ainda nessa sexta-feira, às 13h, por determinação de Alexandre de Moraes.

A reportagem afirma que a PF pode reavaliar a delação premiada de Mauro Cid, que foi aceita pela instituição em setembro de 2023.

Integrantes da corporação avaliam que os áudios de Cid seriam um recado para o círculo pessoal dele. Fontes da jornalista acreditam que o militar só teria a perder com a conduta.

"Entre militares, o movimento de Cid — se confirmado como gesto a Bolsonaro — é considerado um tiro no pé, uma vez que a investigação já se mostrou bastante aprofundada no que diz respeito ao ex-ajudante de ordens", afirma Sadi.

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