Por Fernando Castilho do JC Negócios
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) optou por punir quem não tem como reagir aos atos do governo. Para quem se assustou com o fato do Nordeste ter sido contemplado 3.035 famílias das 100.020 feitas em janeiro no Programa Bolsa Família é importante não esquecer que a decisão de parar com as novas inclusões começou no segundo semestre do ano passado, ainda com Osmar Terra no ministério da Cidadania, que recebeu a determinação de dar uma parada geral.
O governo achou muito alto o número de 13.3 milhões de famílias e mandou passar um pente fino. Conversa. O número de pessoas que recebem o benefício irregularmente é risível para um programa que atende até 20% de toda a população do Brasil. Gente pobre, miserável e que usa esse dinheiro para comprar comida.
Para entender o alcance dessa atitude do presidente com “os paraíba”, como ele já se referiu aos nordestinos, é preciso entender um pouco da dinâmica da população que recebe esse dinheiro. Os estudos feitos pelo próprio ministério e pela Academia dizem que a dona de casa usa o PBF para assegurar proteína e carboidrato para seus rebentos. O dinheiro que consegue além do programa serve para as outras despesas.
Para quem não sabe o que é miséria, não tem ideia do que uma mãe de família poder ir dormir sabendo que na dispensa tem comida para o dia seguinte. Então, a ideia de parar o cadastramento chega a ser perversa porque estamos falando de comida na barriga de crianças.
Isso não quer dizer que incluir, como foram incluídas, 45.763 famílias do Sudeste e mais 29.308 no Sul, não seja importante, É. Mas é que no Nordeste a fome é maior.
Alguém que nunca passou fome pode dizer: Mas o Nordeste odeia Bolsonaro. No segundo turno das eleições, deu 69,7% dos votos para Fernando Haddad contra 30,3% para o presidente. No Sul, Bolsonaro conseguiu 68,3% dos votos contra 31,7% de Haddad. Tudo isso pode até ser verdade. Mas que diabos de governante é esse que decide atacar quem é tão miserável que não tem sequer como reagir?
O ruim dessa "decisão" de Osmar Terra que, aliás, mudou o seu comportamento de uma forma radical quando foi mantido no ministério de Bolsa Família em relação ao que tinha no governo de Michel Temer, é que o Bolsa Família - pelo seu alcance social - virou referência global. A não inclusão de mais gente é mais uma notícia ruim contra Bolsonaro em nível internacional.
O Nordeste, que concentra 36,8% das famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza na fila de espera do programa. Como a Região tem 939,6 mil famílias em situação de extrema pobreza (com renda familiar per capita abaixo dos R$ 89 mensais) sem acesso ao Bolsa Família isso quer dizer gente passando fome. Além disso, temos 27% da população brasileira com 22,2% dela na faixa de pobreza absoluta quando no Brasil é 11% na média do País.
Mas quem disse que o presidente está preocupado com isso? Ontem, o site oficial do ministério da cidadania mostrava Onyx Lorenzoni, participando da transmissão de vídeo semanal do presidente Jair Bolsonaro, ao vivo, no Facebook.
No dia 20 de fevereiro, o ministro destacou os avanços do Bolsa Família "a partir do início do governo Bolsonaro e o ingresso de novas famílias no cadastro do programa". E esclarecia uma coisa bem interessante. As novas 100 mil famílias que ingressaram em janeiro no programa só tiveram acesso porque 185 mil famílias se emanciparam e adquiriram uma condição melhor deixaram o programa.
Ou seja, a inclusão no Bolsa Família agora depende no número de famílias que pediram para sair dele. O que no Nordeste é muito mais difícil que no Sul e Sudeste. O que configura uma política cruel para com a Região onde vivem os mais pobres do país.
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