Por Fernando Castilho
O presidente Jair Bolsonaro se tornou, neste sábado, o primeiro chefe de estado brasileiro a entrar no Comando do Sul, que supervisiona as Forças Armadas dos EUA na América Latina e no Caribe.
Nem nos governos militares do Brasil, os americanos fizeram esse convite. Mesmo que ao receber Bolsonaro, Trump não tenha prometido redução de tarifas sobre o aço brasileiro.
Os Estado Unidos, de fato, estão dando uma atenção especial ao país, seja pela importância do Brasil que tem o maior e melhor equipamento militar da América do Sul, seja pela questão da Venezuela que tem o terceiro depois do Chile.
Embora todos os militares achem que o Exército venezuelano tenha, neste momento, sérios problemas de suprimentos. Mas ninguém poderá achar que a questão do 5G não estava posta na mesa do sofisticado hotel de Mar-a-Lago, nos arredores de Miami. Estava e Bolsonaro sabia disso.
Ele sabe por que os seus ministros militares lhe disseram que os chineses são hoje o estado da arte na tecnologia 5G. Além disso sabe que para onde o Brasil for, o mercado de países que estão analisando o assunto vai pender.
Ninguém quer saber se o Uruguai fez a melhor escolha ao implantar o 5G chinês. Mas todo mundo quer saber se o Brasil vai importar o modelo americano.
O problema é que o 5G não é uma tecnologia que interessa ao mercado civil. Ela é ferramenta militar quando roda os sistemas de defesa. Ela já ancora o sistema de defesa chinês de ponta a ponta.
Os americanos não forçaram a prisão da vice-presidente financeira da Huawei Technologies, Meng Wanzhou, no Canadá, apenas pelas acusações de fraude para violar sanções impostas pelos Estados Unidos ao Irã. Mas porque a Huawei está invadindo o mercado americano. Eles estão muito preocupados se a linha de produtos da empresa chinesa pode invadir algum sistema de defesa dos Estados Unidos.
Mas esse acordo pode ser uma mão na roda para o Exército brasileiro. Se ele puder comprar uma linha de equipamentos de primeira linha nos pátios de defesa do exército americano sem uso depois da saída dos Estados Unidos das guerras no Oriente Médio. E continuar a receber doações dos americanos.
Pouca gente sabe, mas o Exército está recebendo, de graça, 200 veículos blindados M577A2, 120 obuseiros auto rebocáveis M198, de 155mm e mais seis veículos de apoio aos equipamentos dentro do programa dos americanos a parceiros estratégicos que, naturalmente, também compram equipamentos americanos.
Esse programa é interessante porque os americanos tem estoques astronômicos de máquinas bélicas e em alguns casos o Exército recebeu veículos com pouco mais de 100 quilômetros rodados.
O estoque de produtos é a Disney para qualquer militar de qualquer país. E tudo a preço de ocasião e de doação no programa com países parceiros. Às vezes entregue como doação e por meio de compra de outros itens mais sensíveis. É um Shopping Center para países como o Brasil que querem apenas se manter atualizado sem estar na ponta
O novo acordo entre o Departamento de Defesa dos EUA e Ministério da Defesa do Brasil, conhecido como RDT&E (sigla em inglês para pesquisa, desenvolvimento, testes e avaliação), dá acesso às empresas brasileiras ao mercado americano. Até porque no continente o Brasil é o único país que tem indústria bélica. Mas o anima é que com o novo acordo o Brasil pode se equipar com custo menor.
O Brasil já compra equipamentos americanos tradicionalmente. De morteiros a tanques, blindados, helicópteros, obuzeiros fixos e móveis e, nos próximos meses, deve receber os primeiros aviões de asa fixa que Exército vai usar, o C-23 Sherpa, uma aeronave de transporte militar de categoria média construída pela Short Brothers
E o 5G? Bom essa é a pergunta de U$1 bilhão. Ninguém tem dúvida de que Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo, o general Heleno e os filhos de Bolsonaro, se pudessem, já diziam na Flórida que o Brasil vai de 5G americano.
Mas os ministros militares e outros civis resistem. Conseguiram que a Huawei não fosse proibida de participar. É desejam esticar a corda.
Os ministros militares e os generais sabem que o tapete vermelho de Trump não é por amizade. Mas também sabem que nunca os americanos tiveram um concorrente tão completo e competitivo como a China como ficou claro no efeito global do Corona vírus no setor de suprimentos. Não é como a Rússia que tem poderio militar e nuclear, mas não tem impacto nas linhas de produção dos Estados Unidos.
Resta saber como Bolsonaro vai tratar isso. E digerir o que no menu que beliscou no hotel de Trump era o ingrediente principal mesmo sem estar na mesa embora o sabor final da refeição deixasse bem claro que, em algum momento, ele será discutido.
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