Por Fernando Castilho do JC Negócios
Se ouvirmos com mais cuidado as declarações do ministro Paulo Guedes sobre o impacto do Covi19 e da briga da Rússia com a Arábia Saudita podemos identificar um apelo desesperado do ministro ao presidente Jair Bolsonaro para que o autorize a mandar os textos que sua equipe econômica já escreveu - desde o último trimestre de 2019 - e que Jair Bolsonaro sentou em cima.
Ao falar das duas crises Guedes disse, com os olhos arregalados: "Temos de manter absoluta serenidade e a melhor resposta à crise são as reformas. Vamos mandar a reforma administrativa, o pacto federativo já está lá, vamos mandar a reforma tributária e seguir nosso trabalho. O Brasil tem dinâmica própria de crescimento (...). Se fizermos as coisas certas, o Brasil reacelera. Se fizermos as coisas erradas, o Brasil piora".
Do ponto de vista do ministro da Economia Guedes está certo. O seu papel é de animador da economia. Tem que jogar para cima e dizer que vai dar certo. Mas, a advertência está na ultima frase do parágrafo: Se fizermos as coisas erradas, o Brasil piora.
É como se Guedes falasse diretamente ao presidente: Pelo amor de Deus me ajude a lhe ajudar! Sem um texto, um documento, uma proposta o Congresso não vai ajudar. Se o Executivo não assumir o protagonismo, o Parlamento vai travar tudo.O problema é que Bolsonaro e sua trupe de saltimbancos não está interessado em nada disso. A sensação é de que alguém disse a ele: Presidente essas reformas não ajudam o senhor eleitoralmente em nada. Os resultados nem vão aparecer e na tramitação o senhor só vai levar pancada.
Bolsonaro deve ter percebido que as tais reformas não vão ajudar o seu governo e começou a botar gosto ruim e falar de outros temas. Se você prestar a atenção porque diabos ele, nos Estados Unidos, iria falar de uma possível fraude nas eleições de 2018 que o impediram de se eleger no primeiro turno? Para acontecer o que está acontecendo hoje, inclusive neste JC cuja matéria mais lida e esse assunto.
Um presidente preocupado com a questão, naturalmente, diria que o momento é grave. Temos a ocorrência de duas crises e que é importante o país se unir para vencermos a batalha. Mas quem disse que ele está preocupado com isso?
O presidente costuma dizer que não entende nada de economia. Que o seu posto Ipiranga sem a solução para tudo. Isso ajuda a criar um biombo que lhe protege. Mas a cada dia que passa o país tem a sensação de que o presidente entende sim o contexto e que o gerencia em seu favor eleitoral ou de acordo com as suas redes sociais.
Isso não tem nada a ver com o mundo real. E quando Paulo Guedes diz que a “Índia reviu o crescimento para baixo, a China reviu para baixo. O mundo todo está em desaceleração. Aí vem o Coronavírus, acelerou a queda". Então o mundo está realmente em um momento crítico. Mas o presidente entende que o momento crítico é o risco de ele perder seguidores e inverter a tendência de apoio de seus apoiadores. E ai vai no fundo do baú digital e saca um tema que não tem nada a ver. Mas que tem tudo a ver com o interesse do seu público.
Então, apesar das necessidades das reformas ter virado um mantra internacional com todo mundo pedindo uma ação do governo, dificilmente o presidente vai apoiar ou mandar os projetos de reforma. Se mandar vai torpedear. Então o apelo de Guedes vai ficar nisso mesmo: um apelo.
Quando o presidente voltar a Brasília, o cercadinho vai lhe permitir lançar outro tema de impacto para suas redes sociais. Depois tem as manifestações de domingo e a notícia das reformas vai sair da linha de frente. Vamos crescer no máximo 1% este ano e a economia vai embicar.
O mercado já entendeu que Bolsonaro não apoia as reformas e que mesmo as enviando não vai se emprenhar para aprová-las. E isso já explica por que os estrangeiros estão saindo da Bolsa e o Investimento Estrangeiro Direto parou de crescer. Dinheiro não aguenta desaforo e para os investidores Bolsonaro já disse desaforo demais. E isso não é bom. Inclusive para o governo dele.
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