Por Fernando Castilho, do JC Negócios
O governo federal está fazendo um enorme estardalhaço dizendo que o Banco do Brasil vai reforçar suas linhas de crédito com R$ 100 bilhões, a Caixa Econômica Federal com R$ 75 bilhões e o BNDES vai entrar com R$ 55 bilhões. O Banco do Nordeste anunciou mais 5 bilhões. Se somarmos tudo chegaremos a R$ 235 bilhões. Se a gente escrever, o número é esse R$ 230.000.000,00.
Para o brasileiro comum que no máximo está acostumado com números como R$ 1.000,00, o número é muito grande. E é, mas o que pouca gente sabe é que, por mês, os bancos oferecerem R$ 405 bilhões -numeros de dezembro de 2019.
Ou seja, todo esse barulho do governo com os seus bancos não chega a 65% do que o sistema concede num mês. Então é bom os presidentes dessas instituições deixar de lero-lero. É uma merreca. Não segura a onda num mês.
Isso quer dizer que se o sistema privado – especialmente os três grandes Itaú, Bradesco, Santander e Safra que juntos tiveram R$ 16,2 bilhões de lucro ano passado - não entrar nessa corrente, não vai ser possível fazer muita coisa.
Porque as perguntas que empresários de trabalhadores fazem são. Como fazer para pagar a folha de salários; como ficam os fornecedores; como ficam as despesas de serviços tipo, alugue, luz, água, vale transporte, ticket- restaurante, FGTS, INSS e as despesas do próprio dono. E aqui para nós com esse dinheiro anunciado não vai se chegar a três ou quatro meses.
E mesmo em relação aos bancos públicos até agora, a forma prática, não foi detalhada. No caso do BB, que anunciou R$ 100 bilhões não resolve. Desse total, R$ 24 bilhões são destinados a pessoas físicas, R$ 48 bilhões para empresas (para linhas de capital de giro, de investimento e de antecipação de recebíveis), R$ 25 bilhões para o agronegócio e R$ 3 bilhões para administrações públicas municipais e estaduais.
A Caixa dará apoio às micro e pequenas empresas com redução de juros de até 45% nas linhas de capital de giro, carência de até 60 dias nas operações e linhas de crédito especiais, com até seis meses de carência, para empresas que atuam nos setores de comércio e prestação de serviços. Outros R$ 3 bilhões serão para linhas destinadas a Santas Casas e Hospitais Filantrópicos que prestam serviço ao SUS, para reestruturação de dívidas e novos recursos.
Para a pessoa física, a Caixa anunciou pausa de até 60 dias nas operações parceladas de crédito pessoal, ampliação das linhas de crédito consignado, incluindo aposentados e pensionistas do INSS com taxa menor. Mas ai é empréstimo. O correntista vai se endividar mais.
O caso mais superestimado é do BNDES cujo presidente Gustavo Montezano fez uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro para dizer que o banco vai ampliar as linhas em R$ 55 bilhões. O dinheiro é uma merreca e vai ajudar muito pouco.
A transferência de recursos do Fundo PIS-PASEP para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), no valor de R$ 20 bilhões é espuma. Esse dinheiro já existe e ninguém foi buscar.
A suspensão temporária de pagamentos de parcelas de financiamentos diretos para empresas no valor de R$ 19 bilhões ajuda assim como a suspensão temporária de pagamentos de parcelas de financiamentos indiretos para empresas no valor de R$ 11 bilhões. São R$ 30 bilhões que o banco sabe que não iria receber.
Dinheiro novo que é bom, nada. E aqui para nós R$ 54 bilhões para a ampliação do crédito para micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), por meio dos bancos parceiros é o dinheiro que o banco já empresta por mês.
Do ponto de vista de efetividade, a proposta de adiar o pagamento de tributos federais por alguns meses talvez seja a mais efetiva. Mesmo sabendo que a Receita Federal vai cobrar.
Então o dinheiro não dá para aguentar o tranco. É que em relação ao que o sistema já opera por mês não é muita coisa. Por exemplo, em dezembro os bancos emprestaram aos seus clientes R$ 406 bilhões. As empresas tomaram R$ 200 bilhões e as pessoas físicas pediram R$ 206 bilhões.
O número não está errado. No Brasil, os bancos emprestaram mais às pessoas físicas do que às empresas. Isso revela como as empresas não são alavancadas. Porque os juros são muito altos e difíceis de captar. Então imagina como é que nessa crise elas vão conseguir tomar mais dinheiro emprestados?
A covid-19 vai mostrar como no Brasil a empresa toma pouco dinheiro para produzir. Quando se compara o que a empresa brasileira toma de dinheiro emprestado e se compara com o PIB (R$ 7,2 trilhões) é pouco mais de 20%. Nos demais países isso corresponde a pelo menos 50% do PIB.
O nível de negociação da empresa com os bancos no Brasil é tão baixo que se você somar o que elas tomaram dos bancos para desconto de duplicatas, desconto de cheques de clientes e antecipação de faturas de cartão de crédito chega a R$ 88 bilhões. Isso numa economia do Brasil é quase nada.
Então se os bancos não tomarem a iniciativa de procurar seus clientes e ver como podem ajudar o bicho vai pegar. Se os bancos privados não entrarem no circuito de fato, a coisa vai pegar já em maio. R$ 200 bilhões não serão suficientes.
Ou como disse o presidente da XP Investimentos, Guilherme Benchimol, para quem a possibilidade de crescimento do desemprego chegar a 40 milhões de brasileiros em decorrência da pandemia do coronavírus. Lembrando que hoje no Brasil já existem 10 milhões de desempregados.
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