Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Sem tecnologia, testes e infraestrutura adequada Brasil ainda aprende como identificar a covid-19 na população

O Brasil tanto na rede estatal como na rede privada precisou aprender a trabalhar com esse novo vírus cuja característica é seu altíssimo potencial de infecção laboratorial.

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Publicado em 12/04/2020 às 20:55 | Atualizado em 12/04/2020 às 22:20
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Até essa quinta-feira (18), Pernambuco contava 2.413 leitos, sendo 1.324 de UTI e 1.089 de enfermaria - FOTO: WELLINGTON LIMA/JC IMAGEM

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios

Nos últimos dias, o Boletim Epidemiológico da covid-19 distribuído pelo Ministério da Saúde, em Brasília, surpreendeu pesquisadores e matemáticos de várias partes do mundo ao apresentar queda no número de mortes na sexta-feira (115) e sábado (68) quando tinha chegado ao pico de 141 - na última quinta-feira. Embora neste domingo (12) tenha voltado da subir chegando a 99 mortes. O Brasil tinha neste domingo 1.223 mortes.

Da mesma forma que o número de infectados que desde quinta-feira passou a cair depois do pico 2.210 na quarta-feira chegando a 1.089 no sábado. Embora, também, tenha voltado a subir ontem chegando a 1.442. No Brasil são 22.169 confirmações.

Os números estão longe de um arrefecimento na curva da covid-19. Na verdade, escondem uma preocupante sub-notificação no País inteiro que, além induzir a afrouxamento no isolamento social, torna imprecisa previsões de como o coronavírus vai se espalhar no Brasil. E isso acaba prejudicando todo o esforço nacional de se preparar para a epidemia.

A sub-notificação chegou ao ponto do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) acusar o Instituto Adolfo Lutz por indícios de irregularidades no armazenamento de amostras que devem ser submetidas ao exame da covid-19, que das 28,8 mil amostras recebidas pelo instituto estadual até a última sexta-feira concluiu os teste de apenas 7.800.

O Instituo Adolfo Lutz centraliza na área estatal os exames do covid-19 no Brasil embora a coordenação nacional tenha passado para o Instituto Butantã.

Mas a despeito de o presidente do Butantã, Dimas Covas, ter anunciado - há dez dias - que passaria de 500 para 5 mil por dia, neste sábado ele reconheceu que a média tinha chegado a 1.300. Covas prometeu, de novo, aumentar a média/dia até o final de abril para 10 mil testes por dia.

O Butantã vem falando em 10 mil testes/dia dias o começo de fevereiro quando lançou a Plataforma de Laboratórios públicos formada pelo Adolfo Lutz (central e regionais), Butantã, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, das Clínicas de Ribeirão Preto, Hemocentro de Ribeirão Preto, Laboratório de Análises do Hospital das Clínicas da Unicamp e o Hemocentro de Botucatu. Mas os números continuam baixos.

O ministério da Saúde tem tido o cuidado de, após os resultados dos exames, inserir o número de mortes na estatística no dia do óbito. Mas a verdade é que o número de mortes por dia é menor do que o real porque traz dados defasados.

O prazo para que a maior parte dos pacientes fatais entre para a estatística do Ministério da Saúde tem sido de 10 a 14 dias. O Brasil vai entrar nesta semana com o mesmo desafio de há um mês quando registrou a primeira morte dia 15 de março.

APRENDIZADO

Apesar desse quadro preocupante, a demora na testagem não acontece porque os laboratórios públicos e até mesmo os privados querem. Ou má gestão das amostras. Mas porque o Brasil tanto na rede estatal como na rede privada precisou apender a trabalhar com esse novo vírus cuja característica é seu altíssimo potencial de infecção laboratorial o que exige o cumprimento de regras padrão ouro na sua manipulação.

Há um mês, quando chegaram as primeiras 49 recolhidas, entre o dia 4 e 11 de março, os laboratórios brasileiros não tinham sequer kits específicos para testagem da covid-19.

Foi necessário começar do zero. Primeiro, definindo padrões de manipulação das amostras. Depois montar seus kits de análises usando reagentes disponíveis nos laboratórios e treinar os pesquisadores.

Cada laboratório, inclusive os privados com muito maior infraestrutura de pessoal, máquinas e acesso aos reagentes, escreveu seus protocolos. Assim como montou seus procedimentos enquanto separavam áreas específicas dentro de suas mega unidades, algumas capazes de processar até 30 milhões de exames/mês de até 5 mil tipos de exames.

Se no setor privado, com a pressão de centenas de hospitais e laboratórios de análises clínicas para colocar em prateleira, o teste RT-PCR está sendo difícil, é possível imaginar as dificuldades de laboratório públicos? Enquanto isso, a covid-19 se espalhava e os exames iam chegando sem que os laboratórios conseguissem processar.

EXAME SOFISTICADO

Uma coisa que pouca gente sabe. O exame RT-PCR é um procedimento que é extremamente sofisticado. Ele exige acompanhamento. Um dos grandes desafios dos laboratórios privados foi escrever um protocolo que permitisse identificar o retrovírus (RNA) da amostra automaticamente. Sem esse procedimento tecnológico os computadores das super máquinas não tinham como processar o exame em tempo real.

Outra dificuldade é que cada laboratório privado tem seus padrões de segurança de tecnologia da informação. Assim, o primeiro desafio que um pedido do governo tem - ao mandar suas amostras - é que exista uma interface amigável entre os dois.

Desde o começo de abril, os técnicos de TI dos laboratórios e do Ministério da Saúde trabalham para escrever uma plataforma que seja amigável e preserve a segurança dos nove grandes laboratórios privados já credenciados pelo Instituo Adolfo Lutz para serem requisitados a fazer exames.

Até agora nenhum deles foi demandado pelo governo. Mas isso não quer dizer que estejam ociosos. Na verdade, fora das estatísticas oficiais, milhares de exames já foram processados e entregues pelos laboratórios privados a seus clientes.

Especialmente hospitais privados e laboratórios cobrando entre R$ 250,00 e 450,00 pelo exame que pode levar ate cinco dias para ter o resultado. Mas também eles não estão com uma média muita alta.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Wilson Shcolnik, a estrutura dos laboratórios privados está à disposição do Governo Federal e dos estados quando ele julgar necessário.

PROTAGONISMO

Segundo ele, o protagonismo dos exames laboratoriais nessa epidemia veio desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou o método denominado de “padrão ouro” para confirmação dos quadros agudos, que é o RT-PCR. Mas no mundo inteiro foi preciso seguir uma curva de aprendizado de processamento do exame.

Wilson Shcolnik revela que os kits comerciais estão com uma demanda global e os fabricantes estão com dificuldades de entregar. Além de sofrerem a pressão dos governos para tê-los no menor tempo possível.

Segundo o presidente da entidade que congrega 27 laboratórios privados, a rede credenciada para fazer o RT-PCR está processando atualmente cerca de 5 mil/dia testes para seus clientes. Mas deve chegar aos 20 mil/dia.

Enquanto isso, a busca pelos kits está fazendo o mercado trabalhar com controle de preços e de demanda. No Brasil, a Kasvi uma empresa brasileira que comercializa produtos e equipamentos para laboratório, voltada exclusivamente para a venda a distribuidores já não exige o preço kit de extração de DNA mini Spin 50 e de 250 extrações.

Assim como a gigante a Thermo Fisher Scientific, líder mundial na produção de suprimentos para laboratórios de pesquisa que faz reagentes para centenas de aplicações. Ela colocou no mercado kits de ensaios simples e multiplex para detecção de patógenos da covid-19 (SARS-CoV-2) somente para uso em pesquisa. Os kits só estão disponíveis para encomenda entrega de pelo menos uma semana.

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