Por Fernando Castilho da JC Negócios
Numa reunião no último de 28 de março, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, perguntou ao presidente Jair Bolsonaro: “estamos preparados para ver caminhões com mortos?”
Nesta quinta-feira, num Hospital de Manaus, cinco corpos foram vistos na TV junto a pacientes com covid-19 em tratamento esperando para serem enviados ao cemitério.
O que separa a advertência do então ministro é a troca de comando da pasta do Ministério da Saúde com o presidente optando por um nome como o Médico Nelson Teich que fez questão de dizer que está alinhado com o que pensa o presidente. Bolsonaro, como se sabe, defende o afrouxamento do isolamento social e querendo traçar uma rota de retomadas das atividades econômicas.
Há poucas chances de Bolsonaro determinar um afrouxamento das atividades. Os ministros do Supremo Tribunal Federal já avisaram que não terá apoio nessa decisão. Isso explica por que Bolsonaro, no discurso de apresentação do novo ministro, tenha insistido que não se pode cobrar dele as consequências econômicas desse confinamento.
Dificilmente 25 dos 27 governadores estão interessados na opinião de Bolsonaro sobre isolamento social. Os mortos e os infectados não estão sob a guarda do presidente e sim nos estados, nas capitais e cidades no interior no Brasil.
Mas o presidente decidiu fazer uma aposta de altíssimo risco quando mantém o discurso quando o número de mortos passou de 2.000. Não há, rigorosamente, nenhuma chance de que o número de mortos seja reduzido nas próximas semanas. E as chances de “ver caminhões com mortos” é assustadora possível.
Não é por acaso que governadores dos estados relacionados como mais críticos já contrataram pacotes de sepultamentos. Mas isso é o final da linha. O problema do Brasil é com os que precisarão de atendimento.
Mas Bolsonaro preferiu da maior atenção à economia. Ele faz uma conta de que o desemprego pode ser tão grave que cause mais impacto que mortes. Pode ser um enorme equívoco porque se o número de contágio não for contido o número de infectados pode ser tão absurdo que ele tenha que decretar uma paralisação total.
Bolsonaro acredita que pode salvar empregos e sonha com uma volta a normalidade. Precisa combinar com o vírus. E ao que se saiba, nenhum país conseguiu sequer conversar com o vírus. E isso inclui Estados Unidos.
Não há nenhuma garantia de que no Brasil vai ser diferente. Mas o presidente decidiu dobrar sua aposta. Ele quer e vai cobrar do novo ministro que defenda o isolamento suavizado. A grande dúvida é se o novo ministro vai colocar em risco sua biografia de sucesso.
Ele acredita no deputado Osmar Terra e alguns assessores que o vírus está indo embora. E ao chamar o médico Nelson Teich não pediu que ele não só enfrentasse a doença, mas que encontrasse um caminho para retomar as atividades.
E claro que Nelson Teich vai ter problemas. Ele assume quando a curva de ascensão de mortes se desloca para um pico acima dos demais países. Não é razoável achar que no Brasil teremos um arrefecimento dessa curva. Como na economia, a estatística não faz concessões.
Não faz sentido discutir isolamento de pessoas com maior risco teórico como os que tem mais de 60 anos. Isso é de uma estupidez absoluta. O número de mortos entre jovens em alguns estados e igual aos velhinhos que ficaram em casa.
Então a questão de Bolsonaro não foi escolher um oncologista para cuidar de um problema de infecção epidêmica, mas de escolhê-lo com uma determinação muito claro do que espera.
Bolsonaro o escolheu para criar um caminho para o fim do distanciamento social a questão do número de infectados e de mortes não está no radar do presidente. A dúvida é se o novo ministro vai arriscar sua carreira para defender ou justificar as atitudes do presidente.
E não há nenhum sinal de que o presidente mudou de opinião sobre qualquer um de seus pontos de vista. Alias foi para manter suas opiniões que ele demitiu Mandetta. Mas a duvida continua. Até onde Nelson Teich estará disposto a ir junto com Bolsonaro.
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