Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Afinal, quanto custa mesmo tratar um paciente grave da covid-19? Pois é, nos Estados Unidos, com a sua parafernália de máquinas, pessoal treinado e uso intensivo de material descartável (comprado na China) não sai por menos de US$ 20 mil, segundo estimativa das associações das grandes seguradoras privadas.
Foram essas empresas que que informaram ao Governo Trump que iriam renunciar aos copagamentos e franquias para os testes do COVID-19 e foram duramente acusadas pelo presidente por dizerem que não estão dispostas a cobrir os custos das apólices por entender que o contrato não cobre uma epidemia.
Aqui no Brasil esse é um assunto que já preocupa a gestões de planos de saúde privada. Por exemplo, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) é uma organização que faz analises sobre o mercado de planos de saúde no Brasil, elaborou uma Nota Técnica no final de março chamando a atenção para o número de beneficiários idosos (com mais de 60 anos) já representa 15,0% do total de vínculos e é a única faixa etária que cresce a cada ano.
O IESS tem razões de sobra para se preocupar. No Brasil, existem 1,9 milhão de beneficiários de planos de saúde com idade entre 60 anos e 64 anos; 1,5 milhão de 65 anos a 69 anos; 1,1 milhão de 70 anos até 74 anos; 821,6 mil na faixa de 75 anos a 79 anos; e, 1,2 milhão com 80 anos ou mais. Essa população naturalmente está em casa, mas são os maiores entre os grupos de risco.
Esta semana um estudo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) uma outra organização independente que analisa políticas públicas de saúde no Brasil trouxe as primeiras informações sobre o assunto.
Ele revela que, num cenário com taxa de infecção de 10% da população ao longo de 6 meses, onde 5% demandaria hospitalização em leito de UTI, por 10 dias, o país precisará se equipar com mais 40.700 unidades num investimento de R$7,33 bilhões.
Isto representaria um aumento de 273,7% sobre os 14.873 leitos de UTIs disponíveis no setor público em janeiro quando o setor privado tinha 17.884.
O Ministério da Saúde ainda não divulgou um número de leitos de UTI que estados e prefeituras estão construindo. Mas anunciou que, a partir de março, passará a pagar, em caráter excepcional, R$ 1.600 mil/dia para manutenção de leitos que serão habilitados temporariamente durante a emergência em saúde pública. Até fevereiro o valor era de R$ 800,00.
CUSTOS MAIORES NO SUS
A questão dos custos de manutenção dos leitos de UTI está no centro dos debates sobre como o Brasil vai enfrentar essa questão já que não estava preparado.
Para se ter uma ideia, até dezembro, o SUS pagava a um hospital público para tratar paciente com problemas respiratórios (fora de UTI), por dez dias, R$ 1.600,00.
Embora estejam construindo milhares de leitos, até agora estados e municípios têm enfrentado dificuldades para completar os leitos de UTIs com o suporte de equipamentos muito além dos R$ 160 mil de instalação média, por leito, considerados no estudo do IEPS.
A informação do Ministério da Saúde é importante porque as habilitações acontecem quando um Estado ou município cria um leito de UTI e informa ao Ministério da Saúde e pede recursos para manter o custo do serviço dele. Estando nas condições requisitadas, o Ministério fará o repasse de forma antecipada e referente a 90 dias.
A questão dos custos é um tema internacional embora nos Estados Unidos - depois da posição das seguradoras - a associação dos Planos de Seguro de Saúde dos Estados Unidos (AHIP) confirmou que os custos diretos de tratamento - como hospitalizações por casos mais graves - não seriam renunciados.
Mas sem uma estrutura publica os estados é quem estão atendendo a quem não tem planos de saúde. Em Nova Iorque as pessoas estão sendo atendidas pelo governo do Estado.
Se a questão no EUA é o suporte de hospitais privados já que o cliente contrata um seguro, no Brasil a questão está no foco a quem só tem nenhum. Na prática, o SUS é quem faz o grande atendimento. E tudo isso com verba do orçamento do ministério da Saúde.
Segundo o Ministério da Economia, o MS recebeu R$ 2,6 bilhões de crédito suplementar ao seu orçamento de R$ 195 bilhões enquanto espera a aprovação no Congresso do Orçamento de Guerra que lhe reserva R$ 126 bilhões.
O tempo médio de internação hospitalar para internações por pneumonia com ou sem complicações ou comorbidades é de 3,2 dias. Pacientes admitidos por problemas respiratórios que requerem ventilação geralmente são muito mais longos e muito mais caros.
Relatórios da China indicam que o tempo médio de permanência de um paciente diagnosticado com coronavírus foi de 11 a 12 dias. O problema é que estadias mais longas e tratamentos de maior intensidade resulta em gastos médios mais altos.
Nos Estado Unidos, uma admissão para uma condição respiratória que requer 96 horas ou mais de ventilação é de US 88,114, em comparação com US $ 34.225 para uma admissão com menos horas de ventilação. O Brasil ainda não está contando esses custos.
PLANEJAMENTO REGIONAL
Como previsto no estudo do IEPS, a ampliação de leitos de UTI deve ser planejada regionalmente em alternativas existentes em cada local. Isso levou a soluções onde Pernambuco é um bom exemplo: construção de estruturas provisórias e reocupação de unidades desativadas.
Recife terá 1.089 leitos novos, até a próxima semana, quando o prefeito Geraldo Julio abre o terceiro hospital na Imbiribeira. A PCR optou por agregar à sua rede de UPAS, hospitais construídos em grandes galpões que permitiu operar, em 30 dias, uma estrutura inimaginável em janeiro.
O desafio foi fazer isso sem ferir normas de contratação mínimas, diz o secretário Roberto Gusmão que ao lado do prefeito e do secretário Jailson Correia que cuidaram das compras dos equipamentos tiveram apoio do presidente do TCE, Dirceu Rodolfo, que colocou técnicos para ajudar.
Segundo o secretário, graças a decisão e a definição de uma estratégia pelo prefeito, foram criados principalmente nos estacionamentos de algumas unidades do Recife, Bairro Lima, Amauri Medeiros, Policlínica Menor Magalhães e o próprio Hospital da Mulher.
Posteriormente, dentro da mesma estratégia, partiu-se estruturas que pudesse adequar hospitais de campanha com de leitos de UTIs para que essa capacidade fosse atingida. E ainda se levou em conta o fato de estamos no período de chuva que será nos meses de maio junho julho.
Outra coisa foi fazer contratos baseados em outros contratos pré-existentes com fornecedores. Segundo Gusmão, foi feita uma planilha básica do que seria a áreas de alta funcionalidade e com materiais disponíveis para ter rapidez na execução das obras de modo a fazer os projetos dos novos hospitais.
REATIVANDO HOSPITAIS PARADOS
No Estado, a opção foi reequipar hospitais desativados no mesmo ritmo de obras enquanto partia para compras de insumos internacionais onde a regra é pagar adiantado.
Uma das soluções foi buscar hospitais fechados e ver como eles poderiam ser operados rapidamente. Outra solução foi contratar mais leitos de UTI nos hospitais conveniados.
Uma coisa que está atrasando é a falta de equipamentos no mercado porque todos os estados também estão fazendo isso. Outro desafio é achar pessoal.
Trabalhar na UTI é o estado da arte do pessoal de apoio na área de enfermagem. O enfermeiro uteista é o profissional com mais horas de treinamento de um hospital estando as vezes acima do que atua na sala de cirurgia.
Não é função para novato. Isso torna o custo maior pois o Estado precisa pagar mais por esse profissional que pode ser obrigado a ficar fora de sua própria família devido aos riscos de contaminação.
Enquanto prefeituras optam por hospitais de campanha os estados estão indo atrás de unidades que já tem alguma estrutura, mas que estavam desativas. Inclusive na rede privada.
Mas esse é um debate que está apenas começando e que o governo não sabe quanto vais gastar. Segundo o secretário da fazenda, Décio Padilha a primeira fatura foi R$ 325 milhões. Ele estima os gastos em R$ 1 bilhão.
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