Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Sabe aquele profissional de múltiplas habilidades que todo mundo conhece e que, frequentemente, a gente chama para pequenos grandes problemas de casa? O faz tudo que simplesmente resolve? Pois bem, a Caixa Econômica Federal virou isso para o Governo Federal.
Ela não foi crida para isso. Foi criada para guardar popança de escravos pagarem suas cartas de alforria e estimular as pessoas simples a guardarem pequenas quantias. Daí o nome Caixa.
Depois, ela virou banco imobiliário financiado a construção de casas populares em até 96 meses. Se deu bem e quando foi criado o Banco Nacional da Habitação e o FGTS em 1964, ela foi elevada à categoria de agente financeiro.
Deu tão certo que o governo foi colocando cada vez mais coisas sob sua responsabilidade. PIS, loterias, FAT, gestão do FGTS, programas de infraestrutura, pagamento do seguro desemprego, os pagamentos de aposentadoria do INSS e vai por aí. Depois, veio o Bolsa Família e quem o governo chama? A Caixa. Tem sido assim desde que os militares a transformaram ela em banco social.
O problema é que a Caixa, como todo banco, precisou se adaptar a automação, digitalização de processos e entrar na era do banco digital para se manter competitiva. E como aconteceu com todo o setor bancário precisou demitir pessoal, contratar terceirizados e passar para a internet e para a rede de lotéricas quase um terço de seus serviços. Não era nenhuma Brastemp, mas estava tocando a vida.
No governo Bolsonaro ela perdeu importância como agente financeiro e saiu do Conselho Gestor do FGTS virando apenas prestadora de serviços ao fundo. Mas isso rende, como os demais serviços, uma boa parte de suas receitas.
Até que chegou a covid-19. E aí a Caixa se complicou de vez. De uma noite para a outra a Caixa teve quer gerir uma massa de informações que simplesmente não tem estrutura física. Ela tem 775 agências. Sua rede de serviços se apoia nas 3.000 lotéricas
Para se ter uma ideia quase um terço dos serviços prestados pela caixa são feitos pelas lotéricas. A Caixa tem dificuldades com seu banco digital.
E mesmo nas suas agências o parque de máquinas está a pelos menos um ano atrás dos bancos privados como Itaú, Bradesco e Santander. Até mesmo do Banco do Brasil que tem seu próprio sistema de processamento de dados.
Mas o governo simplesmente pôs tudo na rede da Caixa. Com ajuda da Dataprev ela conseguiu criar os sistemas para receber o mega cadastro dos informais.
Em duas semanas, seus sistemas normais tiveram que aceitar mais 56 milhões de cadastros. Até esta segunda feira, segundo dados da Caixa indicava que ela tinha processado 49 milhões de cadastros.
Seu site já recebeu meio bilhão visitas. Quando se soma o número e downloads do auxílio emergencial e do Caixa tem chegamos a 125 milhões de operações.
Mas o problema não é com quem vez os downloads. Mas quem não consegue fechar a operação e depois de tentar corre para a agencia da Caixa mais próxima.
A Caixa diz que já contabiliza 44,3 milhões de pessoas beneficiadas. Diz que CAIXA também colocou 2.800 novos vigilantes e aumentou o número de recepcionistas para reforçar a orientação ao público e manter os protocolos já implementados para garantir a saúde de todos. E que apenas uma pessoa a cada cinco que buscaram presencialmente o banco nessa segunda-feira tinha direito ao saque na referida data.
Certo, mas vai dizer isso a uma mãe de famílias que não tem dinheiro para comprar comida?
Tem mais: Importa pouco a Caixa dizer que trabalha para otimizar e acelerar o atendimento em seus canais digitais. Não funciona.
Se você fizer uma conta simples e colocar 500 pessoas por agência (ela tem 775) podemos dizer que nas ruas se expondo a covid-19 temos no mínimo 387.500 pessoas. Imagine se ao menos dessas pessoas estiver com o vírus?
Uma das coisas mais assustadoras é a perspectiva de contaminação das pessoas nessas aglomerações. Porque as pessoas simples têm uma enorme dificuldade de entender esse tão de aplicativo. Código? Conta Digital? Poupança Social Digital?
No Nordeste, metade das pessoas que recebem pensão do INSS não sabem mexer no caixa eletrônico na hora de sacar o dinheiro.
O problema dessa avalanche de desesperados é que eles estão travando os serviços normais da Caixa que já erma frágeis. Por exemplo, o recebimento do seguro desemprego. O trabalhador tem que assinar o recebimento das parcelas numa agência da Caixa. Imagina a situação dos 200 mil que pediram o benefício em março?
Para completar ainda tem os pagamentos do Bolsa Família onde metade das 14 milhões de famílias chefiadas por mulheres vão receber R$ 1.200,00. Não tem, esse dinheiro na lotérica porque as pessoas não estão pagando suas contas nelas.
Até as operações de empresas acabaram sendo prejudicadas pois como elas vão acessar as agências? Virou uma coisa absurda.
O mais assustador é que, na prática, as agências da Caixa acabaram virando um foco de propagação da covid-19. E a única coisa que a instituição desejava contribuir no meio dessa tragédia médica, social econômica.
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