Por Fernando Castilho da coluna Coluna JC Negócios
O Brasil, definitivamente, não é coisa para amador. Nenhum país democrático está debatendo outra coisa senão como enfrentar a covid-19, estratégias, ações de atenção hospitalar e organização de saída da quarentena.
Mas aqui o noticiário das 600 mortes num dia divide as atenções com um depoimento do ex-ministro Sérgio Moro e as contestações do presidente Jair Bolsonaro dando gritos em jornalistas e mostrando prints de seu celular pessoal para contrapor afirmações do ex-ministro.
O Brasil enfrenta caos nos sistemas dos estados do Norte, aguarda a mesma situação de colapso no Nordeste e as duas maiores cidades já sabem que entraram em total descontrole nas próximas semanas. Mas o assunto que disputa com essa epidemia é uma briga do presidente com o ex-auxiliar.
Difícil acreditar no que acontece no país onde pessoas agridem enfermeiros que pedem melhores condições de trabalho para salvar vidas. E se enrolam na bandeira nacional para negar a gravidade da situação.
Mais difícil ainda acreditar que um debate absurdo tenha levado à população - pelo exemplo do seu presidente - a desacreditar da necessidade de se manter o isolamento social. E que grupos de apoiadores do presidente se esforcem para desmentir o número de mortos com notícias falsas na internet. Mas no Brasil isso acontece.
O nível de esgarçamento do tecido social provocado pela atitude do presidente nos empurrou para o caos. Pessoas que estão se contaminando em grande parte por não ter tomado cuidados mínimos com o vírus.
Sem uma estratégia de ação segura, vamos ter mais infectados, mais mortes e vamos gastar o dinheiro que não temos para tentar salvar o maior número de vítimas.
O Brasil já está gastando mais dinheiro que seus vizinhos do continente e gastando mais por paciente médio. Está contaminando mais seus profissionais porque a estrutura de atendimento não permite segurança total das equipes.
Somos um caso extraordinário de país onde o custo do atendimento aumentou porque o nível de contaminação do profissional de saúde - que atende aos infectados-cresceu acima da média global.
Gastamos para tratar o infectado e para tratar quem trata o infectado e que se infectou também.
O mais grave disso tudo é que os Estados estão tendo que organizar o atendimento tendo despesa sem ter receita.
A falta de um Norte estratégico federal nos empurrou para um aumento de custos com a saúde que foi potencializado com enorme ajuda do presidente que desmobilizou o isolamento social.
Uma varredura sobre o posicionamento dos governos ao redor do mundo mostra que nenhum país precisou enfrentar a covid-19 e enfrentar questões políticas simultaneamente.
Até em Israel o histórico problema político entre judeus e palestinos foi suspenso, por iniciativa dos líderes religiosos e políticos, que perceberam que as diferenças de milhares de anos poderiam ser discutidas depois de resolver a questão da covi-19.
Isso faz com que a situação brasileira seja mais seria em nível internacional e custe mais caro ao contribuinte. O país discute custos de combate a pandemia com custos políticos e até ameaças constitucionais. Tratamos de mortos e infectados no mesmo cenário de possível ruptura institucional. Nenhum país aguenta tal embate simultaneamente.
De certa forma, podemos dizer, que os partidários do presidente estão usando a quarentena para atacar os demais poderes exibindo-se nas ruas com a certeza de que a oposição não estará lá porque não pode convocar a população para protestar, também nas ruas, contra o ataque a Democracia.
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