Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Hora de fazer lockdown passou, e população não vai ficar mais em casa

Brasileiro parece ter se acostumado com o noticiário sobre a covid-19 e está cada vez mais relativizando a tragédia

Fernando Castilho
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Publicado em 07/05/2020 às 23:20 | Atualizado em 07/05/2020 às 23:38
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
E para completar o quadro do caos que a doença provoca, os governos estaduais resolveram afrouxar as regras de isolamento, sem sequer apresentar um estudo completo dos impactos - FOTO: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios

O debate sobre fazer lockdown chegou atrasado no Brasil. Dificilmente vamos conseguir fazê-lo e parece claro que o sistema de saúde público e o privado podem mesmo entrar em colapso.

Depois de quase 60 dias da primeira morte e 10 mil óbitos que devem ser completados nesta sexta-feira (8), o brasileiro parece ter se acostumado com o noticiário sobre a covid-19 e está cada vez mais relativizando a tragédia.

O acesso a verba de R$ 600 tem atraído muito mais atenção que o de necessidade de proteção e isolamento social. As filas nas agências da Caixa Econômica sem maiores cuidados mostram isso.

De certa forma, e por desinformação, o cidadão menos escolarizado acabou validando o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) relacionando morte de CNPJ com morte de CPF. Como se as coisas não estivessem diretamente dependentes uma da outra.

Há uma grande ilusão na ideia de que, se o isolamento for suspenso e a economia voltar a funcionar, a convivência com o coronavírus pode ser “administrável”. Não pode.

Porque na medida em que a doença se espalhar de forma descontrolada, as empresas terão um número absurdo de faltas e afastamento de seus empregados.

Quer saber como isso já se dá? Pergunte aos empresários dos setores essenciais como eles estão administrando as faltas no chão de fábricas por afastamento de seus empregados suspeitos ou infectados? Quinze dias, no mínimo!

Há uma enorme ilusão de que com afrouxando o isolamento o cliente vai voltar e comprar fazendo a roda da economia volta a girar rapidamente.

Não vai. O maior exemplo de que o consumidor não vai às compras tão cedo está no fato da caderneta de poupança ter tido em abril R$ 30 bilhões em depósitos a mais que saques.

Quem estuda esse fenômeno sabe o que isso quer dizer. Que o dono da caderneta pôs o dinheiro lá para comprar comida e pagar o que não puder deixar de pagar. Como, por exemplo, o plano de saúde. Ou para remédios de uso contínuo. Consumo exige confiança na capacidade de pagar a conta.

O problema é que momento do lockdown passou no Brasil. Se o governo, Estados e municípios tivessem dado um aperto geral em março e abril e fosse afrouxando, agora em maio, além da questão médica e de suporte para às vítimas, o sentimento do cidadão seria no sentido de voltar com cuidado. Tipo readquirir um direito de voltar a circular.

Como isso não foi feito, a relativização das mortes está cada vez mais se incorporando à rotina das pessoas de baixa renda, setores menos esclarecidos e parte da classe média.

É como se admitissem, estoicamente, que a morte seja por covid-19, seja pelas doenças que já sofrem, seja pela violência urbano e no trânsito já não faça mais diferença. A perspectiva da morte pela covid-19 deixou de assustar.

Isso ajuda muito ao discurso dos que defendem o fim do isolamento de Jair Bolsonaro. Mas ajuda o discurso de volta às atividades e a ideia de que não dá mais para ficar em casa e que é preciso sair.

Na outra ponta, o discurso do “FiqueEmCasa” está perdendo aderência social. Assim, tratar de lockdown nesse cenário é assumir o risco de qualquer gestor ficar desmoralizado nas ruas.

Isso nos remete ao pior dos cenários. O de perda total de vidas em números maiores que os de doenças crônicas, crimes violentos letais e acidentes de trânsito que no Brasil somam mais de 200 mil pessoas por ano.

Mas existe um prejuízo ainda maior. O da perda de esforço médicos, equipes médicas e dinheiro do contribuinte envolvido nas ações de socorro aos infectados.

E se formos adotar o discurso enviesado do governo Bolsonaro de comparar vidas com economia também estaremos falando de perder, ao menos, R$ 500 bilhões que já investimos na preparação para atender aos pacientes que chegarão nos hospitais de campanha apenas para serem reconhecidos como portadores da covid-19 no atestado de óbito que acompanha o caixão lacrado.

Isso remete aos governadores e prefeitos um cenário caótico onde a falta de suporte médico para um número de infectados inviabilizará as atividades econômicas de seus estados no meio do caos da saúde pública.

O Brasil, se continuar sem uma voz de comando exigindo ações de proteção tem, hoje, poucas chances de reduzir a curva de mortalidade pelo número espetacular de infectados em casa, nos hospitais e nas UTIs.

O problema é que se continuar assim, o próprio discurso de voltar as atividades pode se tornar inócuo porque até o lockdown não terá mais efeito se for adotado.

E nesse cenário, até as ações médicas na estrutura que o país ainda está montando para atender os infectados se tornará, essencialmente, preparatória para sepultamentos em valas enfileiradas nos nossos cemitérios. E onde o número de curados não terá qualquer relevância.

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