Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Líder no registro de mortes diárias e já na condição de segundo país em número de infectados, o Brasil assusta a OMS, os países da América do Sul e até os Estados Unidos com as informações de afrouxamento das medidas de restrições à circulação e quando não apresenta uma coordenação clara de como vai tratar essa abertura.
É uma situação única em nível mundial que preocupa qualquer pessoa razoavelmente informada sobre o efeitos dessa decisão. Especialmente depois que o Brasil está abrindo sem ter conseguido fechar o isolamento.
Não é à toa que o próprio ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, deixou claro que o foco da pasta será ajudar as grandes cidades, capitais e cidades de porte médio a ajudar as pequenas cidades que tenderem a mandar seus pacientes aonde houver leitos de UTI.
Na prática, isso condena o País a conviver com um longo período de permanência com a doença, com o número crescente de mortes, sem que se tenha conseguido um mínimo de organização sobre como tratar de forma aceitável os infectados nas grandes cidades e capitais.
Ou seja: o Brasil caminha para conviver com a covid-19 como uma doença endêmica que mata muito, mas que está dentro das estatísticas por muitos meses e até anos.
É um quadro que assusta as autoridades e os dirigentes de outros países. Se o governo federal continuar atuando da forma que está, depois dos Estados Unidos, outros países tendem a fechar as suas fronteiras a brasileiros por entender que a doença está fora de controle no Brasil.
Mas é preciso reconhecer que a culpa não é só da União que não chamou para si a coordenação e acabou a perdendo na Justiça por tentar um movimento contrário ao que o mundo inteiro fazia.
Não se deve esquecer. No Brasil, a União perdeu a capacidade de gerir a crise da covid-19 porque queria reduzir o isolamento. O STF só reconheceu a capacidade de os estados e municípios decidirem sobre isso, porque a opinião da União revelou-se um enorme equívoco.
O problema é que essa decisão teve e está tendo custos de vidas e de recursos que o País não tem. Sem uma diretriz clara, cada gestor foi cuidar de sua vida, inclusive, por motivos políticos. E isso se provou um desastre.
Não existe essa bobagem de “isolamento rígido”, “isolamento inteligente” ou “isolamento voluntário”. Isolamento é um só. Ou tem, e a população respeita, ou não tem e a população encontra formas de sair dele.
O dramático dessa situação é que governadores e prefeito agora percebem que quando se adjetiva, o isolamento não funciona. E a covid-19 não respeita quem não a respeita. E mata.
No fundo, parece claro que caminhamos para ficar na condição de líder em mortes por muito tempo com a população decidindo correr o risco enquanto os governadores inventam adjetivos para o seu isolamento territorial.
Com a terrível perspectiva de que os hospitais de campanha, diferentemente do resto do mundo, se tornarem necessários por muitos meses assustando a parte da população que respeitou o isolamento e que, a cada dia, se sentirá mais ameaçada de contrair o vírus dentro de um dicionário de qualificações de “modelos” de isolamento.
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