Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Num país continental como o Brasil, com 27 realidades sociais e econômicas diferentes, a falta de uma coordenação central firme para o enfretamento de uma pandemia com a covid-19 cobra caro a população, explode o custo do tratamento, mas pode produzir um estranho consenso: a de que sem um plano de enfrentamento não vamos sair da crise tão cedo.
A ministra Carmen Lucia do STF acha “muito difícil superar [a pandemia] com esse descompasso, com esse desgoverno” Ela respondia a uma pergunta sobre o condução do combate à epidemia do novo coronavírus no Brasil por parte do poder público.
Carmem Lucia não está sozinha. Nesta quarta-feira, o Tribunal de Contas da União divulgou um relatório onde ministro relator, Vital do Rego concluiu quer há falta de gerenciamento de risco e ausência de profissionais da área da saúde atuando para mitigar a disseminação da doença.
Rego se queixou da dificuldade produzir um relatório sobre o gerenciamento pela falta de interlocutores dentro do governo e pela desorganização das informações disponíveis.
— Não existe modelo de risco. Antes de cada projeto, tem que saber o risco de dar errado. Não vou ficar falando aqui da cloroquina quando dois meses depois todos estudos apontam o contrário. Tenho que falar dentro de um modelo de risco capaz de dizer: ' preciso fazer lockdown aqui para achatar a curva acolá.' (No Brasil) Não existe modelo nenhum— criticou.
Ele disse que cargos do ministério da Saúde não têm sido ocupados por pessoas com formação na área. E defendeu necessidade de um plano de comunicação para divulgar as medidas em relação à doença.
O que Rego detectou é uma situação que a impressa já vem enfrenado há muito tempo. A maior prova disso foi a necessidade de um consorcio de órgãos de comunicação para a contagem dos mortos e infectados pela dificuldade que o Ministério da Saúde criou depois que prosperou, dentro da pasta, uma desinformação do empresários Carlos Wizard que sem qualquer base disse que Brasil estava superestimando o número de mortos.
Wisard, como sabe não foi confirmando do cargo de subsecretário de C&T do ministério, mas sua estultice atrapalhou muito.
O problema é que o ministério da Saúde não tem um plano de gerenciamento da covid-19. Por exemplo, na semana passada o MS divulgou uma informação de que o Brasil tinha atingido o chamado platô da crise o que indicaria que a partir daí começaria a decrescer.
O secretário de Vigilância da Pasta, Arnaldo Correia, chegou a dizer que os dados davam "a entender que nós estamos entrando em um platô" e que "a inclinação da curva se encaminha para a estabilidade." Falso.
Ontem, ele reconheceu que aceleração nas mortes por covid-19 e teve um disparo de 22% no número de novos casos da doença na última semana epidemiológica medida pelo Ministério da Saúde. O país teve 7.256 óbitos registrados semana entre 14 e 20 de junho.
Não é um fato isolado. O ministério da Saúde está sem um ministro titular há mais de um mês e a cada fica mais claro as dificuldades do general Pazzuello de tocá-los no momento de crise.
E o problema não está na resistência do general em conversar com a imprensa. Parece claro sua dificuldade de criar, estrutura e gerir um projeto de ação a nível nacional. Militar da ativa, o general Pazzuello encheu a pasta de gente fardada. Mas a cada diz a pasta trava mais.
Ontem, os sete ministros do TCU foram duros com o Governo. O ministro Benjamin Zymler criticou a falta de transparência do Ministério da Saúde. “Há um déficit de transparência muito evidente, com múltiplos portais que veiculam coisas distintas e que tornam a tarefa de controle muito complexa”.
De fato, o que não falta no governo é portal dos órgãos públicos. Se no ministério da Saúde falta uma plataforma robusta quase uma dezena de sites criados para acompanhar a covid-19 estão cheios de informações dispersas.
Os ministros querem padronização e gente com experiencia em Saúde. Vital do Rego quer que o Conselho Gestor da Covid-19 tenha representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), com direito a voz e a voto. Não vai ser fácil. As duas entidades têm opinião totalmente contrária a forma como o governo gerencia a crise da covid-19.
Mas o consenso entre o TCU, a ministra Carmem Lúcia do STF e o próprio ministério da Saúde permanece. Porque o governo Bolsonaro não tem um plano para gerenciar a crise. Na verdade, o governo federal aproveitou-se da decisão do STF para sair do papel principal.
Bem diferente do que pensa a ministra quando diz que "O que o Supremo disse é que a responsabilidade é dos três níveis [federativos] - e não é hierarquia, porque na federação não há hierarquia - para estabelecer condições necessárias, de acordo com o que cientistas e médicos estão dizendo que é necessário, junto com governadores, junto com prefeitos”.
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