Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Divulgada no dia de São João, quando o noticiário nacional comemorava a aprovação do novo marco legal do saneamento básico pelo Senado, relatado pelo Tasso Jereissati, uma pesquisa do IBGE, construída em tempo recorde para analisar os efeitos sociais da distribuição do Auxilio Emergencial durante a covid-19, trouxe um olhar diferente.
Ela revelou os efeitos da maior transferência direta de renda para as camadas renda mais baixa da população brasileira sobre as quais o governo não tinham qualquer informação.
Segundo o IBGE, as 21 milhões de pessoas que, no Brasil, residem em domicílios com renda domiciliar de até R$ 56,62 passaram de uma renda domiciliar per capita de R$ 10,64 para R$ 238,03, equivalente de um "ganho" superior a 2.136%. Em maio, mês-base da pesquisa, foram repassados R$ 23,5 bilhões.
É importante ter presente que 21 milhões de pessoas é 10% de nossa população. E que 45% desses 210 milhões de habitantes (quase 94 milhões de pessoas), residem em domicílios onde pelo menos um morador recebeu o benefício.
Como pelas negociações do Congresso, o benefício será pago ao menos mais R$ 1.200,00 em dois ou três meses meses, ao final dele em agosto ou setembro, cada uma dessas pessoas terá recebido R$ 3 mil de ajuda da União.
A PNAD COVID19 MENSAL do IBGE revela que, dos 68 milhões de domicílios existentes no Brasil, 26,3 milhões de domicílios (38,7%) foram beneficiados em maio. Detalhe, naquele mês renda domiciliar neles não ultrapassava R$ 645,54.
O que nos leva a pergunta: o que Jair Bolsonaro não poderia ter capitalizado esse transferência direta de recursos se não tivesse assumido uma atitude negacionista?
Imagina o que ele não teria de popularidade se assumisse a liderança do programa de combate a covid 19 com o discurso de que transferiu em cinco meses pelo menos R$ 3 mil para cada um dos 26,3 milhões de domicílios onde habitam 94 milhões de pessoas?
Como era previsível, no Nordeste o percentual de domicílios beneficiados com o Auxílio Emergencial chegou a 54,8%. Com destaque para o Maranhão (61,7%) e Sergipe (57,1%) com Pernambuco indo a 51,8%, o menor percentual na Região.
O Sudeste com 31,3% e o Sul com 26% escancaram a nossa desigualdade Inter regional uma vez que um dos critérios é que a renda domiciliar per capita não ultrapasse R$ 522,50 ou que a renda total do domicílio não ultrapasse a três salários mínimos (R$ 3.135,00).
O IBGE faz outra simulação interessante. Quando se pega uma faixa de renda de até R$ 233,18), o alcance do Auxílio Emergencial foi de 81,1%, contemplando 17 milhões dos 21 milhões. No caso dessa faixa, houve impacto positivo equivalente a 141,6%, ao passar de renda per capita de R$ 146,08 para R$ 352,85.
Embora o Governo Bolsonaro não tenha ainda se apropriado dessa transferência de renda que chegou a 85% das pessoas cujo rendimento domiciliar per capita era inferior a 1 salário mínimo", é importante reconhecer que o Auxílio Emergencial, um dos maiores programas de transferência direta de renda já implementados no Brasil como diz o diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo é temporário.
Claro que que não se pode esquecer de que o programa foi criado em meio a uma pandemia e trata-se de um programa emergencial, mas o resíduo tende a ficar, especialmente se ele for mantido por mais dois ou três meses.
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