Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por que Trump critica Bolsonaro na atuação na crise da covid-19

Os americanos se movem por interesses americanos e para isso se informam. Mas os americanos nunca dizem nada antes de mandar sinais

Fernando Castilho
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Publicado em 05/06/2020 às 16:15 | Atualizado em 05/06/2020 às 16:31
JIM WATSON/AFP
Os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro - FOTO: JIM WATSON/AFP

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios 

Pode até ser surpresa para o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e alguns assessores mais próximos do presidente Jair Bolsonaro o presidente Donald Trump criticar a gestão do Brasil na crise da covid-19. Mas qualquer oficial de chancelaria do Instituo Rio Branco sabe que qualquer presidente americano cuida primeiro dos interesses dos EUA e dos interesse do seu partido, do que das relações com qualquer outro país. Qualquer país.

Os americanos se movem por interesses americanos e para isso se informam. Não tem nada a ver com Trend Topics das redes sociais. Lá, os assessores são ouvidos e têm informações de qualidade. E o presidente os lê e respeita.

Assim, parece claro, que as informações que chegaram ao presidente americano são tão preocupantes (para os interesses americanos no Brasil, é claro) que levaram o presidente a fazer a crítica.

No seu livro “Lanterna da Popa”, o avô do presidente do BC, Roberto Campos, conta o caso de sua primeira reunião com os americanos em Washington, quando a delegação brasileira chegou com dois embaixadores e seis diplomatas e os americanos com 60 representantes de comercio e advogados. Sabiam antecipadamente todos os tópicos a serem debatidos, inclusive a estratégia brasileira.

Mas os americanos nunca dizem nada antes de mandar sinais. Lembram daquela declaração do Comitê de Assuntos Tributários da Câmara dos EUA? Ele é o mais poderoso do Congresso americano. Manda mais que muitos ministérios na estrutura de governo.

Quando ele diz não recomendar que o Mercosul está adequado, o USTR (Representante de Comércio dos EUA, na sigla em inglês), o órgão que negocia acordos para os Estados Unidos,não pode prosseguir que será esse comitê quem vai aprová-lo.

Tem mais: lembram que os americanos fecharam as portas da negociação da Embraer com a Boeing? Já era. Trump tinha elogiado a iniciativa. Mas o acordo acabou porque as contas que eles fizeram é que  primeiro tinham que cuidar da fabricante americana.

Na hora de comprar equipamentos para a covid 19? Lembram? Barraram aviões de outros países com suprimentos que apenas pousaram em solo americanos depois de terem comprado todo o estoque de suprimentos disponível na China. Mandaram 30 aviões Boeing 747 raspar os estoques de tudo que servisse para atender a covid-19

Eles também proibiram que respiradores recuperados por organizações filantrópicas americanas que fazem doações para dezenas de países amigos exportassem qualquer item e os requisitaram para os estados para suprir hospitais. Milhares de respiradores.

Então, há uma enorme ingenuidade do assessores de Bolsonaro (ou tietagem juvenil mesmo) em achar que os americanos nos darão alguma atenção porque Trump diz que gosta de Bolsonaro.

Primeiro, ao que se conhece de Trump, ele não gosta de ninguém. Depois, ele está cuidando da sua reeleição. Os informes das agencias falam do desastre de Bolsonaro e o risco que isso é para os negócios de empresas americanas. Vai fechar o acesso de brasileiros aos Estados Unidos e priu!

E vai voltar a criticar o Brasil quando as coisas piorarem, como tudo indica que vão piorar. Então, o que Bolsonaro pode dizer é que a culpa pelo caos não é dele e defender sua amizade com o presidente.

Mas ele sabe que os americanos ficaram irados com aquela reunião na Flórida em março e que espalhou covid-19 para uma dezena de pessoas, inclusive, obrigou o presidente americano a fazer exames diários para testar um possível infecção.

Portanto, Bolsonaro não deve esperar nada de apreço dos americanos até porque o lema de Trump é “Primeiro a América”. 

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