Por Fenando Castilho da Coluna JC Negócios,
Único país do mundo onde a covid-19 virou questão de Estado no sentido de negação dos efeitos da epidemia, o Brasil caminha para se tornar uma das nações com as mais com sérias restrições a negócios e recepção de capitais e ao turismo devido a imagem já projetada de total falta de controle da doença nas suas cidades.
Pelo nível de propagação da doença, o Brasil pode se tornar o país com maior número de casos de contágio e de mortes no mundo e até mesmo superar os Estados Unidos e a Inglaterra nos dois indicadores.
Com 800 mil casos e 41 mil mortes, registrados nessa quinta-feira, o problema do Brasil é que o governo do presidente Jair Bolsonaro joga forte contra uma solução racional para a epidemia.
Ele a desacredita em seus números e, na ponta, reduziu o volume de ações de combate à doença na medida em trava uma briga política diária com os estados e municípios que por sua vez, a cada dia, afrouxam as medidas de isolamento e fragilizam os sistemas de proteção que eles próprios criaram confiando que a existência de hospitais de campanha e leitos de UTI suportará o crescimento de casos.
A administração federal até destinou um razoável volume de verbas para serem repassados para essas ações. Mas também tumultuou a estratégia de cuidados quando o presidente e seus ministros não fazem disso uma ação conjunta.
O governo federal também se vale de informações frágeis sobre as pesquisas priorizado e até reproduzindo fake-news e distorcendo informações da OMS abertamente passando a desacreditar das ações da instituição.
Entretanto faz isso por uma motivação claramente política em alinhamento com os Estados Unidos - que não têm os mesmo interesses do Brasil - e na prática são os maiores financiadores de políticas e saúde global lideradas pela OMS. O Brasil hoje deve suas contribuições anuais a instituição.
O Brasil também optou por uma rota de colisão, inclusive na OMS, com a China seu principal parceiro econômico sem levar em consideração que as exportações de produtos agrícolas e de minério, podem ser prejudicadas se elevar a temperatura de um confronto que os chineses não desejam.Ao menos até encontrarem outro fornecedor para esses produtos vendidos pelo Brasil.
O problema é que a mensagem de descontrole já começa a ser sentida nas mesas do mercado de capitais internacionais onde os negócios com o Brasil, a partir de 2021, começam a ser desenhados quando da volta ao novo normal dos demais países.
Sem uma estratégia de ação federal, a covid-19 no Brasil tende a se tornar endêmica e o número de mortes passar a ser percebido pela população como “aceitável” como se tornaram “aceitáveis” os números de assassinatos, desastre de motos e de veículos e doenças como câncer de mama e próstata que agora, as mortes da covid-19 se aproximam.
Esse pode ser um quadro normal para o brasileiro comum, mas não é para o mundo e para os seus parceiros e investidores que além das questões ambientais agora se preocupam com o impacto na covid-19 em seus investimentos aqui
O primeiro setor a sofrer com isso é o turismo que terá destinos reduzidos de saída por restrições de países a entrada de brasileiros e de estrangeiros recusando-se a vir ao país como medo de pegar a covid-19 aqui.
Isso deve acelerar as restrições de cada vez mais países à entrada de brasileiros, especialmente nos latinos na Europa, para onde os brasileiros estão indo e agora já sabem que terão restrições de entrada.
O impacto deve atingir, também, a rota dos Estados Unidos para onde a classe média do país costuma viajar e investir em residências que agora não poderão serem usadas regularmente devido a proibição e quarentena de entrada.
Mas outros setores serão igualmente atingidos com o fechamento de empresas estrangeiras e escritórios no país. Até porque a tendência é de ampliação do uso de home office internacional já deverá reduzir esses endereços.
Claro que esse quadro poderá ser revertido se a ciência produzir uma vacina que possa ver aplicadas nos 210 milhões de brasileiros.
Mas ainda assim, as restrições econômicas vão continuar devido à instabilidade do governo que, em 2020, terá sua maior queda do PIB que deve prosseguir em 2021 a despeito das previsões otimistas do ministro da economia, Paulo Guedes.
A falta de uma estratégia de combate a covid-19 por força do governo Bolsonaro, portanto, tende a transformar o Brasil numa espécie de “terra proibida” onde além das questões de saúde, a insegurança política interfere na economia devido a incapacidade do país se preparar para a retomada do crescimento.
Especialmente pela incapacidade de gerenciar, politicamente, a questão da epidemia cujo sinal foi invertido permanece sem qualquer perspectiva de correção. É são esse sinais trocados que podem prejudicar ainda mais o Brasil. Ou como se diz na linguagem das mídias sociais faze-lo ser "cancelado" como destino de negócios.
O Brasil portanto terá se contentar com o seu mercado e reduzir ainda mais sua participação internacional a despeitos de estar ainda entre as 10 maiores economias do planeta.
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