Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Sabe aquela menino de família grande que só faz atrapalhar a imagem de um clã respeitável do interior? Aquele que passa a semana criando problema na fazenda e nos fins de semana alopra na cidade? Aquele filho que o pai sabe que não é o que sonhou, mas tem esperança de que o menino um dia tome jeito? Até que finalmente tem que mandá-lo para longe na esperança de que o menino se aprume? Abraham Weintraub é isso para Jair Bolsonaro.
Mas antes de qualquer coisa é importante que fique claro. A gestão de Abraham Weintraub no ministério da Educação é um desastre. Em 14 meses, a única coisa que ele não fez foi cuidar da pasta. Nem mesmo dentro da ideia de um conceito de direita.
A gestão dele é um equivoco porque ela paralisou as ações de ministério que tem o terceiro maior orçamento, o segundo maior contingente de servidores e de maior importância social porque vai da infância à pós-graduação e à pesquisa.
A maior crítica não é por suas declarações, manifestações estabanadas e pela assunção de um direitismo que não praticava antes. É pelo nível de paralisia que ele provocou na pasta.
Quem já passou pelo MEC sabe que geri-lo é coisa para profissional. Somente a secretaria executiva tem 18 departamentos e sub secretaria. Somente a Secretaria de Ensino Superior quem tem três diretorias tem mais 12 departamentos.
Quando se observa as secretarias de Regulação de Educação Superior, Especialização e Alfabetização existem mais oito diretorias dezenas de setores. Isso sem falar na estrutura do gabinete do ministro que e maior que o presidente da República. Resumindo.
Tem área do MEC que Weintraub nunca despachou ou se inteirou do que estava acontecendo porque não estava querendo cuidar da pasta.
Weintraub criou problemas no Enem levantando dúvidas na hora da divulgação dos resultados. A qualidade do ensino básico foi paralisada. A tradicional política de valorização do magistério foi outra que parou. Isso sem falar nos ataques a universidade especialmente no que diz respeito a autonomia.
Na saída Weintraub disse que deixa MEC com gestão limpa e amplo legado e que sua marca foi um "ponto de inflexão" no ensino brasileiro, dando um novo rumo às políticas educacionais. E que na sua gestão o MEC cuidou de implantar uma melhor formação aos docentes da educação básica, com o protagonismo da família no processo de desenvolvimento e o respeito ao professor em sala de aula.
Conversa. Esses conceitos nunca saíram do seu gabinete. Não há nenhuma notícia que esses mudança na formação de professores mudou.
Ele ainda disse que lançou edital para que, a partir de 2022, todas as crianças da pré-escola tenham livros, algo inédito em 35 anos de programa. Bom, até agora não existe garantia de que isso vá acontecer.
O ministro ainda se jactou de ter criado um projeto de emissão de carteiras estudantis gratuitas e m formato digital para meia-entrada em eventos culturais. Bom, com se sabe o Congresso simplesmente ignorou e a ideia foi para o espaço.
Mas os maiores problemas que Weintraub foram criados fora da pasta. Ele entrou numa rota de conflitos que forma se sucedendo com declarações estapafúrdias sempre na linha de radicalização de pontos de direita enquanto foi se aproximando os filhos do presidente Jair Bolsonaro.
É importante observar, Weintraub só conheceu Bolsonaro depois que foi apresentado por Onyx Lorenzoni.
Ele foi se chegando e aí virou mais radical que Carlos Bolsonaro. Ah, também começou a cair nas graças de Olavo de Carvalho. Ninguém nunca viu Weintraub frequentar curso de Carvalho, mas virou figurinha carimbada do guru.
Quando veio a saída de Ricardo Vélez Rodriguez, Weintraub ganhou cargo também por indicação de Onyx Lorenzoni. Então veio a surpresa do radical Weintraub.
Weintraub então começou a anunciar uma série de mudanças que na prática paralisaram o ministério. Primeiro, porque vários cargos foram ocupados por militares que chegaram antes dele na gestão de Vélez Rodriguez.
O ministro começou a falar sobre temas que não dizem respeito a sua pasta como às críticas ao governo da China em razão da pandemia da Covid-19, que se iniciou no país asiático.
Ele se juntou a Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao culpar a China pelo coronavírus, E ai começou a tirar onda com os chineses trocando a letra “R” por “L”, em referência ao personagem Cebolinha, ele fez publicação irônica à China, afirmando que o país obteria ganhos políticos com a crise derivada da Covid-19. Após repercussão negativa, o ministro apagou o texto. Mas ai o mal estar coma China já estava criado.
Mas o grande momento foi mesmo da reunião do dia 22 de abril. Para uma plateia que o olhou atravessa ele disse que — Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca”
O vídeo mostra o ministro da Saúde Nelson Teich assustado com a fala de Weintraub. Mas o ministro viu que ali tinah selado seu destino. Tinha cruzado a linha do aceitável e a partir dai foi só a preparação da saída com a ida a uma manifestação no último dia 15. Ele já sabia que teria que sair.
Nesta segunda-feira, o ministro Paulo Guedes deu uma solução. Indica-lo para, para a diretoria-executiva do grupo de países liderados pelo Brasil no Banco Mundial em Washington. O cargo está vago desde a saída do economista Fábio Kanczuk, em 2019. Boa parte do ministério comemorou discretamente. Tinham se livrado de um chato que incomodava.
E como não poderia deixar de ser Abraham Weintraub ainda criou um constrangimento para Bolsonaro colocando o presidente numa situação como se estava saindo porque queria. O presidente estava muito desconfortável.
Assim, Bolsonaro conseguiu resolver o problema do menino problema. A dúvida é se nas redes sociais ele vai continuar a fazer barulho aqui no Brasil.
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