Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Acredite. A rede de desinformação construída pelos assessores presidente Jair Bolsonaro não usou nenhum tipo de proteção ou algoritmos aplicados pelos hackers internacionais na chamada deepweb que se serve de códigos escritos em alfabeto siríaco russo considerados muitas vezes mais difíceis de serem encontrados.
Nada disso. A rede agora revelada foi montada dentro do Facebook usando esquema primários de camuflagem que qualquer aluno do curso de programação identifica revelando que esse grupo de “estrategistas de internet” são, na verdade, um grupo de amadores que não trabalhariam em nenhuma empresa de desenvolvimento de software.
Até porque não se tem notícia de aplicativo criado por eles. Na verdade, pode-se dizer que se fossem pedir emprego numa das empresas do Porto Digital não conseguiriam pelo conhecimento troco que possuem.
Isso explica por que o Facebook informou, ontem, o nome, sobrenome e os valores que pagaram à rede de Zuckerberg assim como todas as contas agora banidas. Coisa de amador mesmo que durante mais de dois anos fez acreditar tratar-se de especialistas.
Mas o que realmente importa é que como os códigos foram facilmente identificados pode-se saber a origem de algumas hashtags importantes cuja descoberta o presidente deve, de fato, se preocupar.
Tem a ver especialmente com duas: #STFVergonhaNacional e #STFEscritórioDoCrime. Na prática, elas dão fé de ofício ao inquérito que o ministro Dias Tofolli mandou abrir ano passado devido aos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Dito de outra forma: Os pesquisadores americanos do Digital Forensic Research Lab (DRFLab) estão dizendo que o inquérito tem objeto e que se quiser o ministro Alexandre de Moraes já pode fechá-lo e mandar para apreciação no plenário do colegiado.
O Facebook e Instagram disse basicamente o seguinte: Encontramos 35 contas, 14 Páginas e um Grupo no Facebook e mais 38 contas no Instagram encarregados de espalhar notícias falsas.
Esse contas tinham 883 mil seguidores que seguiam uma ou mais dessas páginas no Facebook. Cerca de 350 pessoas se juntaram ao Grupo e cerca de 917.000 pessoas seguiam uma ou mais dessas contas no Instagram. As contas foram excluídas da plataforma.
O Facebook disse que a maioria dessas redes que removeu mirava audiências domésticas em seus próprios países e estava ligada a entidades comerciais e pessoas associadas a campanhas políticas ou gabinetes de políticos com mandato.
E o mais grave: a investigação encontrou ligações a pessoas associadas ao Partido Social Liberal (PSL) e a alguns dos funcionários nos gabinetes de Anderson Moraes, Alana Passos (deputados estaduais ), Eduardo Bolsonaro (deputado federal), Flávio Bolsonaro (senador) e do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro.
O Facebook também identificou outras pessoas. Assessores diretos do presidente Jair Bolsonaro, segundo o Facebook e o Instagram tinham páginas e contas com conteúdo de ataques a adversários políticos.
Um deles, Tércio Arnaud Thomaz, assessor especial da presidência da República que controla a “Bolsonaro Opressor 2.0”, seguida por mais de 1 milhão de pessoas no Facebook. Ele também controla a conta @bolsonaronewsss que 492 mil seguidores e que já fez mais de 11 mil publicações.
O Facebook esclareceu numa nota que a atividade incluia a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de Páginas fingindo ser veículos de notícias.
E que vários grupos com atividade conectada que utilizavam uma combinação de contas duplicadas e contas falsas - algumas das quais tinham sido detectadas e removidas por nossos sistemas automatizados - para evitar a aplicação de nossas políticas.
O diretor de Cibersegurança do Facebook, Nathaniel Gleicher, foi cauteloso em apontar o envolvimento direto ou o conhecimento dos políticos na campanha presidencial de 2018.
Mas identificou que um membro da rede é conectado ao vereador Carlos Bolsonaro e outro é contratado do deputado estadual pelo PSL de São Paulo, Coronel Nishikawa.
O curioso é o fato de que o grupo não tomou nenhum cuidado de segurança. Na verdade, com o documento do Facebook o governo passa a ter que explicar o constrangimento de que o próprio presidente ter uma conta cancelada pela plataforma. E pelos motivos pelas quais forma excluídas.
Além das contas que seus filhos controlam uma rede com base dentro do próprio Palácio do Planalto. Ainda é difícil saber o impacto que isso pode ter no processo que corre no TSE.
Mas o reconhecimento do Facebook que chegou ao ponto de retirá-los da plataforma significa o reconhecimento de uma rede usando a estrutura do Estado para espalhar notícias falsas.
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