Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Marco Maciel inaugurou o despacho noturno nos cargos que ocupou

Marco Maciel, que faz 80 anos, construiu uma história de gestor público com especial cuidado pelo dinheiro do contribuinte e seriedade na politica.

Fernando Castilho
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Fernando Castilho
Publicado em 21/07/2020 às 13:10 | Atualizado em 21/07/2020 às 16:49
Beto Oliveira / Câmara dos Deputados
Marco Maciel teve uma das carreiras mais ativas na politica brasileira em mais de 40 anos. - FOTO: Beto Oliveira / Câmara dos Deputados

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios

Marco Antonio de Oliveira Maciel foi, certamente, o político mais disciplinado que a república brasileira teve, no sentido de entrega de resultados enquanto esteve na politica. Ele completa 80 anos hoje. 

Isso não quer dizer que ele não tenha aparecido para o grande público. Mas para o serviço público, Maciel foi um dos pioneiros no sentido de articular coisas.

Pouca gente sabe, mas foi Maciel quem articulou um dos primeiros centros de pesquisa de dados no setor publico criando, no Recife, um centro de pesquisa que visava reunir informações para um incipiente segmento de automação no tempo da chamada reserva de mercado.

Era quando as pessoas viam os programadores de computador como seres extraterrestres numa sala com grande computadores da IBM, quando ninguém sabia o que era DOS e Bill Gates ainda não estava no mercado. Chamava-se CLADI - Centro Latino Americano de Desenvolvimento de Informática.

Maciel, de fato, como gestor, tinha umas coisas esquisitas. Ele não acordava às seis da manhã. Pelo simples fato de ir dormir tarde. Maciel não ia para a cama antes de ler os cinco grandes jornais (Globo, Folha, Estadão, Jornal do Brasil (que era o líder na época) e a Gazeta Mercantil - precursora do Valor Econômico. Lia, riscava e recortava.

Era isso que o fazia ser o cara mais atualizado do país no tempo que esse negócio de clipagem estava só começando. Isso fazia com que, sempre ao encontrar com os jornalistas, surpreendesse ao falar de suas matérias. De receitas de bolo a problemas da seca. De medicina à literatura. MAM lia tudo. Era isso que o fazia ser o cara mais atualizado do país.

Maciel tinha uma outra grande capacidade. A de responder demandas. Rigorosamente, nada de importante para a economia que fosse demando a ele não teria uma resposta. Nem que fosse um cartão com a assinatura MAM que estava sendo encaminhado. Mas tinha umas coisas estranhas.

Marco Maciel foi presidente da Câmara Federal e sempre visitava seu amigo Dom Helder Câmara na manhã de sábado, na Rua das Fronteiras, no bairro do Derby.

Certa vez os jornalistas, ávidos por uma declaração dos dois sobre questões políticas, foram surpreendidos por um “papo cabeça” sobre as vantagens de se dormir apenas quatro horas e se recuperar integralmente.

Esse era um ponto de alinhamento de Maciel com o Arcebispo. Um dormia das três da manhã até às sete depois de ler o jornais. O outro dormia das onze da noite até as três da manhã para poder orar e meditar. Não rendeu uma linha de notícia, mas a história esclareceu a disposição dos dois pelo trabalho.

Na Câmara Federal, no governo do Estado ou na vice-presidência, MAM tinha uma articulação impressionante. Certa vez, um assessor da Comissão Nacional de Energia Nuclear convidou um grupo de jornalistas do Nordeste para uma visita as instalações de Angra I e a sede da Eletrobras e a Furnas, no Rio de Janeiro.

Ninguém entendeu o motivo da viagem até que ele apareceu no encontro falando do Centro Regional de Energia Nuclear que seria instalado na Várzea, que estava articulando.

Uma coisa que as pessoas falam é de sua discrição no cargo. MAM nunca despachou no gabinete de FHC no Planalto. Mesmo tendo assumido o cargo por ao menos um ano se somados os dias em que esteve presidente nas viagens de FHC.

Ele mandava trazer todos os despachos para o Palácio do Jaburu onde seu gabinete tinha uma agenda mais cheia que a de FHC. Recebendo políticos do Brasil inteiro sem que isso significasse qualquer ameaça a FHC.

Outra coisa curiosa era sua capacidade de trabalho e de articulação politica a nível nacional. Vice-presidente no exercício da presidência soube ao voltar para Brasília num domingo a tarde que o avião precisaria de passar por uma inspeção de emergência.

O coronel se aproximou e deu a notícia. Ele só fez uma pergunta: vai durar quanto tempo? “uma hora senhor vice-presidente.”

Isso é bom, disse, var dar tempo de fazer uns seis ou sete telefonemas. Foi para uma sala na Base Militar do Ibura e ficou ao telefone até ser chamado para o embarque.

Mas nada se compara a expressão “me inclua fora disso” que ele criou na Câmara Federal como deputado federal. Há muitas histórias sobre a origem. Mas a mais aceitável era de uma articulação, ainda no tempo dos militares, que ele se assustou com encaminhamento.

Marco Maciel também tinha fama de não ser grosseiro com ninguém. É verdade. Mas isso não quer dizer que não tivesse opinião e não ficasse irritado. E quando um auxiliar apresentava uma solução errada ele contestava sim dizendo “Não, não, não” com o dedo indicador balançando. Mas nunca na direção do interlocutor.

Entre as muitas histórias sobre sua honestidade e zelo pela coisa publica tem uma dos deputados do PT ainda da década de 80 querendo saber o que o vice-presidente tinha feito como gestor algo de errado ou suspeito.

Perderam tempo e energia. Até que alguém na sala encerrou a conversa: a gente só pode combater Marco Maciel pelas suas posições políticas. Procurar mal feito dele é perder tempo.

Aos 80 anos, Marco Maciel faz falta. Nessa "ninguensada" que a política brasileira se tornou. Inclusive sobre no debate sobre o liberalismo que sempre defendeu. 

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