Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
No começo da epidemia da covid-19, quando ficou definido que o governo federal, além dos beneficiários do Bolsa Família, pagaria o auxílio emergencial aos inscritos do CadÚNico e a pessoas que não recebiam nenhum tipo de ajuda federal e inscritos no MEI, os grandes bancos privados procuraram o governo de forma discreta para oferecer ajuda de modo a, também, fazer os pagamentos.
A Caixa Econômica Federal resistiu à proposta. Sua diretoria argumentou junto ao ministério da Economia que, como já pagava o Bolsa Família e todos os programas sociais do Governo, deveria ser o canal natural de assumir a nova missão. Afinal, como perder uma oportunidade desse tamanho para atrair novos possíveis correntistas?
Também houve pressão da Dataprev para assumir a tarefa que faz o processamento de dados da Caixa. A proposta dos bancos privados de usar sua tecnologia para ajudar a fazer o cadastro não prosperou. Mesmo que eles estivessem dispostos a usar sua rede de agências e, especialmente, a rede máquinas do Banco 24 horas.
Para a Caixa foi uma vitória política. Inclusive sobre o Banco do Brasil - que também deseja participar do projeto. Mas a tarefa se revelaria um desastre em termos de marketing e que resvalaria para a imagem do governo como agente se proteção social.
Depois de cinco meses, filas nas agências que involuntariamente ajudaram na propagação do coronavírus, e chegou a ameaças de prisão de gerentes, a Caixa descobriu que pagou a, ao menos um milhão de pessoas, sem qualquer garantia de que seriam os verdadeiros beneficiários.
Um furo de controle tecnológico que a obrigou a convocá-los para ir as agências provar que eram elas mesmo ampliando o constrangimento.
O problema da dificuldade da Caixa está no seu parque tecnológico de informática. No setor de TI, Caixa está atrasada nos processo de automação e serviços.
Além disso, ao menos um terço, dos serviços que presta são feitos pelas lotéricas que, na pandemia, estavam fechadas.
Sua rede de agências, não chega nem perto da dos bancos privados e perde até para a rede do BB porque as lotéricas suprem essa dificuldade.
Mas os problemas surgiram na estruturação dos aplicativos. Como uma população de quase 100 milhões de pessoas acessaram os sistemas da Caixa querendo se habitar, ele não aguentou.
A pressão sobre o sistema obrigou a Dataprev a criar uma inusitada fila virtual que fazia as pessoas ficarem horas esperando sem resolver seus cadastro.
O resultado desse desgaste foi que o projeto de transferência de uma ajuda financeira direta para mais de 65 milhões de pessoas que poderia catapultar a imagem do governo Bolosonaro virou uma maldição.
Para completar, a Caixa também foi sendo “escalada” para os programas de ajuda ao setor empresarial sobrecarregando ainda mais os sistemas da instituição.
A Caixa até se saiu bem no setor corporativo, mas a imagem junto à população de baixa renda foi para o espaço com o noticiário mostrando as agências com filas intermináveis.
A imagem de agências como pessoas sendo maltratadas e sofrendo nas madrugadas acabou diluindo a possibilidade de o governo Bolsonaro capitalizar o feito ainda que estivesse transferindo R$ 3 mil para cada pessoa.
Para as mães inscritas no Bolsa Família, a transferência chegará a R$ 6 mil em apenas cinco meses. Nunca nenhum governo transferiu tanto dinheiro diretamente para o cidadão.
Mas o governo Bolsonaro não conseguiu ser visto como prestador de um serviço estratégico num momento de crise grave.
Na pratica, a demora, os constrangimentos nas filas e dificuldades de resolver os problemas nas agências acabou não ajudando a melhorar nem a imagem da instituição nem ao governo.
Com tantos problemas na ponta, o pagamento do Auxílio Emergencial funcionou como aquela pessoa que demora tanto tempo a ajudar a um amigo em dificuldades financeiras que quando entrega o dinheiro o beneficiário não agradece, mas o amaldiçoa.
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