Faleceu de causas naturais, neste domingo (26), o empresario Vinício Tavares de Melo, um dos fundadores de um dos maiores grupos empresariais do Nordeste: o GTM. O empresário de 98 anos era pernambucano do Recife e filho mais velho do fundador do Grupo Tavares de Melo, Artur Tavares de Melo e Helena Hardman, pais de oito filhos: Virgílio, Murilo, Terezinha, Marcílio, Silvio, Romildo e José Tavares de Melo (Zequinha), além de Vinício.
Formado em Química Industrial pela UFPE, era um apaixonado por processo de produção de açúcar e costumava dizer que conheceu todos os países que produzem cana de açúcar no mundo através de viagens que fez por iniciativa própria, inclusive Cuba, país onde chegou a ter parcerias com especialistas.
Foi aluno do extinto Colégio Marista, no Recife, e entrou no curso de formação de oficiais da reserva (CPOR), na arma de artilharia. Por pouco não foi convocado para a Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Casado com Ermelinda Tavares de Melo, teve oito filhos: Carlos, Edna, Maurício, Ana Helena, Marcelo, Maria Elizabeth, Roberto e Ricardo, já falecido. O casal tem 15 netos e 16 bisnetos.
Seu pai, Artur Tavares de Melo, era filho de Pedro Tavares de Melo, dono de um pequeno engenho, o Olho D'água, que produzia açúcar bruto e rapadura. Vinício juntamente com Virgílio e Murilo entraram no negócio a partir da Usina Olho D’água, da qual nasceu o Grupo Tavares e Melo (GTM).
Foi esse trio que fundou a produtora de frutas e, a seguir, os sucos Maguary. Também adquiriu a Usina Estivas, no município de Arêz, no Rio Grande do Norte, considerada uma das mais produtivas plantas do Nordeste.
A entrada no mundo dos negócios, que originou um dos mais bem sucedidos grupos empresariais do Nordeste, se deu com o falecimento José Hardman, sócio de Arthur, quando os três irmãos (Vinício, Virgílio e Murilo) pediram ao pai para Arthur entrar na sociedade.
Chegaram com a proposta pronta de pagar as cotas da empresa com o trabalho. O pai aceitou, mas ficou com a parte financeira do negócio. Foi assim que, em janeiro de 1943, Vinício assumiu a gerência industrial da Olho D'Água. Murilo, recém-formado pela Escola Superior de Viçosa, Minas Gerais, assumiu a gerência agrícola. Virgílio, que já morava no Recife, ficou com a parte comercial.
O sucesso do trio fez, em 1967, as usinas do GTM liderarem a produção de açúcar em Pernambuco, na época uma dos maiores do Brasil. A capacidade da nova administração já havia sido comprovada na safra 1945/1946, quando a produção chegou a 45 mil sacos. O recorde de produção da então Usicoda foi na safra 1986/1987 com 1.990.237 sacos, quando também ocorreu a maior moagem: 1.280.937 toneladas. A maior produção de álcool foi na safra 1989/1990: 26.718.887 litros.
Torcedor do Náutico, jogou voleibol pelo clube. Cultivava a discrição, sendo avesso a entrevistas, mesmo para publicações técnicas, embora tenha escrito vários artigos para o Jornal do Commercio.
Ele também ajudou a fundar a Maguary, inspirado na industrialização de abacaxis que vira no Havaí (EUA) e que virou um novo negócio no Nordeste, a produção orientada de abacaxi para exportação. Como sucesso na venda e exportação de frutas, os Tavares de Melo fizeram da Maguary a segunda empresa do Grupo Tavares de Melo.
A sede e a indústria da nova empresa foram instaladas em Pedras de Fogo, na Paraíba. O nome Maguary é referência a um pássaro com na região.
Em 1976, com a multinacional Kibon, surgiu o acordo operacional entre as duas empresas. Nasceu a Sorvane – Sorvetes E Produtos Alimentícios do Nordeste, firma cuja participação acionária era de 50% do GTM e 50% da Kibon. O GTM saiu da operação, vendida para a Unilever após 23 anos consecutivos de lucros.
Em 1969, Vinício esteve na operação que o grupo GTM comprou a Usina Estivas. Localizada no município de Arêz, no Rio Grande do Norte, a pequena usina tornou-se a terceira empresa do GTM e uma das maiores indústrias de açúcar do Nordeste. Também esteve no projeto de instalação da Giasa, a primeira destilaria autônoma do Brasil, construída ao lado da Usina Olho D'Água.
Em 1982, o GTM implantou um dos mais arrojados projetos de açúcar e álcool, com o surgimento da nova fronteira agrícola no Centro-Oeste e a instalação no Mato Grasso do Sul da Usina Passatempo.
O empresário esteve ainda envolvido na aquisição de uma das marcas de maior recall do Nordeste, o açúcar Estrela, que passou a ser uma das âncoras de varejo de sua produção.
Ainda no Grupo Tavares de Melo, Vinício esteve no projeto de instalação de um dos primeiros terminais de combustíveis líquidos do Nordeste, focado na armazenagem de álcool, o Tecab - Terminais de Armazenagens de Cabedelo, na Paraíba.
O grupo também entrou no segmento de distribuição de combustíveis, lançando a bandeira Ello. E experimentou negócios como a Sacoplast, uma indústria de sacos de ráfia, em Parnamirim (RN), para suprimento de suas unidades de açúcar e o setor de grãos e estivas.
Esteve, ainda, no segmento de calçados com a implantação da fábrica de Sandálias Dupé, vendida para o grupo Alpargatas, dono da franquia Havaianas.
Vinício esteve à frente dos negócios na área comercial até 2006, quando decidiu se retirar do operacional. Permaneceu no Conselho de Administração como acionista quando o GTM estruturou tecnicamente uma das primeiras sucessões de famílias de empresários do Nordeste
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