Por Fernando Castilho do JC Negócios
O consumo de cimento no Nordeste cresceu 44,8% no mês de junho levando o consumo, a nível nacional, crescer 24,2% segundo dados no Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). O número revela que, no mês passado, o Brasil comprou 5,2 milhões de toneladas, onde apenas no Nordeste foram consumidos 1,09 milhão de toneladas do produto.
Existem basicamente duas explicações para essa forte expansão em apenas um mês: a auto construção responsável pelo chamado “consumo formiguinha” e a retomada das obras no setor imobiliário. Apenas esse dois segmentos são responsáveis por 80% de todo o consumo.
O problema é que junto a esse consumo veio atrelado um crescimento nos preços que, no caso setor da construção civil imobiliária, representa aumento de custos.
Em novembro de 2019, o cimento aumentou 11,67%, em março/2020 8,71% e há uma previsão de aumento em agosto de mais 8%. Em menos de um ano teremos um aumento de 31,11%.
Segundo o empresário Gustavo Miranda, ex-presidente do Sinduscon-PE, o aumento de preços pode ser explicado pela disparada do dólar, nos colocando no preço referência R$ 5,00 por US$ 1,00 e que se mantém.
Mas no caso do Nordeste, ele interpreta que tem a ver com uma questão de mercado, e bem perverso, que foi a redução da oferta pela redução do número de fabricantes regionais.
Miranda lembra que, há 10 anos, tínhamos basicamente três fabricantes no Nordeste (João Santos (Nassau), Votorantim (Poty) e Brennand (Zebu-PB e Atol-AL), que tinham preços muito próximos.
Entretanto, com a chegada de outros produtores, alguns grandes e com fábricas muito mais modernas como (Elizabeth -PB, M Dias Branco (Apodi) - CE, Cimpor (Nacional) na divisa PE/PB. Além de outros pequenos como o cimento Brasil, vendido para a Camargo Correa; Pajeú (Petribu), o cimento Forte (Grupo Lyra) houve uma verdadeira queima de preços, lembra o empresário.
Somente, no ano passado, quando as vendas crescendo apenas 3,3% nas vendas de cimento, se interrompeu uma série de quatro anos de crise, a indústria começou o ano com expectativa de aumento. O que justifica o reajuste de 11,67%já em novembro.
O diretor da rede Armazém Coral, Domingos Moreira Filho, reconhece que os preços subiram na ponta. Quando houve crescimento forte na compra no chamado “comercio formiguinha”. Ele revela que o crescimento de preços, entretanto, não acontece só de cimento como noutros materiais.
A verdade é que o varejo de material de construção está "bem aquecido por conta da demanda reprimida, esclarece o empresário, afinal forma quatro meses sem muita movimentação". Nesses meses, diz ele, mesmo com as lojas entregando na porta e no e-commerce, as vendas ficaram bem abaixo do normal
Moreira lembra que com a legislação com porta fechada e vendendo só pela internet houve uma demanda muito reprimida que agora está fazendo o cliente voltar as lojas.
Ele também não descarta que parte do benefício do Auxílio Emergencial esteja sendo canalizado para algum tipo de compra de material de construção.
Finalmente, Domingos Filho lembra que a retomadas das vendas com a Caixa Econômica, liderando recursos e novos financiamentos de imóveis, acaba ajudando a aquecer as vendas de uma forma geral no setor de material de construção onde o cimento é quem define o resto das outras compras
A intuição de Domingos Moreira Filho faz sentido. O Nordeste recebeu, até 30 de junho, R$ 37,7 bilhões como transferência de recursos através do Auxílio Emergencial. Apenas Pernambuco recebeu transferências totais de R$ 6,3 bilhões.
Além disso, o Nordeste detém 50% de todos os inscritos do programa Bolsa Família que recebeu dentro de seu cronograma normal, aproximadamente, R$ 23 bilhões, dos R$ 45,5 bilhões pagos aos inscritos no Programa, entre elas as mãe chefes de família que tiveram direito a R$ 1.200, ou R$ 4,8 mil quando se soma as quatro parcelas já pagas
De qualquer forma ao final do primeiro semestre de 2020 é possível afirmar que dois fatores puxaram para cima as vendas de cimento no período: a autoconstrução (residencial e comercial) e a retomada das obras dos empreendimentos imobiliários.
Segundo o SNIC, as vendas no mercado interno, atingiram 26,9 milhões de toneladas, um crescimento de 3,6% em relação ao primeiro semestre de 2019. Mas em junho, as vendas chegaram a 5,2 milhões de toneladas, um aumento de 24,2% sobre o mesmo mês do ano passado.
É isso que explica que as reformas estejam em ritmo chinês há mais de dois meses, conforme demonstram indicadores de vendas de lojas de materiais de construção. Bem como as obras de empreendimentos imobiliários retomadas pelas construtoras, inclusive, do aumento de trabalhadores nos canteiros de obras.
Segundo o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna, a COVID-19 provocou uma série de mudanças nas nossas vidas, nos nossos hábitos e nas nossas prioridades. Para a indústria do cimento, a crise mostrou que o cuidado com a casa e o uso de reservas pessoais e investimentos para pequenas reformas, tão populares na década de 80, voltaram a fazer parte do orçamento familiar.
Ele diz que o cumprimento dos rígidos protocolos de segurança, garantiu a manutenção das atividades da indústria e demonstrou que a coexistência entre a produção e venda de cimento e o combate ao coronavírus é perfeitamente possível, como no caso das obras imobiliárias, que vem retomando o ritmo pré-crise.”
Tem mais: Um estudo que chama a atenção é a Sondagem da Construção realizada pela FGV, que apesar de apontar em junho o segundo mês consecutivo de melhora, também mostra que a recuperação foi de 43% das perdas do setor em março e abril e que há uma notável queda de lançamentos de empreendimentos.
Para o executivo, ainda existem muitos entraves a serem superados, e medidas como a incorporação dos custos de ITBI e documentação no financiamento imobiliário, anunciadas recentemente pela Caixa Econômica Federal, se somam a um conjunto de ações que contribuem para a sustentabilidade do setor, tais como novas modalidades de financiamento e redução de taxa de juros, entre outras.
Segundo o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna, a indústria do cimento é responsável por mais de 70 mil empregos, gera uma renda de R$ 26,4 bilhões ao ano e uma arrecadação líquida anual de R$3 bilhões em tributos.
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