Desde o começo da pandemia da coronavírus, um dos problemas mais sérios do governo foi fazer chegar dinheiro as empresas. Especialmente as micro e pequenas empresas. O governo através do Banco Central dizia que, ao todo, as medidas anunciadas tinham o potencial de ampliar a liquidez do sistema financeiro em R$ 1.27 trilhão, equivalentes a 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
De fato, as iniciativas do Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para dar liquidez ao Sistema Financeiro Nacional (SFN) e para ajustar o nível de capitalização, especialmente para enfrentar os efeitos da pandemia de covid-19, foram importantes. Até porque eles estavam liberando os bancos de uma série de obrigações que o sistema financeira brasileiro exige.
E não foi pouco dinheiro. Por exemplo, o BC liberou os bancos de recolherem R$ 135 bilhões, o chamado Compulsório para dar mais liquidez de curto-prazo. Liberou do compulsório de poupança em mais R$ 55,8 bilhões.
Mas na hora que foi necessário fazer o dinheiro chegar na ponta a coisa não aconteceu. E foi preciso criar programas especiais em que o governo teve que assumir o risco total.
Só que os bancos não ficaram parados embora o governo tenha, através dos Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e Emergencial de Acesso ao Crédito (PEAC-FGI), emprestado R$ 22,6 bilhões em mais de 220 mil operações entre 15 de março e 31 de julho.
Os bancos privados concentraram suas operações de novas contratações e renovações nas grandes e médias empresas.
Para se ter uma ideia de como os grandes bancos cuidaram de seus grandes clientes basta dizer que eles emprestaram R$ 321,7 bilhões dos R$ 573,5 bilhões que movimentam no período. Especialmente nas operações de capital de giro que 17% para apenas 5% ao ano.
Quem trabalha no mercado já sabia que isso vinha acontecendo. A despeito de uma publicidade melosa em que os mega bancos diziam que estavam juntos, que a crise ia passar e tudo mais. Até o Banco do Brasil entrou na onda.
Mas na prática era só conversa. Os números do boletim de Evolução Recente do Crédito no Sistema Financeiro Nacional elaborado pelo Banco Central que relaciona as medidas tomadas pelo Governo Bolsonaro para enfrentar os efeitos da pandemia de Covid-19 revelam que o dinheiro dos bancos privados foi para as grandes empresas.
O boletim mostra que houve um aumento de 19,2% de empréstimos para as pessoas jurídicas nas 20 semanas que o país convive com a pandemia e que o setor público emprestou a média e pequena empresa R$ 50,7 bilhões contra R$ 41,7 bilhões as grandes empresas. Os bancos públicos fizeram um total de R$ 43,1 bilhões em renegociações.
Os números do Banco Central mostram que enquanto o governo não conseguia fazer chegar o dinheiro as pequenas e micro empresas, especialmente por falta de ofertas de garantias, as grandes companhias tiveram acesso facilitado e no geral tomaram R$ 399,5 bilhões dos R$ 627,3 bilhões emprestados na crise da covid-19. E fizeram um total de R$ 112,6 bilhões dentro de um total de R$ 152,8 bilhões.
Os bancos privados também seguiram o modelo no segmento de pessoal física o relatório também mostra que os bancos privados concentram suas ações no refinanciamento dos créditos à pessoa física.
De um total de R$ 241,9 bilhões de operações feitas pelos bancos privados R$ 147,5 bilhões apenas em renegociações. O mesmo comportamento se repetiu no setor público onde forma feitas um total de R$ 130,8 bilhões em renegociações contra R$ 107,7 bilhões em novos créditos.
Na verdade, as micro e pequenas empresas puderam contar mesmo foi com o Programa Emergencial de Suporte ao Emprego (PESE), instituído pela Medida Provisória 944, de 2020, até o dia 30 de junho foram concedidos empréstimos no valor de R$ 4,5 bilhões, beneficiando 1,9 milhão empregados de 113.383 empresas financiadas.
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