Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
O ministério da Economia virou uma sofrência para Paulo Guedes. Toda semana ele tem que forçar Jair Bolsonaro a lhe dar demonstrações de apoio e confiança naquele que já foi seu Posto Ypiranga. Já foi porque, aqui para nós, virou uma espécie de Bandeira Branca.
Nesta segunda-feria, o ministro precisou de mais uma demonstração do presidente para se manter no cargo. Depois de uma dia em que o mercado “listou” nomes para o seu lugar.
Não trabalhou uma hora no ministério. Passou o dia tentando se manter no cargo. Conversando com a equipe, dizendo que não vai sair e que o presidente tem confiança nele. Numa forçada de barra levou a equipe para fazer uma apresentação dos seus planos para sair de 2020 com alguma esperança.
E o que Bolsonaro poderia fazer? Dizer que ele está prestigiado. Que continua confiando nele e que não está pensando em furar teto de gastos. Não está porque sabe que sem uma mudança na lei correr o risco de ser enquadrado. Mas quer uma porta de saída para gastar.
Paulo Guedes arranjou R$ 5 bilhões para os ministério de Rogério Marinho e de Tarcísio Freitas. Numa situação normal, R$ bilhões era verba para contentar toda a bancada do Nordeste. Mas hoje virou um dinheirão.
Na verdade, é dinheiro para o ministério de Rogerio Marinho que tem se esforçado, desde junho, para arranjar algo que Bolsonaro possa inaugurar ou dizer que fez. Na verdade Marinho é um ministro que trabalha com pequenas verbas.
Mas o problema é que está chato esse negócio de toda semana Paulo Guedes precisar de um apoio do presidente. Alguém lembra de Michel Temer dando apoio a Henrique Meireles? Lula dando apoio a Antonio Palocci? Ou Fernando Henrique dando apoio a Pedro Malan? Ministro da Fazenda não precisa de apoio do presidente. E se precisar já era.
Então, apesar da nova demonstração parece claro que Paulo Guedes está deixando de ser a encora na área econômica do governo Bolsonaro. A reunião de ontem é mais uma demonstração de fraqueza quando o mercado passou o dia listando nomes.
Na verdade, o mercado - que não está nem aí para a covid-19 - já tem um escolhido. Roberto Campos Neto.
O presidente do BC é o sonho de consumo do mercado financeiro. Ex-diretor de tesouraria de banco grande, experiente no trato com dinheiro no curto e longo prazo, discreto e bem formado. Seria “O cara”.
O problema é que o ministério da Economia é grande demais para um banqueiro. E mais ainda um banqueiro que só cuidou de dinheiro. Então, é complicado pois exigiria dele uma desenvoltura que ele ainda não demonstrou que tem.
No Banco Central, onde só fala por escrito e só tem contato com gente do mercado ou representantes da área financeira dos segmentos econômicos é o ambiente dele. Mas imagina sair dessa zona de conforto para enfrentar o Congresso? E ainda mais numa situação em que o Brasil se encontra?
Mas o problema não é Campos Neto. O problema é o Guedes. Para um cara que chegou com um poder que era maior que o do presidente que juntou cinco ministério num só e que passou a ter todo o controle da economia sem dividir com ninguém é constrangedor levar aperto de Rogério Marinho e Tarcísio Freitas que ele considera ministros de segundo escalão.
Então o resumo dessa segunda-feira é que o Guedes ganhou mais uma semana de vida. Mas a sofrência continua.
Tipo no final de O Elefante, o célebre poema de Drummond, “Amanhã recomeço”.
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