Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Enquanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, atrapalha e o vice-presidente Hamilton Mourão não consegue convencer a interlocutores internacionais de que o Brasil está querendo voltar a cuidar da questão do meio ambiente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, age e fala para quem, de fato, pode influenciar na mudança para um opinião mais favorável: o mercado financeiro.
Nesta terça-feira, discretamente. ele lançou, num fórum de gestores de fundos internacionais, o que sua equipe chamou de BC# Sustentabilidade.
Trata-se de um conjunto de metas, a nível do banco, que inclui estudos, análise de viabilidade e, em breve, a implantação de novas linhas para instituições financeiras, tendo como garantia operações ou títulos de crédito privado. E a inclusão de critérios de sustentabilidade para seleção de contrapartes na gestão das reservas internacionais para a seleção de investimento.
O palavreado técnico quer dizer que o Banco Central vai apoiar, entre outras ações, a securitização de crédito e a emissão de títulos verdes (“green bonds”). Além de aprovar a ampliação de até 20% nos limites das operações de crédito com características sustentáveis.
Isso na ponta quer dizer que usuários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), por exemplo, poderão ter até 40% mais recursos.
Isso pode atingir regiões que mesmo no agronegócio podem ter recursos para programas de restauração de áreas degradas, reflorestamento para proteger mananciais além das linhas normais dos programas de financiamento de safra.
Oficialmente, o BC está dizendo que está abrindo uma frente de apoio à cultura de sustentabilidade. E que isso inclui no campo da instituição, uma série de ações verdes.
Coisas como identificação dos elos da cadeia passíveis de otimização econômica, energética e ambienta, análise de impactos ambientais da produção, distribuição, recolhimento e saneamento e a programas de destinação integral dos resíduos para coprocessamento na produção de cimento, por exemplo. Nesse último caso, uma linha de crédito interessaria muito as cimenteiras.
Mas tem uma coisa que vai influenciar muito mais: O BC está entrando no Network for Greening the Financial System (NGFS) e para Climate Bonds Initiative (CBI) que são referência no setor financeiro sobre questões de clima e economia verde.
Isso vai lhe abrir canais de classe mundial para troca de experiências e melhores práticas de bancos centrais na seara socioambiental e melhoria de suas práticas na análise de dados e na mitigação dos riscos socioambientais no sistema financeiro internacional. Ou seja, o BC passa a fazer parte da rede de influenciadores financeiros mundiais.
Aqui no Brasil isso quer dizer que, a nível de Banco Central, o país passa a estruturação e ampliação da coleta de informações sobre riscos socioambientais, monitoramento de riscos climáticos e até testes de estresse incorporando a produção de cenários de riscos climáticos.
É como se o BC tivesse, de fato, passasse a usar suas estruturas para cuidar da questão ambiental alinhado com o atual discurso do mundo.
Internamente, o presidente do BC anunciou a criação do Bureau Verde do Crédito Rural, que incorpora critérios que identifiquem operações com características verdes e o estabelecimento de incentivos para o crédito rural verde com aumento de até 20% nos limites de contratação para operações do crédito rural que reúnam características de sustentabilidade.
Claro que isso depende de apoio dos bancos que, serão o agente dessas mudanças, mas do ponto de vista político, é um sinal muito mais forte que qualquer discurso de autoridades do governo Bolsonaro.
Na prática, o BC está dizendo que quer entrar com mecanismos financeiros para ações concretas e de monitoramento ambiental.
O que é ruim é que esse anúncio não venha acompanhado do apoio do vice-presidente Hamilton Mourão.
Na prática, o BC está fazendo mais pela imagem do Brasil que muitos ministérios porque está falando para o mercado financeiro que está disposto a ouvir tudo que o Brasil anunciar de ações concretas sobre a questão do meio ambiente desde que o interlocutor seja referenciado o que no caso do BC tem audiência.
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