Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Esqueça o arroz. Esqueça também essa promessa de arroz tailandês. Não vai chegar antes da Black Friday. E quando chegar não vai ter preço melhor do que o que se encontra nos supermercados. Siga a sugestão proposta pelo presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, de comer mais macarrão.
É verdade. Feijão preto com macarrão é um prato muito feio. Então, é melhor comer macarrão sem feijão preto. Se bem que macarrão com feijão preto não é ruim. Mas é feio.Deixa o arroz para o domingo.
Pode parecer absurdo, mas essa ideia do governo de importar arroz, chamar o pessoal do varejo para se explicar e pedir patriotismo lembra os Fiscais do Sarney.
Fiscais do Sarney, para quem tem menos de 30 anos, foi um grupo de pessoas iradas com o aumento de preços antes do real acabar com inflação que se meteu a fechar supermercado acusando a ponta da cadeia pelo aumento da inflação quando o supermercado era apenas o carteiro. Ou melhor, dar o recado.
Mas voltemos ao arroz.
O problema do preço do arroz é que a gente se esquece que ele é um commoditie - como aliás são a soja o milho, o algodão, etc. – e, portanto, cotado em dólar. Isso quer dizer o seguinte: sobe ou desce de acordo com as cotações internacionais.
E foi isso que aconteceu. De janeiro a agosto, o dólar passou de R$ 4,02 em 2 de agosto para R$ 5,99 em 31 de agosto. Subiu 39,04% e foi por isso que o cereal ficou proibitivo para compor a dupla preferida do brasileiro.
Então, é bom que o consumidor não culpar a China pela alta do arroz. Não foi a China. Aliás, o Brasil não produz arroz suficiente para abastecer a China feito faz com a soja.
Para se ter uma ideia do que é o arroz para a China. A demanda interna anual é 147 milhões de toneladas. O Brasil produz 11 milhões consome 10 milhões. Não dá para fazer um yakissoba per capita.
Quem mais comprou foi a Venezuela. Mas o Brasil está se firmando é para países com demanda menores.
Tem mais: no ano passado, o país exportou 1,434 milhão de toneladas e não tivemos problemas de preços no mercado interno. O Brasil tem se mantido entre os dez maiores exportadores do cereal - fora os países asiáticos – e só está abaixo dos Estados Unidos.
Ou seja, não é porque exportamos mais que o preço subiu. O problema é que sendo uma commoditie, o arroz é cotado em dólar. Ou seja, estamos pagando arroz com dólar a R$ 5,59 quando, em dezembro, pagávamos arroz com dólar de R$ 4,02.
Mas como tudo que é ruim pode piorar o presidente entendeu de entrar no circuito achando que pode mandar no mercado.
Não funciona e nunca funcionou em lugar nenhum. Mas a a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça entendeu de notificar, nesta quarta-feira, as empresas e associações cooperativas ligadas à produção, distribuição e venda de alimentos da cesta básica para questionar a alta nos preços dos produtos.
Pense numa providência errada. Não resolve e atrapalha porque passa a ideia de que o Governo liberal de Bolsonaro quer tabelar preço. Não está porque ele mesmo sabe que não funciona. Mas ai tem sempre alguém achando que pode.
Ontem, o ministro Paulo Guedes entrou no circuito. Mandou pedir informações sobre o monitoramento do governo e expôs a contrariedade da equipe do ministro da Economia com a forma como o processo de enfrentamento do problema de alta dos preços foi conduzido dentro do governo.
Nesta quinta-feira, o secretário nacional de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça, Juliana Domingues disse que não é bem assim, mas ficou a preocupação.
Então, o problema que era de mercado com os produtores de arroz aproveitando a cotação do dólar virou uma questão política por inabilidade do governo.
Ainda nesta quinta-feira o próprio presidente Bolsonaro disse que não está pensando e nunca pensou em tabelamento e que isso não funciona.
É bom que pense assim. A última coisa que a gente precisa é o surgimento dos fiscais de Bolsonaro.
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