Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Acredite. Os maiores capitalistas do mundo - inclusive a China de Xi Jinping - agora querem ser verdes. Não verdes de dólar americano, mas de economia sustentável, ecológica e preservacionista.
Virou moda. Numa espécie de reação aos movimentos de direita radical que começaram a varrer o mundo desconstruindo a série de avanços conquistados ao longo de décadas enfrentando conservadores.
Mesmos os chineses estão nessa vibe. Eles produzem hoje as maiores turbinas para usinas eólicas do mercado, produzem o maior volume de placas fotovoltaicas do mundo e explodiram a produção e venda de carros elétricos do mundo.
Eles ainda não entraram nessa de só comprar produto verde, até porque sabem que o mundo não tem, hoje, produção de comida orgânica suficiente para as 500 milhões pessoas que formam sua classe média e que está disposta a pagar o preço que for cobrado. Simplesmente não tem orgânico para tanto chinês.
Mas o movimento da economia verde é irreversível queira Donald Trump ou Jair Bolsonaro. E o movimento é na direção de financiamento de empresas que tenham essa tal pegada verde.
Esta semana saiu um relatório do Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH - uma agência alemã de cooperação internacional especializada em projetos de cooperação técnica e de desenvolvimento sustentável em escala mundial – intitulado “O Mercado Emergente de Finanças Verdes no Brasil” que vai nessa direção.
O objetivo trabalho é levantar o potencial de alavancagem de títulos verdes de renda fixa, desenhados para captar recursos para projetos com impacto ambiental positivo, mas também preocupado com papéis clamados greenwashing, isto é, produtos apresentados como sustentáveis apenas para fins de marketing.
É um negócio de potencial financeiro colossal. Numa avaliação preliminar, o documento encontrou US$ 1 trilhão, se somadas as emissões entre 2010 e 2019.
No Brasil, de 2016 a 2019, as captações internas somaram R$ 8,132 bilhões. Em 2019, ao menos 13 títulos verdes e um título social no mercado interno, somaram R$ 4,3 bilhões.
O documento chama a atenção para o fato de os títulos verdes emitidos em moeda local serem ofertados majoritariamente por empresas não financeiras, sendo que 76% delas atuam no setor de energias renováveis. O restante é de empresas dos ramos de papel, celulose e alimentos.
Do ponto de vista financeiro, os papéis não são muito diferentes de um título comum do mercado. Debêntures, Debêntures Incentivadas, CRI (lastreado em negócios imobiliários) e CRA (recebíveis de negócios entre produtores rurais). A diferença é que eles são de empresas com a chamada pega verde.
Em 2016, empresa CPFL Energias Renováveis tornou-se a primeira empresa da América do Sul a emitir um título verde certificado pelo Climate Bonds Standard Board. Era uma debênture tradicional no valor de R$ 200 milhões, rendimento de 126% do CDI e prazo de vencimento de 5 anos. Também em 2016, a empresa Suzano Papel & Celulose captou R$ 1 bilhão, com prazo de vencimento de cinco anos e rentabilidade de 96% do CDI.
Ano passado, a Burger King Brasil lançou o primeiro CRI verde do Brasil para captar R$ 18,6 milhões, com prazo de 12 anos e rentabilidade de 100% do CDI + 4,5% ao ano. O discurso foi o de comprar energia de usinas eólicas que vão fornecer energia elétrica limpa para mais de 60 unidades da rede.
Existem ainda projetos mais sofisticados como os ETFs (Exchange Traded Fund, em inglês), que investem em uma carteira de ações que busca replicar o desempenho de um determinado índice. Em março último, os ETFs tiveram captação líquida de R$ 9,3 bilhões, totalizando um patrimônio líquido de R$ 29,8 bilhões.
Apostando nisso a Bolsa de Valores do Brasil (B3) desenvolveu dois índices sustentáveis, que podem guiar a formatação de ETFs focados em questões socioambientais.
O projeto da GIZ alemã teve participação do Laboratório de Inovação Financeira (LAB) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que quer desenvolver produtos focados no discurso verde.
Parte disso vem ao encontro das posições firmadas pelo presidentes dos três maiores bancos brasileiros (Bradesco, Santander e Itaú) que criaram um Conselho Consultivo da Amazônia. Foco da ação: fortalecer o discurso ambiental.
Finalmente, o Banco Central do Brasil lançou esta semana o que chamou de agenda estratégica “BC# Sustentabilidade” cujo foco é a cultura de sustentabilidade, implementação de recomendações do Task Force on Climaterelated Financial Disclosures (TCFD) e a entrada do BC no Network for Greening the Financial System (NGFS) com objetivo de troca de experiências e melhores práticas de bancos centrais na seara socioambiental.
Como se pode observar são projeto que misturam dinheiro, investimento e economia com pegada verde. Pode não parecer, mas a proposta é mostrar preocupação com a questão do meio ambiente cujo a maior preocupação é a Amazônia, mas sem descuidar da rentabilidade do capital aplicado.
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