Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares envergonha o Brasil no Mapa da Fome Global

Para um país que se apresenta globalmente como um player de eficiência agronômica, não é aceitável ter 10,3 milhões de brasileiros com Insegurança Alimentar grave.

Fernando Castilho
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Publicado em 17/09/2020 às 23:55 | Atualizado em 17/09/2020 às 23:56
ANTONIO CRUZ/ABR
De Norte a Sul do brasil 10 produtos concentram mais de 45% do consumo alimentar e quando aumentam seus rendimentos as familias reduzem o consumo de arroze feijão. - FOTO: ANTONIO CRUZ/ABR
  • Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios

Ficou pronto o relatório da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, feita pelo IBGE, divulgado nesta quinta-feira.

E para uma país que é líder global na produção de alimentos e proteína animal saber que em 2018 ao menos 25,3 milhões de brasileiros estavam com algum grau de Insegurança Alimentar onde 3,1 milhões deles (4,6% dos lares) tinham IA grave é extremamente constrangedor.

Não é razoável que o mesmo país que supre a China e dezenas de países com soja, milho, frango, porco e boi não seja capaz de alimentar minimamente seus cidadão. Não se pode achar que não é um fato perturbador saber que 36,7% dos lares estavam com algum grau de dificuldades para se abastecer de comida.

Mas esse era o quadro de 2018 quando o IBGE mediu os indicadores e viu que tínhamos voltado à condição de 2004 quando tínhamos 6,9 dos lares na situação de Insegurança Alimentar grave.

Os dados da POF 2017/2018 revelam um extraordinário retrocesso social do Brasil porque significa que houve ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo, quando presentes, as crianças.

O IBGE estima que 7,7 milhões moradores em domicílios localizados na área urbana e 2,6 milhões na rural ou seja 10,3 milhões viviam em situação de Insegurança Alimentar grave numa população estimada em 207,1 milhões de habitantes.

Para um país que se apresenta globalmente como um player de eficiência agronômica capaz de gerar superávits de alimentos é uma frustração saber que perdemos todos os anos de avanços na redução desses indicadores que nos permitiram sair do Mapa da Fome.

Até 2016, após um redução iniciada em 2004, tinham chegado a 22,6 milhões de com algum tipo de Insegurança Alimentar. Foi o bom avanço pois em 2004 eram 34,9 milhões de domicílios nessa situação. Em 2018, voltamos a ter 36,7 milhões de lares nessa condição.

Insegurança Alimentar Grave é um eufemismo dos pesquisadores do IBGE e da Academia adotam para dizer que em 4,1 milhões de lares urbanos as famílias não conseguem comprar comida para se alimentar todos os dias. Na zona rural erra número chega a 7,1 milhões de lares. Como o número de lares no maio rural é muito menor que o urbanos isso que o campo de produz alimentos, passa fome.

Os números da POF apenas sobre a questão alimentar reforçam as desigualdades regionais. Nas regiões Norte (43,0%) e Nordeste (49,7%), menos da metade dos domicílios informaram ter uma condição de acesso pleno e regular aos alimentos.

Comparados com os resultados das demais regiões observa-se o fosso social. No Centro-Oeste, 64,8%, dos habitantes informaram ter uma condição de acesso pleno e regular aos alimentos. No Sudeste (68,8%) e no Sul (79,3%).

Nas regiões Norte (31,8%) e Nordeste (29,8%), a Insegurança Alimentar leve foi observada em cerca de 1/3 dos domicílios.

As desigualdades regionais de acesso aos alimentos, verificadas nas PNADs de 2004, 2009 e 2013, continuaram presentes na POF 2017-2018.

Os números da POF 201/2018 exigem uma reflexão sobre o fenômeno social vivido com a convid-19. Eles explicam por que estudos preliminares revelam uma redução no número de brasileiros na linha de pobreza extrema.

Faz sentido. Até esta quarta-feira, a Caixa Econômica tinha transferido R$ 197 bilhões a 67,2 milhões de brasileiros elegíveis ao programa de Auxílio Emergencial.

O país conseguiu processar pagamentos apenas para os inscritos no Programa Bolsa Família, 19,2 milhões de famílias. Outros 10,5 milhões de pessoas receberam o Auxílio Emergencial por serem inscritas no CadÚnico que o Governo não tinha antes da pandemia qualquer informação mais consistente sobre sua condição social.

Isso dá uma ideia do que o Auxílio Emergencial foi capaz de suprir, mas confirma uma condição de fragilidade que o Governo terá que enfrentar.

O Brasil vive uma tragédia de saúde na covid-19 dentro de uma tragédia social que o enfretamento financeiro expôs e que não poderá ser mais ignorada.

O mesmo país cujo agronegócio alimenta uma boa parte do mundo não é capaz de suprir alimentos para 25,3 milhões de seus 207,1 milhões de habitantes.

 

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