Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Para Estados Unidos, briga pelo 5G vai além do mercado

Para o embaixador Chapman a questão do 5G está ligada a respeito aos direitos civis, repressão a dissidentes políticos, de roubo de informações e desrespeito às patentes.

Fernando Castilho
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Fernando Castilho
Publicado em 21/09/2020 às 23:30 | Atualizado em 22/09/2020 às 7:05
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O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, visita Pernambuco e demais estados do Nordeste. - FOTO: DIVULGAÇÃO

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios 

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, tem um carinho especial pelo país. Quando criança morou no Rio de Janeiro e colecionou figurinhas de grandes craques de futebol e ouviu músicas de artistas como Ney Matogrosso, nos tempos do Secos & Molhados.

É particularmente fã de Rivelino, a quem considera um dos maiores jogadores de todos os tempos, e diz que se orgulha de ter torcido contra o Brasil apenas duas vezes. Uma contra o seu país e outra contra o Peru - quando era representante dos Estados Unidos naquele país. O Brasil venceu o jogo e ele diz que ficou satisfeito após a partida, além ter cumprido um gesto diplomático.

Mas Chapman é o representante de Donald Trump no Brasil e entre os diversos assuntos que defende a questão do 5G se tornou estratégica porque, segundo ele, não é apenas uma questão de mercado.

A questão do 5G opõe Estados Unidos e China em função das acusações americanas de que a Hauwei é uma companhia que não presta contas ao mercado e nem a seus clientes, mas sim ao governo do China.

Não estamos defendendo apenas um negócio de US$ 1 bilhão, afirma o embaixador, criando uma figura de linguagem. Aliás, as três empresas que oferecem o serviço 5G nem são americanas, lembra.

Estamos falando de Democracia, prossegue, de respeito aos direitos civis, e da repressão a dissidentes políticos, de roubo de informações e desrespeito à patentes, diz o embaixador.

Confrontado com a informação de que os Estados Unidos foram o grande parceiro da China em 40 anos e que foram os americanos quem transfeririam suas indústrias para a China, em função da mão de obra barata, Chapman reconhece o fato, mas afirma: Estamos dizendo basta! Queremos reciprocidade.

Ironia da tecnologia. Há 40 anos, Bill Clinton e o grande líder chinês depois de Mao Tsé Tung, Deng Chiao Ping, celebraram um mega acordo que permitiu a China receber milhares de fabricas e linhas de produção e gozar de benefícios que um salário baixo lhes assegurou ganhos extraordinários aos americanos. Foi quando o pequeno Deng cunhou a frase “Enriquecer é glorioso”.

O problema é que a disciplina chinesa, investimento pesado em educação e uma enorme vontade de ser um país estratégico no século XXI, fizeram os chineses deixarem de ser um bom parceiro para virar um feroz concorrente agora sob a liderança de Xi Jinping.

A acusação dos Estados Unidos, repetida por Chapman em suas conversas, é a de que a China com sua máquina estatal está usando a tecnologia 5G para bisbilhotar as vida de milhões de americanos, inclusive, suas empresas.

De fato, uma coisa é um país comprar uma tecnologia de gigantes como a sueca Ericsson, a finlandesa Nokia e coreana Samsung que tem ações em bolsa, são auditadas e tem contratos rígidos de patentes. Outra é comprar Huewei que não tem provadas todas as suas patentes nos Estados Unidos, mas que tem uma série de vantagens sobre as concorrentes.

Não se pode dizer que a tecnologia 5G chinesa não funciona. Funciona muito bem. Até porque foi a ferramenta da passagem China para uma tecnologia de serviços que praticamente aboliu o dinheiro físico e permitiu a consolidação de um mercado interno que sozinho já permitiu testar a performance em larga escala.

O embaixador americano no Brasil contesta essa vantagem tecnológica com argumentos políticos. Essa tecnologia permite a que o governo chinês possa controlar os clientes como já controla seus cidadão, diz o embaixador.

Os chineses parece que estão mais interessados em mostrar que o seu 5G é o melhor. Já os americanos que o seu 5G, ou melhor o 5G dos parceiros, é mais auditável.

Isso tem a ver com a questão de que 5G permite conectar tudo. Com acesso a dados pessoais tratáveis. Ela se conecta a tudo e pode rastear dados e informações sobre o usuário em tempo real cujo big data geral permite controle e tomada de decisões que fora de um país democrático significam controle político.

A disputa do 5G no Brasil virou uma questão de vida ou morte porque os americanos que não gostam da ideia de ver um Brasil dependente de um parceiro que eles (os americanos) já não confinam.

Tem mais: o mercado Brasil é extraordinariamente grande para não ser conquistado pelo modelo 5G nas empresas concorrentes da Huewei. Há claramente uma disputa que pode tornar o vencedor padrão global.
Entre os argumentos de pressão pelo seu 5G, os americanos lembram que tem US$ 115 bilhões investidos no Brasil. Os chineses US$ 27 bilhões.

E é por isso que eles chamam, entre outros adjetivos, o atual relacionamento Brasil Estados Unidos de “Momento de Ouro” de um aliado natural. E uma das missões de Todd Chapman é transformar isso em parcerias mais duradouras.

Ele acha que a covid-19 aproximou o Brasil dos Estados Unidos. E está disposto a construir mais pontes entre os diversos organismos americanos na área de saúde. E lembra que o CDC (Centro de Controle de Doenças) mante escritórios no Ministério da Saúde há anos.

O problema é que Bolsonaro é fã demais de Trump. E com Trump não se brinca. E muito menos numa corrida para a reeleição. Todos os argumento do embaixador e suas preocupações com a China no Brasil são validas.

Os americanos foram o primeiro país a reconhecer nossa independência, temos relações com eles há mais de 200 anos e sempre conversamos com muita dignidade. O problema talvez esteja nessa absurda necessidade do clã dos “Bolsonaros” em agradar ao presidente americano. Tão forte que até atrapalha.

Como a visita do secretario de Defesa Mike Pompeo. Visita de autoridades americanas ao Brasil é mais normal do que a gente imaginar. No Brasil, pouca gente lembra, moram 270 mil americanos. Mas o comportamento das autoridades brasileiras é tão inadequado que acaba criando ruídos inimagináveis.

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