Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Há um enorme equívoco sobre o potencial político do presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória em relação às vacinas para a covid-19. Os dois acreditam, por caminhos diferentes, que a ciência vai se submeter aos prazos eleitorais de modo a beneficiá-los.
Não vai. Nunca foi.
O tempo da pesquisa é próprio dela. Ela o define sem se importar muito com o calendário gregoriano e menos ainda com o calendário eleitoral. As vacinas vão ficar prontas no tem adequado ainda que se possa encurtar parte dos prazos. Daí porque é perda de tempo (político) e esforço de marketing tentar aproveitar o processo científico.
A pesquisa, ou melhor, os testes e os processo de desenvolvimento já desmoralizaram Donald Trump e colocaram uma enorme dúvida em Putin quando tentaram dar prazos.
Daí porque João Dória, com aquele jeito engomadinho e ternos de botões dourados, erra em querer tentar criar um fato político além do que já criou quando decidiu comprar o projeto da parceria entre Instituto Butantan e farmacêutica Sinovac Life Science, do grupo Sinovac Biotech.
Não dá para o governador de São Paulo achar que no prazo que lhe for melhor a vacina vai ficar pronta. Não vai porque precisa combinar com os cientistas internacionais que não vão se submeter a prazos dos políticos.
Da mesma forma que Bolsonaro erra quando por oposição a Dória diz que não vai obrigar ninguém a se vacinar. O presidente esquece que existe legislação que vacinação no Brasil é obrigatório.
Num cenário de confronto a Justiça poderia obrigar. Mas é preciso entender que o presidente está marcando uma posição. Se Doria dissesse que não obrigaria ninguém a se vacinar, Bolsonaro se posicionaria contra.
O Brasil é uma pais referência em vacinas, a população brasileira vai acorrer em massa aos postos no dia em que a primeira aparecer. Bolsonaro na verdade não está nem falando para seu grupo de radical porque os seus apoiadores estão entre os grupos de risco e vão estar na fila para receber a vacinação.
O ruim desse debate idiota é que quando o presidente diz que não vai obrigar ninguém a se vacinar acaba prestigiando não aos seus apoiadores, mas aos que são contra as vacinas. Até porque os filhos mais novos do presidentes estão com sua caderneta de vacinas em dia.
O problema de Dória é que ele acha poderia aproveitar a performance chinesa e entregar ainda em 2020 uma vacina. Apostou e perdeu. O próprio diretor do Instituto Butantã Dinas Covas não pode apressar anda.
Não depende dele pois o Brasil não tem gente no comitê independente. Então é bobagem o Dória achar que vai ter uma vacina em 2020 como é bobagem o presidente dizer que não vai obrigar ninguém a se vacinar.
Nem vai ter vacina pronta em 2020 porque ainda está faltando concluir os estudos da fase 3 da vacina da Sinovac Biotech e ninguém (salvo os negacionistas de vacinas) vai deixar de se vacinar porque não é obrigado. Vão e o problema é gerenciar o calendário.
Os dois esquecem que, depois de 150 mil mortos, os brasileiros estão dispostos a oferecer o braço para a primeira vacina que aparecer validada pela Anvisa. E importa pouco de onde elas virão. Seja da China, Rússia, Estados Unidos e Inglaterra.
Então é preciso colocar as coisa de uma perspectiva bem simples. Nem Dória tem qualquer poder sobre as datas em que a vacina vai ficar pronta e nem Bolsonaro tem poder de dizer quem deve se vacinar.
Agora que essa briga atrapalha, atrapalha, atrapalha. Porque expõe uma briga política no meio de falsas opiniões.
Os dois estão errados. E aqui para nós. Fora da Rússia, ninguém dentro dos laboratórios e muito menos os grupos de controle das avaliações estão preocupados se Dória quer uma vacina para poder chamar de sua. Nem se Bolsonaro não vai obrigar a que os brasileiros a se vacinarem.
Ainda bem.
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