Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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China e EUA brigam para definir qual celular 5G o consumidor brasileiro vai poder comprar

Os EUA ainda não têm a tecnologia e defendem seus parceiros alinhados politicamente: Samsung, Nokia e Ericsson. A 5G promete velocidades até 20 vezes superiores ao 4G.

Fernando Castilho
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Publicado em 21/10/2020 às 6:00 | Atualizado em 21/10/2020 às 12:15
NICOLAS ASFOURI/AFP
POLÍTICA INTERNACIONAL Os EUA têm pressionado vários países, entre eles o Brasil, a proibirem a Huawei no 5G - FOTO: NICOLAS ASFOURI/AFP

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios.

Afinal, vale a pena comprar um celular com tecnologia 5G embarcada, antes de o Brasil definir qual a tecnologia que vai adotar em substituição as plataformas de 3G e 4G que opera hoje?

Melhor esperar. Salvo se o consumidor deseja se exibir nas redes sociais e encontros virtuais para dizer que já tem um poderoso smartfone que pode rodar o que os chineses já usam há bastante tempo. Fora disso é melhor guardar o dinheiro porque 5G no Brasil só virar com muita boa vontade em 2022.

O problema é que no debate sobre qual será a nossa 5G, a tecnologia que mudará o patamar de comunicação de dados no futuro, é preciso colocar um fato. Os EUA ainda não têm a tecnologia e defendem seus parceiros alinhados politicamente: Samsung, Nokia e Ericsson. A 5G promete velocidades até 20 vezes superiores ao 4G.

O chineses, com sua Huawei, têm. A Tecnologia 5G já roda no país e apenas esse mercado já suficiente para ter uma ideia do que a nova tecnóloga pode fazer nas nossas vidas.

Mas é importante saber que assim como nem todos os japoneses são iguais, nem todos os chineses são ruins ou só sabem fazer cópias. Não é isso. A China, na prática, passou da 3G para 5G.

Como é uma economia planificada foi rápido mudar a tecnologia em poucos anos. E isso faz a diferença. Nas operações financeiras, com o uso QR Code praticamente eliminou o uso do papel moeda.

O Brasil tem a quinta maior rede de telefonia móvel do mundo e é natural que seja uma das principais peças de disputa entre essas potências

O que a gente no Ocidente chama de "Internet das Coisas" (IoT), os chineses já praticam em larga escala. O país adotou uma combinação de CR Code com 5G que serve para conectar tudo. Está anos na frente dos Estados Unidos.

Mas Estados Unidos e a China leem que a grande batalha mundial do 5G será travada no Brasil. O país tem 250 milhões de usuários intensos de dados (apenas na categoria pessoa física) e uma extensão continental.

O uso do 5G no Brasil será capaz de gerar um padrão global fora da China, como foi o VHS, na TV analógica, o MS-DOS na computação e o IPhone nos smartphones. Ganhar o 5G no Brasil é virar padrão.

Essa é uma guerra bilionária. Em junho, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, disse que o governo Trump já estavam discutindo como o Brasil teria acesso a um financiamento para a compra de equipamentos da Ericsson e Nokia para a infraestrutura de 5G. Então, o que aconteceu agora é a conclusão dessas conversas

O problema é que os americanos não investiram no 5G. Não existe uma empresa Made in USA que faça 5G. Eles não apostaram nisso. Até porque a 4G deles é muito boa.

Para as necessidades dos Estados Unidos a 4G serve por, pelos menos, mais cinco anos. Os americanos não querem esse negócio de celular de civil podem acessar banco de dados de operações militares. O problema do Brasil é que, nos EUA, a 4G funciona.

Todo o aparato militar e bélico dos Estado Unidos funciona muito bem e com segurança com 4G. E quando os chineses apareceram levando aquele conceito de Internet das Coisas ao estado da arte, os americanos não acreditaram.

Então, se contra fatos não há argumentos, os EUA partiram para fortalecer os argumentos para interpretar os fatos. E passaram a acusar a China de querer fazer espionagem com o 5G. Bom, espionagem a China já faz desde que tinha a 0G. Tudo na China acontece sob as ordens e olhos do Governo. E eles vão atrás de tudo que interessa ao país.

Isso explica a pressão (bem recebida, é importante dizer) dos americanos sobre o governo Bolsonaro, para que rechacem os chineses. Oferta de financiamento para infraestrutura, abertura de linhas de crédito do Eximbank após a escolha, desde que não seja a Huawei.

Isso vai funcionar?

É possível. Porque os EUA ameaçam retaliar. E isso passa a quilômetros do 5G. Aquele discurso dos americanos de que Nós acreditamos muito na soberania do Brasil. Essa é uma opção de vocês. Há muitos fornecedores de 5G fora dos Estados Unidos como o do presidente do conselho de administração do Banco de Exportação-Importação dos EUA, Kimberly Reed.

E isso inclui o Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (EximBank) oferecer investimentos de US$ 1 bilhão no Brasil. Inclusive US$ 345 milhões para reformas na usina de Angra 1 pela norte-americana Westinghouse.

As pessoas acham que os americanos impõem barreiras porque não querem importar. Os americanos exigem que quem vai vender para eles se adeque as notas técnicas deles. Não existe isso de se adaptar um produto ou um equipamento as normais do exportador. O que o exportador tem de fazer é fabricar de acordo com as normas americanas e pronto.

Mas tem uma coisa que os Estados Unidos sabem que pode pressionar o Brasil. Os programas de modernização tecnológica que os militares brasileiros têm todo o interesse.

Pouca gente sabe, mas os americanos têm um espetacular parque de equipamentos militares seminovos e descomissionados pelas Forças Armadas do EUA que oferecem a países amigos. E a preço quase de graça.

Qualquer país que tenha autorização do Governo americano pode ir às compras de um arsenal estacionado em lugares secos depois de terem sido substituídos pelos novos. Vai de avião a helicóptero. De tanques a sistemas de mísseis completos. Os preços chegam a ser até 15% do top de linha.

E como os americanos não tem guerra para usar todo esse arsenal, tem equipamento que foi usado poucas vezes. Recentemente, o Brasil recebeu carros de combate com 300 quilômetros rodados. Tem helicóptero com menos de 2.000 horas de voo.

O Exército brasileiro é um freguês tradicional desse do FMS (Foreign Military Sales). Há dois anos as Forças Armadas receberam uma doação (isso mesmo doação) do exército dos Estados Unidos de 96 blindados. Só que isso exige compromisso.

Então, a questão do 5G está longe de ser uma simples questão econômica. E nem é só ideológica. Em grande é de geopolítica militar. O 5G é só a desculpa de quem não tem produto competitivo, mas não quer perder negócios noutras áreas.

Então, a briga vai muito além do novo celular que o brasileiro vai ter.

 

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