Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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União briga com estados para distribuir vacinas que ainda não comprou

A compra e a distribuição de vacinas só passou a ser discutida por estados porque o Governo Federal não assumiu claramente suas responsabilidades.

Fernando Castilho
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Publicado em 09/12/2020 às 7:00 | Atualizado em 09/12/2020 às 7:48
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PRESSÃO Ministério da Saúde será cobrado sobre datas de entregas de novos lotes de vacinas para os estados - FOTO: DIVULGAÇÃO

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios do Jornal do Commercio 

Sejamos justos. O Governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem demonstrado, nesses quase dois anos, uma extraordinária capacidade de produzir crises. Inclusive, em assuntos sobre os quais há consenso internacional. E o caso da covid-19 nos transformou num exemplo de classe mundial sobre como não fazer.

Do início, em março, quando o presidente negou seus impactos na nossa população à recessiva, agora em dezembro, quando produz um embate sobre a distribuição de vacinas.

Em todos, rigorosamente em todos os países, a questão da escolha, compra e distribuição de vacinas – especialmente para o coronavírus - é um assunto dos governos centrais. Não há nenhum debate sobre a intervenção de estados ou províncias tratando com laboratórios ou centros de pesquisas sobre processo de compra de vacinas.

Mas no Brasil, por absoluta incapacidade do Ministério da Saúde, a aquisição de imunizantes virou assunto dos chamados entes subnacionais que passaram a tratar diretamente com laboratórios sobre protocolos de compra e, mais recentemente, formular políticas de distribuição. São Paulo com a China e o Paraná com a Rússia.

É importante ter presente que distribuição de vacinas no Brasil também é atribuição da União. E o assunto só passou a ser discutido por estados porque o Governo Federal não assumiu claramente suas responsabilidades e abriu espaço para os estados sem envolverem.

Chegou ao ponto de um deles, o Maranhão, pedir no Supremo Tribunal Federal autorização para negociar, comprar e distribuir vacinas mandando a conta para o governo federal.

Ontem, no Palácio do Planalto, portanto, na sede do governo brasileiro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, precisou afirmar que compete ao governo a definição de um plano de imunização e que "não podemos dividir o Brasil". Não pode mesmo. E o que não faz o menor sentido é estados se responsabilizarem por compra e distribuição de vacinas.

Mas é preciso lembrar que quem abriu essa possibilidade foi o ministro quando acertou que a União distribuiria a vacina adquirida pelo Governo de São Paulo e, no dia seguinte, voltou atras num dos episódios mais constrangedores que o país viu pela televisão em horário nobre.

Naquele dia, convalescendo de covid-19 e ao lado do presidente Jair Bolsonaro, o general Pazuello resumiu à frase "é simples assim: um manda e o outro obedece", sua atuação na pasta. O Brasil nunca tinha assistido um gesto desse tipo perpetrado por um general do Exército no comando de um cargo civil.

O problema é que esse comportamento fortaleceu o governador de São Paulo, João Dória, a quem Pazuello tinha assegurado, numa reunião com os demais governadores, a compra das vacinas já contratada como o laboratório chinês Sinovac, a seguir uma trajetória de ações que de certa forma emparedaram a Anvisa esta semana, quando o governador fixou até mesmo uma data para o início da aplicação.

Governador não distribui vacina. Mas quem abriu a possibilidade foi o próprio presidente da República quando mandou o general Pazuello voltar a atrás, classificou a vacina chinesas como comunista e ainda comemorou nas suas redes sociais quando um paciente que tomara um placebo se suicidou.

O presidente sequer atentou para o fato de que a AstraZeneca fechou um acordo com a farmacêutica chinesa Shenzhen Kangtai Biological Products para que esta possa produzir sua vacina experimental contra a covid-19. Portanto, foi o presidente quem elegeu o governador de São Paulo como inimigo num assunto que sequer deveria tratar politicamente.

O problema é que a vacina que Jair Bolsonaro “escolheu” não ficou pronta. O Brasil tem um protocolo com a AstraZênica, em parceria com a Universidade de Oxford, para a compra de um pacote de vacinas. Entretanto, o laboratório ainda não conseguiu fechar a pesquisa como, aparentemente, o laboratório chines Sinovac está conseguindo.

De certa forma, parece claro que enquanto a chinesa parceira do Governo de São Paulo já entregou os primeiros lotes da sua vacina, o AstraZênica deverá retardar suas entregas.

Mas essa não é a questão central em relação ao Brasil. O equívoco do Governo brasileiro foi não abrir negociação com todos os potenciais fabricantes, assegurar a compra e por consequência a distribuição.

Hoje, importa menos anunciar que tem um protocolo de distribuição - como fez o ministro ontem - porque, na prática, ele só poderá distribuir - nos próximos dias - a vacina da Sinovac em parceria com o Instituto Butantã. Não tem na prateleira a vacina da AstraZênica para oferecer.

É preciso insistir. Distribuir vacina é atribuição da União. Portanto, o que o general Pazuello afirma agora com veemência é um obviedade sem consequência prática.

O governador de São Paulo, não tem o direito de, como o presidente Jair Bolsonaro, de politizar a questão. E quando anuncia uma data de início de vacinação constrange os seus colegas governadores e abre a perspectiva absurda de incentivar turismo vacinal. Com isso, ele se nivelou a Jair Bolsonaro em estultices. O único problema desse falso embate é a perda de tempo.

Se o Brasil só começar a vacinar sua população nos próximos 100 dias, quando o ministro “que obedece”, programa iniciar a distribuição, podemos estimar com base na média desta segunda-feira, que teremos contado, no dia 18 de março de 2021, mais 58.800 mil mortes e 2.624.300 infectados, atingindo a marca de 235.762 mortes em 9.227.242 casos de infectados. Uma nova tragédia de classe mundial.

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